A solidão do Judeu (encontrado num campo)
Ao tempo de hoje
também. E de que maneira - com as extremas-direitas a ressurgirem por toda
a Europa em Partidos neo-nazis descomplexados!
Em Paris, no sábado passado, o filósofo de origem judaica Alain Finkelkraut, da Académie de France, foi verbalmente agredido, insultado por alguns manifestantes do grupo dos "gilets-jaunes" que se manifestavam por outras coisas. Mas ver um judeu ali tão perto, "mesmo à mão", um "sionista", "um porco sionista" deu-lhes vontade de exprimir o ódio.
Como ele contou ao “Journal du Dimanche”:
“Senti na minha frente o ódio absoluto. E, infelizmente, já não é a primeira vez que o sinto. (...) Fui atacado de modo muito violento pelos manifestantes e se a polícia não interviesse creio que muitos deles queriam partir-me a cara.”
Como ele contou ao “Journal du Dimanche”:
“Senti na minha frente o ódio absoluto. E, infelizmente, já não é a primeira vez que o sinto. (...) Fui atacado de modo muito violento pelos manifestantes e se a polícia não interviesse creio que muitos deles queriam partir-me a cara.”
Como explicar este ódio milenário? Como renasce de vez em quando das cinzas, como a Fénix da Mitologia? Por que se esconde por detrás de desculpas como: "eu não odeio os judeus, mas sim os sionistas" - o que não se não outra forma de anti-semitismos, mas camuflada.
A solidez do nevoeiro do futurista Russolo e os túmulos profanados
Para confirmar o que afirmo, ouvi ontem num programa da Arte/TV, franco-alemã, que, em França, no ano 2018, as manifestações ou escritas anti-semitas, ou a destruição de túmulos, ou TAG de frases que lembram o nazismo, afixadas nas sinagogas, nas lojas de judeus aumentaram de 76%.
O túmulo do jovem judeu Ilan Halimi que há catorze anos foi raptado, torturado e assassinado em Paris por um 'gang' fascista e anti-semita , que se chamavam a si próprios 'le gang des barbares' foi ultrajado e a árvore sobre a campa arrancada.
O túmulo do jovem judeu Ilan Halimi que há catorze anos foi raptado, torturado e assassinado em Paris por um 'gang' fascista e anti-semita , que se chamavam a si próprios 'le gang des barbares' foi ultrajado e a árvore sobre a campa arrancada.
A própria imagem de Simone Veil apareceu pintada com cruzes suásticas...
***
Barbara Coleman DuBois
A frase é de Yitzhak Tabenkin - citada pelo jornalista Ari Shavit, no livro “La mia terra promessa”.
De facto, em 1943, quando os campos de concentração e extermínio já existiam e ninguém falava deles, escrevia Tabenkin:
“Sentimos uma enorme solidão (…). Quantos judeus irão sobreviver? Nenhuma garantia temos de que os nazis os não destruam, os exterminem completamente." E acrescenta: "Mas a consciência da nossa solidão é o conhecimento de que o mundo nos é adverso, inimigo sempre – e esta certeza é mais amarga ainda do que o resto.”
E continua a ser verdade. Em 1940, Paris é ocupada. Em Março de 1942, o campo de Auschwitz torna-se 'operativo': entra o primeiro comboio de judeus franceses, vindos de Paris : iniciara-se o Holocausto.
Nesse ano de 1942, são assassinados dois milhões e setecentos judeus.
De facto, em 1943, quando os campos de concentração e extermínio já existiam e ninguém falava deles, escrevia Tabenkin:
“Sentimos uma enorme solidão (…). Quantos judeus irão sobreviver? Nenhuma garantia temos de que os nazis os não destruam, os exterminem completamente." E acrescenta: "Mas a consciência da nossa solidão é o conhecimento de que o mundo nos é adverso, inimigo sempre – e esta certeza é mais amarga ainda do que o resto.”
Paris ocupada
E continua a ser verdade. Em 1940, Paris é ocupada. Em Março de 1942, o campo de Auschwitz torna-se 'operativo': entra o primeiro comboio de judeus franceses, vindos de Paris : iniciara-se o Holocausto.
Nesse ano de 1942, são assassinados dois milhões e setecentos judeus.
***
Os jovens pioneiros -rapazes e raparigas- dormem exaustos nas tendas brancas - e sabem que não há para eles outro
refúgio, nenhuma sombra onde repousar, nenhuma árvore detrás da qual possam
esconder-se.
Criam
uma enfermaria para as primeiras vítimas da malária, onde tratam judeus e árabes; constroem uma cantina comum; um
forno - e têm uma biblioteca provisória. Tudo é precário. Cada dia é uma conquista sobre a morte.
Depois
do Verão escaldante, vem o Inverno e as enchentes que destroem as primeiras culturas, as tendas e
tudo o que tinham conseguido conquistar. Recomeçam do princípio.
"Vindos
de um mundo que os rejeitara, deixando para trás um mar de mortos, chegam a este lugar
alheio, agreste, desolado e seco, morto – que querem transformar no seu lugar.”
o Lago Kinneret ou Tiberíades
A
terra “rejeita-os” também. A pressão e o trabalho são tremendos. O esforço para
trabalhar a terra é brutal. Desanimam, descrêem. Muitos suicidam-se. E sentem que o mundo continua a rejeitá-los.
A solidão do judeu é imensa!
A solidão do judeu é imensa!
“Adaptar-se”
ao ambiente, abandonar-se, significava morrer. Para viver, pelo contrário, teriam de preservar
o seu próprio “ambiente” interno: a força interior, a vontade férrea: o único meio de sobreviver
era resistir.
Mulheres e homens lutam contra a natureza adversa, sem saber que em breve lutariam com as armas para se defenderem.
Mulheres e homens lutam contra a natureza adversa, sem saber que em breve lutariam com as armas para se defenderem.
“As contradições de um país em guerra para a
sobrevivência” - é este o subtítulo do livro de Ari Shavit. Sim, muitas são as contradições neste país.
Numa
revista, Time Out in Tel Aviv, leio sobre Telavive: “O
que faz esta cidade tão especial é o facto de ser aberta, uma sociedade
pluralista – caracterizada pela vitalidade, pela criatividade infinita e pela
aceitação do outro.”
Quem
fala é Ron Huldai nessa altura Presidente da Câmara de Telavive.
E continua: “Nasci no kibbutz Hulda, os meus pais eram dos primeiros fundadores do kibbutz. E, para mostrarem a importância desse lugar,
deram-me o nome de Huldai.”
Telavive é uma cidade única por vários
motivos. Um deles foi o seu próprio nascimento. Leio:
“Em Abril de 1909, 66 famílias chegaram
juntas às dunas perto do mar. Usando conchinhas fizeram uma lotaria para
dividir em porções aquele areal entre si. Esse areal é hoje a cidade de Tel
Aviv, chamada assim “Colina da Primavera”.
***
Depois de esforços infinitos, apareceram os primeiros
laranjais floridos, os primeiros frutos, os pântanos secos e produtivos.
Depois
chegam as guerras com os árabes, a chamada Guerra Civil. Em Novembro de 1947, o reconhecimento do Estado hebraico - reconhecido a Oeste e a Leste da Europa - não vai evitar a Iª guerra árabe.
"As Nações Unidas aprovam pois por 33 vozes contra 13 e, apadrinhado dos dois lados da cortina de ferro, fora a Grande Bretanha, nasce o Estado Judaico, numa unanimidade tão inesperada quanto explicável." (ín artigo de Elie Barnavi, "Le temps des guerres")
Por curioso que pareça, é na Rússia, onde tantos "pogroms" aconteceram, que Andreï Gromyko - então embaixador na ONU - apoia com entusiasmo "as aspirações dos judeus a criarem o seu próprio estado hebraico", refere Élie Barnavi. (o.c., pg.363) Nessa entrevista, Élie Barnavi responde a variadas perguntas:
***
Aos judeus resta matar ou morrer. Agora já não se suicidam.
Porque as condições que o judeu encontrou, ao chegar a Israel, são a que hoje recusam.
Defendem-se. Resistem. Atacam. Constroem. Telavive, por exemplo, arrancada das dunas e das rochas, junto ao mar.
Para aqueles a quem interessa este assunto, aconselho um livro, muito sério, isento e lúcido, publicado na Seuil: “Israel: de Moisés aos acordos de Oslo” (2)
Leio, nesse livro, uma entrevista com Élie Barnavi, ex-embaixador de Israel em França: “Entre o Ocidente e o Oriente”.
Élie Barnavi
"As Nações Unidas aprovam pois por 33 vozes contra 13 e, apadrinhado dos dois lados da cortina de ferro, fora a Grande Bretanha, nasce o Estado Judaico, numa unanimidade tão inesperada quanto explicável." (ín artigo de Elie Barnavi, "Le temps des guerres")
***
“Israel
pertence ao Ocidente ou ao Oriente?”
Barnavi
responde: “A sua originalidade está na
ambivalência. Foi concebido por espíritos formados à europeia, essencialmente
judeus da Europa Central que acreditavam na utopia socialista.
Tem, por isso, estruturas
herdadas dessa cultura: Israel é e permanece uma democracia parlamentar de
estilo clássico. (…)"
***
“Uma
testa de ponta do Ocidente no Médio Oriente?”
“Talvez um enxerto ocidental, mas ainda bem.
Porque é o único estado democrático da região (...) um ‘ilhéu democrático’ num lugar
onde isso não existe.”
***
“Mas
com o que se passa nos territórios ocupados?, - não será um Estado autoritário?”
“A democracia funciona mais ou menos
normalmente em Israel onde a liberdade de imprensa e de expressão se exerce sem
entraves e onde os governantes são designados pelas urnas.”
***
“O
que pretende os outros, afinal?”
“Uma terra sem Israel. Sem
judeus. Como o exige hoje o Hamas, o Irão e muitos estados árabes do Médio
Oriente.”
***
No dia seguinte, a 29 de Novembro de 1948, começa a guerra "civil" - com uma série de ataques árabes contra o bairros judeus nas principais cidades onde todos coabitavam.
A Legião da União Árabe, em 1948
Herman Gold, O Pátio
Defendem-se. Resistem. Atacam. Constroem. Telavive, por exemplo, arrancada das dunas e das rochas, junto ao mar.
A Promenade de Telavive
Lê-se: "É fácil e popular culpar Israel por todos os massacres. Mais difícil é perceber que nunca haverá paz enquanto os palestinianos forem reféns de uma cultura de vítimas."
Nesse artigo, perguntava o jornalista: “Quantos de nós fizemos esta pergunta simples: retorno aonde? Retorno de quem? Retorno quando?”
E respondia: “O retorno de que falam os promotores destas manifestações ‘não violentas’ é o retorno não aos territórios ocupados por Israel há meio século, na Guerra dos Seis Dias, mas a todo o território de Israel." (3)
Se possível: Um sítio ... sem Israel! Um sítio...sem judeus!
Neste conflito nada é simples, claro. Desde quando foi ocupada a Palestina pelo Império Otomano? Depois da Iª Guerra está sob o Mandado Britânico como Israel. E Gaza a quem pertencia se não ao Egipto?
Como o exigem o Hamas (que governa Gaza desde 2007 e é considerado um grupo terrorista), o Hezzbolah no Líbano, o Irão ou a Síria - onde Israel não consta sequer dos mapas.
"As
contradições de um país em guerra para a sobrevivência": É este o subtítulo do livro de Ari Shavit, "A minha terra prometida". Até quando?
Como um sonhador, desejando concretizar uma utopia, Israel é o único país democrático no mundo que tem de defender a sua existência atacando.
Basta olhar o mapa do Médio Oriente e a 'posição' de Israel. Vêmo-lo rodeado de estados inimigos Líbano, Síria, Turquia, Irão que, como outros tantos países do Médio Oriente, afirmam claramente querer destruir Israel - um Estado que não existe no mapa deles.
Sim, "a solidão do judeu é imensa"! Tinha razão Yitzhak Tabenkin, quando o disse, em 1943. Mas "a esperança é enorme também", pensavam os pioneiros, nos Kibbutz, e os israelitas nos dias de hoje.
"História de um sonho cheio de contradições", chamou-lhe Ari Shavit no seu livro.
Como um sonhador, desejando concretizar uma utopia, Israel é o único país democrático no mundo que tem de defender a sua existência atacando.
rodeado de estados inimigos
"A esperança", de George-Frederick Watts
"História de um sonho cheio de contradições", chamou-lhe Ari Shavit no seu livro.
(1) “La
mia terra promessa”, Ari Shavit, edição italiana, (pg.98) Sperling & Kupfer, 2014
(2) A revista citada é Time Out in Tel Aviv, 2011
(3) "Le temps des guerres", artigo de Élie Barnavi, in "Israel, de Moïse aux accords d'Oslo", Seuil, Histoire, col. Points, Paris, 1998 (pgs 356-370).
(4) J.Manuel Fernandes, in Observador, 18 de Maio de 2018
(2) A revista citada é Time Out in Tel Aviv, 2011
(3) "Le temps des guerres", artigo de Élie Barnavi, in "Israel, de Moïse aux accords d'Oslo", Seuil, Histoire, col. Points, Paris, 1998 (pgs 356-370).
(4)
Algumas datas importantes:
Resolução 242 do Conselho de
Segurança da ONU, 1967
Camp David
(EUA), 1978
Conferência de
Madrid, 1991
Acordo de
Oslo, 1993
Camp David,
2000
Taba, 2001
Iniciativa de
Paz Árabe, 2002
O resto é silêncio!
Maria João,
ResponderEliminarTudo isto é muito triste e preocupante.
E não vejo fim à vista; bem pelo contrário. Acho que a perseguição aos judeus tem cada vez mais adeptos.
Inadmissível.
O mundo, as pessoas, os países, tudo é muito difícil e complexo. Gosto sempre da posição que Amos Oz tinha em relação a um judaísmo "humanista e universalista", afirmava que a essência do fanatismo está em querer obrigar aos outros a mudar. E que há que estar sempre a favor da paz. E que uma actitude de superioridade moral impede chegar a um acôrdo. E etc...Era maravilhoso.
ResponderEliminarBjs
Gostei imenso de ler. É um assunto sobre o qual gostaria de saber mais. vou tentar arranjar o livro que refere.
ResponderEliminarBeijinhos e bom domingo:))
Estou a terminar de ler os escritos de Joãp Bénard da Costa e curiosamente no capítulo dedicado a Luis Bun~uel, o cineasta espanhol, referindo-se aos anos 50, fala do seu espanto com o anti-semitismo francês, algo de preocupante.
ResponderEliminarPor outro lado muitos se esquecem que no Estado de Israel sempre vigorou a democracia.
Bom domingo!
Nada é perfeitamente inútil
ResponderEliminarBj