sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

TRIESTE EM DIA DE BORA E A FARMÁCIA "AL CORSO"


Como fui descobrir  esta farmácia na Via del Corso? Já vos contei a minha queda em Trieste, num dia em que soprava a “bora” - ‘bora’ fraca mas, mesmo assim, perigosa. 
Uma certa manhã, decidi ir ver a bora, no Golfo de Trieste, onde abre a Piazza dell’ Unità
Caí, por culpa desse vento ciclónico e para nós desconhecido, que pode girar na cidade a 200 kms à hora, ou até mais.
Lembro que, logo de manhã, o mar estava cheio de carneirinhos. Vi-os da janela do quarto.
vista com mar calmo 



(Quem não se recorda de ouvir chamar "carneirinhos" às ondas do mar, batidas pelo vento, que parecem empurrar para a praia tufos de lã branca?)
Um ano antes, tinha visto sombrinhas a voarem, imagens de pessoas a serem arrastadas, leves como uma pena, sem poderem parar até se agarrarem –quase por milagre- a um poste, a uma porta, a uma coluna até que a “bora” deixe de soprar. Como esse vento sopra em rajadas, acabava por parar a dada altura e as pessoas escapavam ou escondiam-se nas lojas, cafés ou onde calhava.
Na manhã a que me refiro, eu, imprevidente e teimosa, resolvi  atravessar a estrada marginal para ver de perto o mar e tirar fotografias. Subitamente, senti-me empurrada para cima de uns arbustos que me ampararam e resolvi voltar para trás.
mar em dia de bora (foto internet)

Mas o vento soprava agora em sentido contrário, bateu-me nas costas e atirou-me ao chão. 
Caí desamparada e nem sei como não bati com a cara. Tive sorte! Mas bati com um joelho e feri-me.
Com o Manuel a puxar-me por um braço e o joelho a deitar sangue lá me levantei, arrastando a perna.
Só então tive consciência da minha estupidez e teimosia : estava lindo o mar visto da janela mas não devia atrever-me a vê-lo de perto. 
Era domingo e era difícil encontrar uma farmácia aberta. Fomos subindo pela Via del Corso até descobrir a Farmacia Al Corso, metida num recanto da grande avenida, quase escondida pelos andaimes de uma casa em obras.
Farmacia Al Corso
Descoberta maravilhosa! Era uma farmácia pequena e muito antiga. Datava do tempo de Napoleão! Escondida num recanto da grande avenida  pelos andaimes dum prédio em obras – revelou-se uma descoberta maravilhosa.
Expostos em vitrinas pequenas viam-se vasos e frascos de vidro grosso amarelo, como aqueles que ainda hoje se descobrem nas farmácias da província. 
Era um pequeno tesouro, detrás de uma  porta vulgar, envidraçada.
O director da farmácia, o Dottore Barich, explicou-nos tudo, mostrou os vasos antigos e frascos de porcelana pintada em tons de azul e amarelo e o documento que atestava a antiguidade da farmácia, documento do tempo de Napoleão.
E foi numa dessas vitrinas que encontrei as primeiras aspirinas, alemãs, do século XIX, da Bayer. Uma das maiores invenções para mim...

1 comentário:

  1. Cara Maria, ciao!
    Fui ao youtube apreciar as rajadas da bora e depois ao google, pesquisar a Farmacia Al Corso. Vi fotos e cheguei ao site, foi uma alegria para esta tarde, tão quente e desconfortável.
    Um beijinho!

    ResponderEliminar