Hoje foi dia do Natal e ontem a mágica noite para as crianças que esperam sempre uma surpresa. Por isso quis falar hoje sobre uma história para crianças que foi parar a São Tomé!
Tantas coisas que aconteceram antes disso. Prometi há tempos contar a história de uma tartaruga que quis imitar a bolotinha que, num dia de grande ventania, cai do carvalho onde vivia no chão. E por ali fica sem saber o que vai fazer.
Quando caiu, ainda pensou voltar a subir mas depressa percebe que não pode voltar atrás: “Como posso subir à árvore se não tenho asas?”
Essa história foi escrita por Américo Rodrigues e já falei dela aqui no blogue há uns tempos. O livro chama-se “Pfafummmmmfumfum, a Bolota do Barroquinho” e tem uns desenhos muito poéticos de Gyora Gal Glupczynski.
Curiosa, a bolota começou a olhar em volta. Não conhecia nada se não a sua árvore mas lá de cima vira muitas coisas. Não se assustou e decidiu ir conhecer a vida, os bichos e as plantas e tudo o que a rodeava. E começou a rebolar por ali abaixo.Ia encontrando pelo caminho coisas e seres desconhecidos que lhe causavam imensa curiosidade. Formigas! Gatos! Ouricinhos!
Parar? O que fazer? Decidiu seguir em frente! E coisas estranhas começam a acontecer, coisas desconhecidas e como a bolota queria saber aprender tudo continuou a deixar-se rebolar, sempre a olhar.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHgG4fL-ni1X59QQH74eXdbR-5DAvkRiq3tQQGzve0R1nQqaN1q25bFNANhKdF-cRbQpTq84DlVaJNXhQ_hq0CLwoG5lJxvy-InJsO8NsNaw7XPrNe7iu8euNBkq3hjYStee8mj9lv1OctKoDSwMjpy-aZKOeMSTKVWc_QcIegP9uTmWC5ZOvjpXpNj-6p/s320/Am%C3%A9rico%20Rodrigues%20e%20Bolotinha%20lince_n.jpg)
No fundo a vida avança pela curiosidade e pelo sonho, acho eu, sejam homens ou sejam bichos. Como a tal “bola colorida que salta corre e avança nos pés de uma criança” - e de que falou um certo poeta.
Esta era pois a história de Américo Rodrigues. A vida continua sempre e a história também continuou! Os meses passaram e continuaram a acontecer coisas. Porque se nós quisermos as coisas acontecem! Se ficarmos parados não acontece nada.
A vida continuou e a ideia deste livro seguiu até São Tomé e Príncipe. Porque o Américo - e a Isabel Mota que é são-tomense - assim o decidiram. A Isabel nascera lá, veio para Portugal ainda bebé e só voltou com o pai a São Tomé já com 18 anos.
Com filhos grandes hoje, decidiu ser altura de voltar à terra natal e mostrá-la aos filhos.
E foram passar todos – eles e o Américo - umas férias juntos. Não posso imaginar o que a minha amiga Isabel terá sentido, não consigo mesmo!
Eu conheço São Tomé, a beleza da ilha, das montanhas, da floresta virgem, chamada “obó”, lá nos picos altos, e quantas vezes encoberta pelo nevoeiro cerrado.
O
que pode sentir uma pessoa que só viera uma vez e muito jovem à sua terra? O que pode recordar?
A
Isabel é muito minha amiga como eu sou dela. Contou-me, emocionada quase às
lágrimas, que foram “sentires” muito complexos. De choque e de espanto pela
intensidade: das cores, dos cheiros, da beleza e diferença das flores,
das comidas, da fruta infindável, dos gostos tão diferentes!
E acrescento eu pela minha memória: “a leve ondulação a água do mar, quase parada, na Baía de Ana de Chaves. A baía de sonho com os barcos poisados sobra as águas quase imóveis, nas suas cores suaves.” E quando, de repente, "explode o vermelho rubro do pôr-do-sol de São Tomé. E a acácia rubra com flores cores de rubi onde ia com o Manuel ver esse cair da tarde.”
Como o tal sonho existe e comanda a vida, o Américo teve um convite para contar a história da nossa ‘bolotinha’ numa escola de crianças em São Tomé.
Foi na zona da Madalena, no jardim de infância “Baú dos Sonhos”. As crianças receberam-no com alegria - e o sonho continuou, fez-se vivo - porque o sonho é também contagioso!
Sentados todos em roda no chão, as crianças ouviram a história e riram. Mas muitas coisas não percebiam. O que era uma bolotinha? E os pássaros que o Américo referia? O que eram perdizes?
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS8TmzcRhx2ZxIFdsumYweidyLGKap2F1OWjeYPhndReMiLM_mjlZrjInq01FpuZjuXxMhPZFs10avdlSkh96Rc2OxDg_KIUHqzzT-JKdQscrSZoriY8lhY5kpHR8cc02WTg6cgcTYXGrHNuD0T21dTTIWTsDc9_QFK-7gJ7F3gOmc6l5UXnZliZL49ULs/s320/S%C3%A3o%20Tom%C3%A9%20e%20Truqui%20Prinia-molleri.jpg)
Eles conheciam outros pássaros na Ilha: os truqui sum deçu, “os passarinhos do senhor Deus” que agitavam a longa cauda fazendo um ruído que pareciam estalinhos!;
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5g2wRx9J_Lqvw7Q3OCakJRj0Sg0TTXAxx5Gl5AjJpqG_J8MrNldryE8rNEbSZS1xxzQ0GRx2DUvvc8YF1hru2ce_w2_pzoYpHnOWXxi0W1ZSrkEmvpfzK4DQ0j4ZcEazCb-otS8KiU7wzuO7J63xtfgf-ti_oOap9jd_AvPVnH03I5IOz4of3jMnweL15/s320/S%C3%A3o%20Tom%C3%A9%20p%C3%A1ssaros%20com%20ninho.jpg)
Tudo isso preocupou o Américo Rodrigues e a Isabel. Depois das férias, ao voltarem a Portugal, havia uma certa inquietação.
O Américo continuou a pensar na visita à escola e no que se poderia ter feito - ou fazer - mais. O Américo Rodrigues é um poeta e, lá por dentro dele, continuou a magicar em tudo e a tentar resolver o problema.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH_bduzFrl-N8IS1iJrQhVzxZKjodnfAsSJRxzPml2A-uNTyi3Nficg7NOhWoO7m8lRoZoVnCFNN4Maq7UX4rJ_4kzpNHlVAEDbe04cQAamPCJ3PIBSuN9VW8tnkAO0xfv7c6mJfTUTjHL13qTNQcKQzrum05dvS9i9THs6fcoHDzjR0XEEu0XGl-Y7ih4/w369-h277/Ilh%C3%A9u%20port%C3%A1til%20apresenta%C3%A7%C3%A3o%20eu%20e%20Hallyna%20l%C3%A1%20ao%20fundo_n.jpg)
A verdade é que acabou a escrever outra história, agora passada agora na realidade são-tomense: de modo a
que as crianças pudessem entender tudo. E o livro foi apresentado em Novembro no belo espaço da Biblioteca dos Coruchéus!
E assim apareceu outro livro. Passa-se em São Tomé e a personagem da história vai ser um bichinho são-tomense muito comum na ilha: a tartaruga.
O novo livro chama-se: “Até breve, Toti!” E vai ter uma ambição muito importante: vai ser bilingue: português-forro (ou "santome" - como também se chama, na ilha).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_vwdgXyrlWkHALllvmKBXa56XnXRDdCGwoSrawNJHzXA54M1gkQfcuUfFhMjDchyI4oaRJLfr5LVSXu3DQ7g4kPPB_GHz5gJHKIAu2jgFbw7Pul4vRNmnlRmlxjqnMXkqtvPePYV6KG3Jy7kJlUXB-ttgcYD3IWUF6TJHDEQxmwJ2tjmKay2dHr1lv9pc/w314-h418/At%C3%A9%20%C3%A0%20vista%20Toti%20livros%20meus%20desenhos%20osvaldo%20Reis._n.jpg)
O verdadeiro título será nas duas línguas: “Antê óla bilá, Toti! Até breve, Toti!”
A tartaruga faz parte da vida em São Tomé: durante séculos a tartaruga fez parte da alimentação da ilha, com outros seres marinhos: o peixe bonito, o peixe vermelho ou o tubarão pequeno.
Havia pouca carne e no mar havia as proteínas possíveis - o que realmente mais faltava na ilha. Faziam-se trabalhos artísticos de grande beleza.
Agora a tartaruga é protegida.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKVx255X-7WXdb9WAadvb7ugmV_KNYeUIlvi2XPzrMCp3kiLwwy2aMtzj3Ao84xUNpFXpqD0lWBPwAsNa8Rz3DYDGhSG3Qf7x7vkutDUoq6vzH-dtcusyhLRlrWtc7K7RwUfkQ_6Tx7K4YkAqKD1hDgrEG6gsXweF4Bn3FCpqxfLgh9i7HQvBIMw1OMieY/w395-h231/S%C3%A3o%20Tom%C3%A9%20Osvaldo%20Reis%20Toti%20e%20desova%20tartarugas%20n.jpg)
E correm, minúsculas, a toda a velocidade para o mar para não serem apanhadas por predadores. O pintor são-tomense Osvaldo Reis, ilustrador do livro, consegue dar essa corrida rápida e quase sentimos a ansiedade das pequenas tartarugas!
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaoR98ST67LWeB5q8UpAVbK4aXlKAt3phENsvehL3QuLVlFxlkjQF6xUCiSbwaJj6mU9unGqZWhRHLXO_3Bdz5PdD_q_JaOeYx_uIMOApbd5yvNDrfSZxGA_bwo_A-zdXCItibFqRTaKMjlfExByXnywSLcpfqstmfATbfmHY3XKzdOmOpnD9s2GuL-PGt/s320/S%C3%A3o%20Tom%C3%A9%20Am%C3%A9rico%20Rodrigues%20livro%20At%C3%A9%20%C3%A0%20vista%20Toti_n.jpg)
Bem, agora não conto mais. Mas vão descobrir os que lerem o livro (2) como a vida pode ter um sentido. O mundo pode ser bom e há sempre uma possibilidade de alguém ajudar alguém:
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW1x0MCW41hqrTUumBv-ki5Bw-c0hRkDV5sJQDzRFO2RC0PIfdWctWM4FW9Q2Ck-YFqFK6SRf0mDaBp-IVxrtzr3tj9I4Dp5TQQGfYa7z2Fq_uYnsxSfFwbsIn3fuHxVMHxNoazHIkueDrUY-cdEJY2Y5Sttg3UOLUPvHieQ4gBhV8XHAKUPjRxHJEmFB0/s320/S%C3%A3o%20Tom%C3%A9%20Osvaldo%20Reis%20Toti%20e%20o%20amigo%20n.jpg)
Porque há sempre uma mão (ou uma patinha) à espera de outra mão...ou de outra patinha!
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVbGWG4zLbEc2hdpYa5GaR4gOoGySGwREYZIIIeTgYBbn-xqXfUjo6HaO6POvMSvEk4ReKhrgfIyLBVnpxcOnIeHai2SldoaJax6sqXPSyNwNwK-_mhxlXFw72k5QE2xJQxJHqtqhkXZ-jbVLLpDFUUccmyR6W7GaXtmvkvIwaT96qfyMfWjrJZ4kNuW6P/w382-h287/S%C3%A3o%20Tom%C3%A9%20e%20o%20livro%20de%20Am%C3%A9rico%20at%C3%A9%20%C3%A0%20vista%20numa%20escola%20_n.jpg)
Osvaldo Reis em São Tomé há dias a ler o livro numa escola
* * *
(1) o primeiro livro de Américo Rodrigues, intitulado “Pfafummmmmfumfum, a Bolota do Barroquinho”, foi publicado em 2023, editora “EDIÇÕES ESGOTADAS”.
(2) Este novo livro foi publicado em Portugal pela Bosq-íman:os/Ilhéu Portátil, 2024. Para tal foi criada a Associação Cultural Ilhéu Portátil. A edição foi paga só por voluntários que deram as quantias que puderam para que este projecto fosse possível. O livro tem ainda a particularidade de ser bilingue, português-forro (também chamado ‘santome’).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR1VvvogoT3GO2A2qaAS3uCH8NTMKji7A6ewoPLh9Z2F3NF6z_x92CSd1hjAJGi2p-k8ztPgd03F_adMD09nXkLjEmolmyws3Er7nJog4sIZ3w1lj1v12aGC74T3cqynw5uvA3AjocRLQBGCJ7VcF7feu6sHWIO772j9oi_6ffnStjgjoI3bh118SF_Hj3/s320/Am%C3%A9rico%20e%20At%C3%A9%20%C3%A0%20vista%20Toti%20Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20Biblioteca%20Coruch%C3%A9us%20._n.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ4S3NFCzhkLPqnd1K4IxHC5IKOyXxv93dQ9LuSUL7YiOon__JcVkDGvLRXaT4ByrE87JodmmtfJpHCP3ctO9wqczxFogVljOJEKeKhDLvJQZrZnSRL92jr9CmXl0ljcOVZaWnyzXGkPdj3zKrTjggeK7ldyZGyzuYONxEB-P9c5aOlXXlN-56WVRRwYG3/s320/Am%C3%A9rico%20Rodrigues%20livro%20apresenta%C3%A7%C3%A3o%20At%C3%A9%20%C3%A0%20vista%20Tot_n.jpg)
O livro foi apresentado no dia 30 de Novembro na "Biblioteca dos Coruchéus", em Lisboa.
(3) Com uma edição de 250 livros, a
maior parte da edição está já a ser distribuída grátis em 120 “jardins de
infância” de São Tomé. Muitos já chegaram às escolas e os outros continuarão a ser
enviados por todos os meios possíveis.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVQ3BHY0kWbrap4Sr5CCJ-qhW2O3rmk-avrZ4uwiHSMvyUkUZmlGwALSdR6RMT9az_697H7cMNN6DBqaCg2Q2EMyM_HQcG_aWjv4-g8RlmcI1ha3dpU5czZBG-kQeV3m7V8j7pfS6G7U2wV39kwDNA8100Jf_iZZhiiWuIbpxbYFACqrpNduESXwxRDwLi/w379-h211/S%C3%A3o%20Tom%C3%A9%20Osvaldo%20Reis%20Toti%20e%20o%20mar%20n.jpg)
https://falcaodejade.blogspot.com/2023/05/a-bolota-do-barroquinho-um-livro-de.html