quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Dois poemas de Bettine Margalit Amir

1976-Linguage
Quem é esta poetisa? Bettine Margalit nasceu no Líbano, em Beirute, e vai para Israel em 1950. Começa a escrever poesia em 1957 e publica na revista Sheket em 1959 os primeiros poemas. Em 163 licencia-se em Literatura Francesa e Filosofia, na Universidade Bar-Illan de Ramat Gan. 
De 1963 a 1964, estuda na Academia de Artes e Pintura e Escultura, em Telavive,  dirigida pelo pintor Professor Margoushilsky. 
Em 1964, vai trabalhar para Paris com o pintor Frédéric Delanglade. Em 1966, recebe o Diplome d’Honneur da Grande Biennale International de Vichy. 

Em 1970, algumas obras suas estão presentes na Exposição “Terre Latine”, no Museu de Arte Moderna de Paris.
Em 1969, casara com o poeta e escritor e tradutor Aharon Amir (*), muito respeitado em Israel e que, em 2003, ganhou o conceituado Prémio Israel.
De 1976 a 1985, Bettine Margalit Amir ensinou Terapia pela Arte, na Clínica de Saúde Mental do Hospital Carmel,  em Ramat Hen, no Departamento de Psiquiatria de Haïfa.  
Fora convidada pelo Ministério da Saúde para realizar “workshops” profissionais para instrutores em Psiquiatria e Geriartria, no Hospital Tel Ha-Shomer de Tel Aviv.
Ao longo destes anos tem continuado a pintar, e tem publicado contos e poesias em vários jornais e revistas literárias. 
Em 2014, realizou uma Exposição de pintura na Galeria Shapir, em Telavive.
Foi em Telavive que tive o gosto de conhecer esta figura. Uma mulher bela, inteligente e culta que falava com simplicidade. Foi através do poeta Amir que a conhecemos. 
Aharon Amir

De facto, Aharon Amir além de escrever os seus livros, dedicava-se a traduzir, para o hebraico, escritores de várias línguas entre as quais o português e o espanhol. Era considerado um tradutor-escritor, com uma linguagem cuidada e adequada.
Depois, conhecemos Bettine. Recordo uma maravilhosa tarde de Primavera de 1999 em que fomos assistir à inauguração de uma exposição sua, de pintura, na Galeria Beit Gavriel, em Tiberíades, no lago Tiberíades. A exposição intitulava-se "Ciclos do Outono".

O lago Tiberíades a que os israelitas chamam “Kinneret” e se traduz como “violino”. Fica no Vale do Jordão. E, de facto, o lago tem o feitio de um violino! 



Nessa altura não conhecia a sua poesia, apenas a sua pintura e foi com prazer que, através da internet, pude ler alguns poemas seus. Tentei traduzi-los o melhor que pude (do francês!)sabendo, porém, quão difícil é traduzir e -sobretudo- traduzir poesia. 
Emocionou-me o poema "Sobre a linguagem" que dedicou ao marido, que morreu, em 2008.
Lembro que o escritor Boris Pasternak -grande tradutor- dizia que não se deve nunca traduzir "à letra": o que importa é dar, noutra língua, o que o poeta quis comunicar na sua. 
Está em preparação o terceiro volume de poesias de Bettine Amir.
Sobre a Linguagem

“…Não digas nada
Vem perto de mim
Dá-me a tua mão
Não fales
Fecha os olhos
Ouve este canto feliz
Que sobe…
Segue a sua estrada
A voz que te chama
Com todas as suas cordas
Se une:
Amo-te.”

* * *
Sinfonia de uma tarde de Outono

“Numa noite de Outono,
Como por encanto,
A estrela do pastor
Vem deitar-se no meu piano.
Por instantes,
Presa de vertigem,
Caio no vazio.
Um ar fresco
Acariciava-me o rosto, os ombros,
Pouco a pouco ganhava forma
E desenhava por cima de nuvens
Palavras,
Palavras jorravam como faíscas.
Teriam um sentido,
Uma mensagem
Uma razão de ser?
O que se passou?
Estremeço ainda,
ontem e hoje,
com as noites de Outono
de perfumes embriagantes de magnólias.”


 * * *
NOTE (*) Aharon Amir nasceu na Lituânia em 1923 e morre em 2008 em Tzifrin, com um cancro. 
Em 1933 vai com a família para a Palestina sob o Mandato Britânico e cresce em Telavive. Estuda Língua e Literatura árabe na Universidade Hebraica de Jerusalém. Traduziu mais de 300 livros para hebraico desde os clássicos franceses e ingleses. 
Traduz Melville, Dickens, Camus, Conrad e Hemingway, Steinbeck, Virginia Woolf, Poe e Emily Bronte - entre muitos outros. Até o general De Gaulle e Winston Churchill!
Fundou e dirigiu a revista "Keshet". Foi conhecido também em Israel pela canção popular do cantor Meir Ariel que citava a sua tradução de Ilhas na Corrente de Hemingway.

                                 www.bettineamir.com

3 comentários:

  1. Vale sempre a pena passar por aqui:)
    Obrigado por partilhar estes belos poemas e nos oferecer novos olhares de outras paragens e outros autores, sempre tão pouco divulgados.
    Boa Tarde!

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  2. Gostei muito dos poemas... lembrei-me de José Régio
    ao defender a obra de Florbela Espanca, afirmou que
    era uma «poesia com vida».
    Grata pelos excelentes momentos de leitura.
    Dias agradáveis e muito felizes.
    ~~~ Beijinhos, MJ ~~~

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    1. Obrigada pelas suas palavras, Majo. De facto, têm que se defender os poetas "com vida": Um beijinho

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