Manuel Bandeira nasce no Recife, Pernambuco, em 19 de Abril de 1886 e morre no Rio de Janeiro em 13 de Outubro de 1968.
Iniciou os estudos no Recife. Com 10 anos a família muda-se para o Rio de Janeiro e conclui o curso secundário. Em 1903, entra em Arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo, mas interrompe porque adoece com tuberculose.
a estátua do Poeta hoje no Recife
Dez anos mais tarde, ainda doente, procura tratamento na Suíça onde permanece de 1913 a 1914. Num ano cura-se.Volta ao Brasil e começa uma vida de professor. Mais tarde vai ensinar Literatura na Universidade.
Em 1940, o poeta Manuel Bandeira é eleito para a Academia Brasileira de Letras. Desde 1943, foi professor de Literatura Hispano-Americana na faculdade de Filosofia.
Poeta, escritor, crítico de arte e historiador da Literatura, Manuel Bandeira fez parte da primeira geração modernista do Brasil.
Participou na famosa
Semana da Arte Moderna realizada em São Paulo entre os dias 13 e 18 de Fevereiro de 1922. Nesse ano festejavam-se
os cem anos da independência do Brasil e a Primeira Guerra tinha acabado há pouco.
A Semana da Arte Moderna foi um acontecimento importantíssimo que abalou os cânones da
Arte no mundo, reuniu apresentações variadas de música e dança, recitais de
poemas, exposições de obras de pintura e escultura e também diversas palestras sobre assuntos ligados à Arte.
Defendiam a ausência de formalismo; rompiam com o academicismo e o tradicionalismo; criticavam o modelo parnasiano. Ao falar de vanguardas europeias lembro o futurismo, o dadaísmo, o cubismo, o surrealismo e o expressionismo.
Manuel Bandeira é considerado como parte da geração do Modernismo no Brasil, ao
lado de muitos outros. Os
seus temas
são do mais variado passando pelo pessimismo, o erotismo e a morte.
Oswald de Andrade
Oswald de Andrade (1890-1954), o mais velho dos participantes, é um dos promotores da Semana, com Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Manuel de Andrade e Gilberto Freyre – todos eles escritores excelentes que se distinguiram no Brasil - e fora do Brasil - pelas suas obras.
"Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra...”
Este movimento inovador vai inspirar Manuel Bandeira e leva-o a usar o verso livre, a defender a língua coloquial, a ir pela irreverência e pela liberdade criadora.
José Régio, na sua casa de Portalegre
Escrevia José Régio há muitos anos: “A maior parte dos pretensos poetas de hoje carecem quase totalmente de íntima transcendente ingenuidade. Por isso não são poetas.”
E ainda: “A
ingenuidade a despeito de toda a sabedoria do artista (ou do artífice) é outro
elemento que me parece característico de toda a obra de criação.”
Deixo alguns poemas de Manuel Bandeira que admiro, que é um daqueles poetas que “em breves e simplíssimos versos, nos trazem um perfume, um momento, uma saudade, um desgosto” e nos atingem muito fundo na alma, seja lá a alma o que for.
E esta é a poesia autêntica. Sentida, vinda dos fundos do tempo, vivida nas entranhas, própria e de cada um.
Tinha razão José Régio - que amava a poesia de Manuel Bandeira – quando dizia: “A maior parte dos pretensos poetas de hoje carecem quase totalmente de íntima transcendente ingenuidade. Por isso não são poetas.”
Lúcido, continuava: “Leio hoje tantos escritores – ou apenas folheio os livros - que sinto vazios, e sem ‘alma’. E quantos outros, em breves e simplíssimos versos, nos trazem um perfume, um momento, uma saudade, um desgosto que logo nos atingem fundo.”
O que Régio diz é actual - quer no que diz respeito a poetas como a romancistas porque, para ser autêntico, um poeta ou um romancista tem de “afundar raízes nas entranhas” - só assim “provoca profundas ressonâncias no leitor”.
Espaço Pasárgada e busto de Manuel Bandeira
Os artistas verdadeiros "trazem-nos um perfume, um momento, uma saudade, um desgosto que logo nos atingem fundo.” Manuel Bandeira é um poeta autêntico, provoca 'ressonâncias' profundas naqueles que o lêem. Basta ler o final do poema, 'Evocação do Recife'.
"A vida tem uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa do meu avô."
(1925)
Vou deixar apenas alguns
poemas que falam do quotidiano da vida e das pessoas simples. Como por exemplo o
poema em que fala do seu primeiro amor, e outros.
Porquinho-da-Índia
“Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-Índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prà sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
- O meu porquinho-da-Índia
foi a minha primeira namorada.” (pg.169)
E o que pensar da simplicidade dolorosa e trágica do poema “Bicho”? Ouçam:
“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.”
(Rio, 1947)
Ou, por que não, a liberdade do pensamento apesar de tudo?“Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se nos céus há o lento
Deslizar da noite?
Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se lá fora o vento
É um canto na noite?
Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se agora, ao relento,
Cheira a flor da noite?
Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se o meu pensamento
É livre na noite?” (pg.112)
Fecho com o maravilhoso e dolente ‘Trem de ferro’. Quem não ouve e não sente ainda o cheiro e não lembra o velho comboio da nossa infância?
“Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça,
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô…
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
(...)
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente…”
(1) Páginas do Diário Íntimo, dia 3 de Dezembro de 1964, Obra Completa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2ª edição, pg.361
(2) Poesias de Manuel Bandeira, Portugália, Poetas de Hoje, 1968
https://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Semana_de_Arte_Moderna
http://www.releituras.com/mbandeira_bio.asp
https://www.todamateria.com.br/semana-de-arte-moderna/
Gostei muito de ler.
ResponderEliminarBeijinhos:))
Obrigada, Isabel, minha fiel leitora! Muitos beijinhos. Aparece por cá um dia...
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