domingo, 18 de junho de 2023

Lembrar Glenda Jackson, grande actriz inglesa

                                 Elisabeth I, a Rainha Virgem

Quero lembrar Glenda Jackson (1)a actriz que me  deslumbrava em cada filme. As imagens que guardo são sobretudo a figura da Rainha protestante, Elisabeth I, ela, num papel difícil que onde se revela uma grande actriz.

Esta série da BBC “Elisabeth R” (1971), foi um sucesso no mundo. Vi-a nos anos 1972 quando passou em Portugal.

Glenda Jackson dominava-se e tudo sacrificava pela sua arte e pelo seu papel. Lembro-me da testa infinita da Rainha Elisabeth I, a Virgem – e, como Glenda, para respeitar a semelhança com a personagem, rapou parte do cabelo.

Vai ter também muito sucesso agora no filme Mary Stuart, Rainha da Escócia” (1971)- no papel de Elisabeth I -  ao lado da grande actriz britânica, Vanessa Redgrave - esta no papel de Rainha Mary, a Católica.

Glenda Jackson e Vanessa Redgrave, durante as filmagens
(cortesia de gettyimages)
 Outra imagem de Glenda Jackson (cortesia de gettyimages)

Depois também se distinguiu no Teatro, numa comédia, com o realizador Peter Brooke.

Em "Mulheres apaixonadas", de Ken Russel

Dos seus primeiros papéis recordo o filme de Ken Russel de 1971 “Mulheres apaixonadas”, em que interpreta a figura de Gudrun Brangwen, escultora - figura do romance homónimo de D. H.Lawrence (1910).  Em 1970, participara já noutro filme de Russel, desempenhando o papel da mulher de Tchaikovsky, em “Delírios de Amor” (The Music Lovers).

Em 1973, Melvin Frank aproveita o grande valor da Actriz em “Um toque de Classe”, com George Segal.

 

 Foi duas vezes vencedora de Óscares da Melhor Actriz e, em 1978, foi 'Comendadora da Ordem Britânica'.

Desempenhou igualmente um papel de relevo na política britânica. Em 1992, abandonou a carreira de actriz para se dedicar à política. 

Foi eleita deputada pelo Partido Trabalhista, no distrito eleitoral de Hampstead, Highgate e Camden - zona de Cultura e território do Labour.
Bairro de Hampstead, Londres

Em 1997, foi escolhida pelo primeiro-ministro britânico, Tony Bair, para Ministra dos Transportes e, em 2010, foi reeleita deputada por Hampstead e Kinburn.

Festival de Cannes, 1976

Que dizer mais? Era muito bonita, inteligente, trabalhava muito a sério, tinha muita classe e por isso merecia respeito. 

 (1) Glenda Jackson nasceu em Birkenhead em 9 de Maio de 1936 e morreu em Londres em 15 de Junho de 2023


sábado, 10 de junho de 2023

A pintora triestina Loredana Riavini, Outono em Trieste, 2019

Pouco sei da biografia desta pintora, Loredana Riavina. Sei apenas que é triestina e que fez o curso de pintura no Istituto Statale d’Arte di Trieste.

Começa a fazer exposições nos anos 60. A partir daí participa em várias  “mostras” - pessoais e colectivas -  pela Itália mas também na Eslovénia, Croácia, Áustria mas, sobretudo em Veneza e Trieste.

Trieste, olhar sobre a Piazza (foto M.J.F.)

A curta nota biográfica no Catálogo da Exposição que vi em Trieste  - O silêncio das coisas simples - refere que teria feito uma exposição, em 2017, num Café histórico de Trieste, o Caffè Stella Polare, frequentado por artistas e escritores triestinos e outros.

Local onde há muitos anos com o Manuel - talvez em 1989 - e apresentado pelo Professor de Literatura e escritor Claudio Magris - encontrámos uma figura extraordinária, o escritor e histórico de Trieste Giorgio Voghera.

Creio que foi através desse conhecimento que se manteve sempre viva a minha curiosidade por Trieste, cidade de cultura mittel-europeia, rica de origens judaicas e austro-húngaras. 

 

Em Trieste viveu Svevo e também o seu professor de inglês, James Joyce, fugido da Irlanda e vivendo por aqueles lados durante uns anos.

 

Italo Svevo - pseudónimo de Ettore Schmidt- era um judeu austríaco, Carlo e Gianni Stuparich – também de origem judaica - e um número infinito de nomes como o do poeta Umberto Saba considerado um dos maiores poetas italianos.

 Umberto Saba e Gianni Stuparich 

Hoje quero falar da pintora cuja exposição vimos por mero acaso nesse Outono em Trieste. Estávamos a passar umas férias no Outono de 2019 na cidade tranquila à beira do Golfo de Trieste. 
 
"Piazza del’Unità d'Italia" (foto M.J.F.)
 
 Passando como era inevitável, pela magnífica Piazza del’Unità, aberta sobre o golfo (*) reparámos na inauguração de uma exposição, na Sala Comunale d’ Arte.
 
perto da Sala Comunale d’ Arte (foto M.J.F.)

Tratava-se de Loredana Riavini, uma pintora para nós completamente desconhecida. A apresentação fora feita por Marianna Accerboni, figura central de organizadora destas exposições pelo norte de Itália. 

Nascida em Veneza onde estudou, Marianna Accerboni é arquitecta, cenógrafa e crítica de arte e apresenta muitas vezes “mostras” de carácter artístico - organizadas não só em Itália (Veneza, Florença ou Roma) como também na Bélgica, Reino Unido, Croácia, Montenegro e Áustria.  

A exposição intitulava-se “O silêncio das coisas simples”. É Marianna Accerboni que escreve estas palavras sobre a pintura de Loredana Riavini:

Um sentimento delicado, sustentado por um contra-luz intenso e equilibrado, caracterizam a pintura de Riavini, pintora triestina, capaz de evocar num modo poético e vivaz o passado – para contar o presente e o futuro." 

Confronto alguns dos quadros e a passagem do tempo e das estações delineia-se suavemente.

Confronto alguns dos quadros e a passagem do tempo e das estações delineia-se suavemente: "Alegria no Inverno", "Alegria ao sol". É como se sentíssemos perpassar o vento e ouvíssemos, no silêncio absoluto, caírem as folhas secas. Enquanto uma chuvada ligeira surge na beleza da cor viva da parede da casa, pintada na cor "rosso veneziano".
"Chovia"

 
"Luzes e sombras"

Ou as maçãs que parecem esperar na janela que alguém as leve, sem pressa, silenciosamente. Mais adiante, noutra parede, vemos as cores do Outono e a melancolia parece atravessar-nos num ligeiro frio - "Silêncio antigo" ou "Alegria de Outono".

 

"O tempo narrado por Loredana nos seus quadros é um elemento fluido que reflecte hábitos, modos e modas de ontem – através do amor pelos elementos que enfeitam os lugares, os objectos essenciais usados pelas gentes do campo."

 
"A cozinha da avó"

"Reflexos"

Recordações, reflexos no espelho na rua ou as cores suaves do "Amanhecer".
 
"Amanhecer"
"Casas de camponeses, espaços vitais, pormenores de utensílios e de atmosferas que, de testemunha discreta e gentil de vidas passadas nesses lugares, ela liberta.”

 Como o sossego de "A espera" ou de "Um canto no coração", no perfume da alfazema sugerido apenas.

Sim, encantou-me essa escolha da leveza e do silêncio por parte da artista, prendeu-me a cor e a ligeireza das formas como se um vento de saudade, eterno, de repente cobrisse tudo.

 
"Natureza curiosa"

As janelas com cortinas flutuantes, abertas ou fechadas, em sombras e luzes e claros-escuros, comunicam essa ligeireza e a maravilha das coisas simples contempladas no silêncio.
 
A Piazza dell'Unità em Trieste (foto M.J.F.)

Quando saímos da exposição a noite caíra sobre Trieste e a atmosfera enchera-se neblina e de silêncio. Voltávamos devagar para o Hotel da Via Diaz. Inesquecível Trieste com o seu céu nocturno azul cobalto.

 
 Tectos de Trieste

 Piazza dell' Unità d'Italia (foto M.J.F.)

  (*)A Piazza, aberta sobre o Golfo, terá sido inspirada na nossa Praça do Comércio. Dá-nos a mesma sensação de abertura sobre o azul do céu e do mar com as escadas que descem sobre as água.

http://www.loredanariavini.it/