Hoje
lembro Giani Stuparich e o pintor Vittorio Bolaffio. No livro “Trieste nei miei
ricordi” (*), Giani Stuparich escreve:
Quem
eram estas duas figuras de Trieste?
Giovanni
Domenico Stuparich, conhecido por Giani Stuparich, nasceu em Trieste, em 4 de Abril de 1891, e morreu em Roma em
1961. Escritor, ensaísta, escreveu sobre Trieste. Escreveu contos. Era irmão de Carlo Stuparich, que morreu cedo, na
Guerra de 1914-18, também escritor. Na Guerra morre também o amigo Scipio Slataper -outra figura das letras da cidade.
Carlo Stuparich
Scipio Slataper
Trieste
pertencia então ao Império Austro-Húngaro. Giani e Carlo vão estudar para
Praga. Inscritos nessa Universidade, transferem-se anos depois para a Universidade
de Florença com o amigo Scipio Slataper.
Universidade de Florença
Quando
a Guerra rebenta, vão alistar-se os três no batalhão dos Granadiere di
Sardegna. Partem juntos -os dois irmãos e Scipio Slataper. Este morre cedo, em
1915, na Batalha do Carso.
Carlo Stuparich morre em 1916: suicida-se, em Maio de 1916, para não cair nas mãos dos austríacos.
Giani Stuparich é feito prisioneiro e passa por vários campos de concentração austríacos. Mais tarde, pertencerá aos partigiani, a resistência italiana.
Carlo e Giani Stuparich, na frente
Carlo Stuparich morre em 1916: suicida-se, em Maio de 1916, para não cair nas mãos dos austríacos.
Carlo Stuparich
Giani Stuparich é feito prisioneiro e passa por vários campos de concentração austríacos. Mais tarde, pertencerá aos partigiani, a resistência italiana.
'Partigiani', na Piazza San Marco, 1945
"As três amigas": Elody é a da direita
Só
em 1918 volta a Trieste. Em 1919, casa com Elody Oblath que conhecera em 1914. Elody pertencia a um grupo de amigas que se relacionaram muito jovens com os Stuparich e com Slataper. Slataper que teve uma correspondência epistolar com as três.
Como a vida é sempre mais complicada do que se julga, em 1944, Giani com a mãe Gisella e com Elody são presos, por serem judeus, na Risiera di San Saba, mas conseguem sobreviver.
Como a vida é sempre mais complicada do que se julga, em 1944, Giani com a mãe Gisella e com Elody são presos, por serem judeus, na Risiera di San Saba, mas conseguem sobreviver.
Risiera di San Saba
Vittorio Bolaffio
Por sua vez, Vittorio
Bolaffio nasceu em 3 Junho de 1883, em Gorizia, numa família judaica. Estuda
pintura em Trieste. Em 1910, está em Paris onde encontra Modigliani – que já
conhecera em Florença- e deixa-se influenciar um pouco por ele. Interessa-se muito pela pintura de Seurat, Matisse e Cézanne.
Em 1912, está de novo em Trieste. Sugestionado, talvez, por Gauguin, realiza uma viagem ao Oriente.
Em 1912, está de novo em Trieste. Sugestionado, talvez, por Gauguin, realiza uma viagem ao Oriente.
Embarca como fogueiro, num
barco e chega à Índia. Da viagem traz apontamentos da vida local, cenas de
porto (Botheghe cinesi a Bombay
1912).
Sequiosas de silêncio, as suas obras representam uma série de pequenas obras-primas onde se encontra uma possível leitura ‘macchiaiola’.” (…) ‘La Primavera e le rondine’, ou ‘Il ritorno del gregge’ têm uma atmosfera de contemporaneidade.”
Regressa. Entretanto rebenta a Guerra e vai para a frente como tantos outros conterrâneos. Sabe-se que, no entanto, foi incapaz de disparar um tiro, porque para ele a vida era demasiado sagrada.
"Soldado a tocar violino", datado de 1914
O "Retrato do soldado a tocar violino" mostra um soldado simples, talvez um camponês, de barrete caído para trás, ainda muito jovem, sem se ver nele qualquer relação com a guerra que estava vivendo. Como Bolaffio, afinal.
La cinesina
Grande retratista (‘La cinesina’, por exemplo), pinta retratos muito expressivos e penetrantes
do ponto de vista psicológico.
retrato de Bettiza
Pinta os amigos Bettiza, pintor como ele, e o poeta Umberto Saba, em 1921. Os retratos da mãe e do pai têm uma grande expressividade. O retrato do amigo Umberto Saba foi o único retrato que Saba considerou próximo de si.
retrato do poeta Umberto Saba
Retrato da Mãe
Vittorio Bolaffio, Retrato do Pai
Depois, começa a pintar painéis horizontais “em que se vêem nessas
composições grupos de pessoas cheios de vida, enquanto uma ou outra se isola
num canto, como se fora do quadro estivessem. Um olhar humano, um significado
simbólico…” (escreve o crítico Silvio Benco, 1948).
Vittorio
Bolaffio é, segundo alguns críticos, o único pintor da Venezia Giulia com um
interesse verdadeiramente europeu – mas pouco valorizado no seu tempo.
Quanto a mim, confesso que achei invulgarmente 'fortes' os seus esboços, os sketches, desenhados onde calhava, cheios de movimento, de elegância nas figuras femininas, de vida.
Quanto a mim, confesso que achei invulgarmente 'fortes' os seus esboços, os sketches, desenhados onde calhava, cheios de movimento, de elegância nas figuras femininas, de vida.
Jovem mulher à janela
capa do livro sobre Botraffio
“A partida”, “Cenas marítimas”, que tive o
prazer de ver no Museo Civico Revoltella
de Trieste, de que já falei.
Tencionava continuar essas composições em painéis mas, em 1931, morre de tuberculose.
Tencionava continuar essas composições em painéis mas, em 1931, morre de tuberculose.
Em
1947, em Trieste, na Galleria S. Giusto, é-lhe dedicada uma retrospectiva -com o
pintor Marussig –cuja apresentação é feita por Giani Stuparich.
Em 1948,
finalmente, é-lhe dedicada uma retrospectiva na XXIV Biennale di Venezia,
apresentada por Silvio Benco.
Piero Marussig, Donne al Caffè
Trieste vista do alto de S. Giusto
Assim,
nessa retrospectiva, o nome de Stuparich fica ligado ao do amigo Bolaffio. É
inesgotável a Cultura de Trieste! Continuarei a vir falar do pouco que sei dela…
(*)
“Trieste nei miei ricordi”, Editori Reuniti, pg. 82
(*
*) Bobi era o escritor Bob Bazlen (Robert Bazlen nascido em Trieste em 10 Junho
de 1902, morre em Milão em 27 de Julho de 1965)
Aprofundando no "teu" Bolaffio, encontrei um blog interessante que não sei se conheces, de nome Discover Trieste. É sem dúvida uma cidade muito rica culturalmente, não me estranha que te fascine.
ResponderEliminarEu aqui com os meus pintores "de brocha gorda", como se diz aqui...
Vou já espreitar o blogue. Obrigada e coragem com as pinturas 'grossas'!|
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