segunda-feira, 25 de julho de 2016

Uma Lebre com Olhos cor de Âmbar…



Há dias a minha amiga Magui falou-me deste livro que nunca li: “A lebre com olhos cor de âmbar”. Já o título me deixou encantada! "Uma lebre com estes olhos deve ser linda", pensei. 
Gosto das lebres! As lebres são animais com grande leveza, elegância e força ao mesmo tempo. Têm uma rapidez especial, na forma como correm. 

Como esquecer a lebre que para mim ficou famosa? Aquela que Thomas Mann descreve no seu extraordinário livro, “O Cão e o Dono”… A lebre que foge, que se esconde, que espreita, que desafia, que tem medo, ao ponto de fazer com que o escritor-caçador desista  de a caçar!

Fui espreitar quem era este autor do livro da lebre com olhos de âmbar. Chama-se Edmund de Waal e é um conhecido artista ceramista britânico.



A família materna de Waal veio para a Europa, a partir de Odessa. O avô chamava-se Ephraim e eram judeus vindos da Grécia que asseguravam o comércio do trigo, em Odessa. 
Palácio Ephrussi, em Viena

Eram os maiores exportadores de trigo, no Império Russo. (A verdade é que os Gregos desde muito cedo tiveram colónias na Rússia, em Odessa por exemplo, mas em redor de todo o mar Negro).


Em 1871, Charles Ephrussi chega a Paris. Autodidacta, e muito rico, Ephrussi entra nos salões literários, relaciona-se com pintores e homens de letras. Interessa-se pelo Impressionismo. 

Conhece Degas, Manet a quem encomenda obras, compra quadros e faz de mecenas. Foi editor da Gazette des Beaux-Arts. Foi o proprietário dum célebre quadro de Renoir onde o pintor o representa, ao fundo do quadro, como um 'marchand' de pintura.

Renoir, Déjeuner avec les canotiers

Renoir,  (pormenor com Ephrussi) Le Déjeuner

Marcel Proust ter-se-à inspirado na figura dele para o seu Swann de "À la recherche du temps perdu".


Edmund de Waal

Nesses anos, em Paris, desenvolvera-se o interesse pela arte japonesas: pelos objectos de laca vermelha, por gravuras e por pequenas estatuetas realizadas em matérias preciosas, chamadas netsukes, figurinhas muito expressivas, trabalho minucioso e realista. E Ephrussi começa a fazer uma colecção que vai chegar a mais de duzentas peças.
Degradação de Alfred Dreyfus

“Até que, em 1894, o caso Dreyfus fez com que a França se dividisse entre ‘dreyfusards’ e ‘anti-dreyfusards’ fazendo surgir cortes radicais entre amigos, criando separações familiares, fins de relações antigas, numa guerra aberta aos judeus. Sendo Ephrussi judeu, muitos se afastam dele. Para Charles, mundano parisiense de adopção, Paris mudara, sente-se ofendido.  Desinteressa-se pela colecção japonesa que acaba oferecida a um primo, Viktor Waal, como prenda de casamento". (wikipedia)

Mais tarde, a colecção vai parar a Inglaterra, 'herança insólita', como lhe chama Edmund de Waal. 

Porque Viktor Waal (de origem holandesa) era o pai de Edmund.
Jan Syberechts, View from the East (1695)
Edmundo de Waal nasceu em Nothingham no dia 10 de Setembro de 1964. Professor de Cerâmica na Universidade de Westminster o seu descendente, Edmundo Waal, é, também, um famoso ceramista (oleiro?) com objectos de grande simplicidade e sobriedade. 

Edmund de Waal, Victoria and Albert Museum
Quando recebeu em herança um grupo muito grande de pequenas estatuetas em madeira e marfim, “netsukes”, pertencentes à família. 

E Waal teve vontade de perceber mais sobre a vida da sua família. 
Escreve: “Posso passar o resto da vida a contar histórias sobre esta insólita herança dum velho parente, muito querido, ou ir à procura do seu significado”.
O significado da herança da colecção que Charles Ephrussi fora criando ao longo da vida. 
Quero chegar à porta, girar a maçaneta e senti-la abrir-se. Quero entrar em cada sala onde este objecto viveu, sentir o volume do espaço, ver os quadros das paredes, saber como se projectava a luz pelas janelas. Quero saber por que mãos este ‘netsuke’ passou, e o que pensavam dele".

O 'netsuke' de que fala é a lebre com olhos de âmbar, a peça preferida de Charles Ephrussi.
'netsukes' da colecção Ephrussi
E começou, assim, a história. O livro é publicado em 2010 e recebeu até hoje vários prémios, entre eles o Costa Award em 2010. 
E é a da história da família que vai falar, através 'da lebre com olhos de âmbar'.
Podem começar a ler sobre o livro e sobre o autor... Livro que espero ler em breve! 
Vou ver se o encontro e depois conto mais coisas quando o ler...

8 comentários:

  1. Muito interessante. As peças são lindíssimas e gostei de conhecer a história da família e do livro.
    Tudo belo e bem contado como é costume.
    Beijinho. :))

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  2. Deve ser bem interessante, esse livro. Vou ver, também, se o descubro.

    Aquela colecção de figurinhas devia ter peças bem giras!

    Lembro-me da lebre do livro do Thomas Mann:)

    Um beijinho grande e obrigada por mais um post tão interessante!

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  3. Fui googlar o livro, está à venda na wook.pt, mas a capa do livro não é tão bonita como a que a aparece aqui
    um beijinho

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    1. Esta deve ser brasileira, Gábi...Obrigada pela visita! bjs

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  4. Gostei muito e fiquei também com muita vontade de ler... Existem tantos escritores desconhecidos e que escrevem tão bem, com o coração nas mãos! Esses é que me interessam, os escritores "que nos tocam e picam", como diz Kafka... Bjs ! Obrigada ! m.

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  5. Foi uma delícia ler o seu texto e participar na busca da origem
    da coleção de artesanato oriental...
    Porém o que mais me agradou, foram as peças de porcelana,,,
    É sempre um prazer ler os seus textos, MJ, pelo que, lamento
    muito ter andado afastada, por razões alheias à minha vontade.
    ~~~ Beijinhos ~~~

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  6. É a primeira vez que passo por aqui e gostei bastante de ler o texto "Uma Lebre com olhos de âmbar" e também fiquei com uma enorme curiosidade em ler o livro. E ao conhecer a história do autor e da sua profissão veio-me à memória o filme de Otar Iosseliani, "Os Favoritos da Lua", em que acompanhamos a viagem através do tempo de um belo serviço de porcelana.

    PS - Não descobri no blogue a opção de seguir, mas irei passando por aqui.
    Bom fim-de-semana

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  7. Muito interessante a história e as peças são belas. Certamente o livro é igualmente interessante.

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