domingo, 17 de junho de 2012

Damien Hirst ou o "bluff" daquilo a que hoje (muitas vezes) se chama “arte”...


Damien Hirst posando sobre caveiras coloridas


Mario Vargas Llosa, 2012, dixit  (El Pais, 17 de Junho, hoje mesmo), a propósito do sucesso de Damien Hirst na Tate Modern, de Londres, chocando-se com o seu “sucesso” de bilheteira - e o preço astronómico dos seus quadros.

Damien Hirst, ('artista '?) desprovido do mais elementar talento e originalidade  que, em vez de dissimular esta condição, exibe-a em tudo o que faz com a mais perfeita desfaçatez tenha conseguido escalar todos os degraus da consideração do establishment (...)”-  choca o escritor.

"Com  mais desarmante sinceridade, fala da sua trajectória explicando de certo modo a eleição das suas opções artísticas em função da s carências e limitações que tinha. Quisera ter sido pintor mas percebeu que pintava muito mal e então optou pelas “collages” onde se sentia menos deficiente. 
Quando descobriu a arte “conceptual”, o surrealismo e o minimalismo, tudo misturado, viu que havia um caminho- o do festo, do desplante e do espectáculo- em que podia superar os defeitos e, inclusive, triunfar.


caveira em platina, com brilhantes e dentes humanos

Ignorando duas outras exposições em Londres –de Picasso, uma na Tate Britain (la Suite Vollard) e outra no Museu Britânico- a multidão massificada do "grande público" fez filas de várias horas para ver o “famoso” Damien Hirst. 
Esquecendo a maravilha de humanidade e beleza que são os Picasso desta Colecção Vollard, onde pouca gente foi e ninguém fazia fila..



Picasso e "Minotauromachia"



Picasso e "Salomé"


Picasso e "le repas frugal"

O 'artista' das cabeças de vaca cortadas e sangrentas, cheias  de moscas, dispostas numa urna de cristal, ou do tubarão em formol, das vacas conservadas (em formol?) mais o filho, das cabrinhas e reses “seccionadas cirurgicamente”.



Ou das dezenas de milhares das borboletas sacrificadas, borboletas a que arrancou as asas antes, para enfeitar o seu quadro Enlightment - ou para outros obras!
Questão de gosto... 


Quem não gosta de borboletas? São belas...
Como aceitar, então,  que se dizimem aos milhares e se lhes arranquem as asas?
Por que não, antes, "olhá-las" e "pintá-las"?



Hirst e as suas "asas de borboletas"


Picasso, e a sua "borboleta" desenhada


Damien Hirst "borboletas e fruta"

Ou os milhões de moscas – “o genocídio” –como lhe chama Vargas Llosa-  para a criação do seu  pegajoso “Sol negro”.

"Black Sun", ou o sol negro de moscas...

Sucesso? Rei das vendas?... De facto, em Outubro de 2004, através da Southeby vendeu a  sua Pharmacy, por uns 15 milhões de dólares, e, em Setembro de 2008, pela mesma galeria londrina, vendeu 244 novas obras pela soma astronómica de 111 milhões de libras esterlinas.

 Pharmacy of Notting Hill

"O que significa - continua Llosa- que Damien Hirst é o mais caro artista (vivo) do nosso tempo. O seu êxito económico está à altura do artístico”.

O seu futuro está garantido? Talvez não...


"Se tudo dependesse do mercado da arte, sem dúvida. Mas, ai!, pressinto uma ameaça nesse futuro : a da Real Sociedade Protectora dos Animais do Reino Unido."


tubarão em formol


Oxalá esteja para breve a decisão da Sociedade de Protecção dos Animais!



tubarões, contentes,  em liberdade





Os animais vêm protestar e dizer "protejam-nos!"



11 comentários:

  1. MJ,
    Algumas peças foram novidade para mim. Já tinha visto alguns dos seus trabalhos mas confesso que tenho alguma dificuldade em gostar dele. Contudo, a provocação é a melhor coisa do mundo.
    Beijinho. :)

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    1. Viva a provocação! Pim! Pam! Pum!
      Mas..mas...não gosto dele! talvez por causa das borboletas, como diz a Isabel...

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  2. Como disse Louis Aragon: " ...importa é saber o que volta ao fim de um certo número de anos."
    Em pintura, em literatura, em qualquer forma de arte e em todas as coisas afinal, só o tempo põe tudo no seu sítio. ¿Verdad que sí?
    Un beso de tarde de domingo

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    1. Sim, há tanta coisa que "se apaga". Tantos "famosos" que se esvaem na paisagem da vida!É o tempo que traz a justiça? Nem sempre, claro...
      Mas este "enervou-me"!
      Beijinhos nesta noite de domingo

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  3. É um exemplo de que o reconhecimento na arte nem sempre assenta em talento, originalidade, exigência, estética ou mesmo ética...

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  4. Não gosto das obras. Mesmo que esteticamente alguma pudesse ter beleza (a das asas de borboleta, por exemplo) só o facto de pensar que tantos daqueles bonitos bichinhos foram mortos para fazer tal coisa, tira-lhe qualquer sinal de beleza. O da cabeça da vaca, das moscas...acho repugnantes.
    Enfim...mas há quem aprecie, não é?
    Um beijinho

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  5. Também acho que a arte é outra coisa!

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  6. Nossa cultura está permeada de atrocidades com animais, seja para consumo ou até prazer, e "ninguém" se incomoda. Vejo esse artista como alguém que eleva ao máximo as farsas do real para testar nossa moral. É triste, mas funciona, pois nos põe a questionar nossa própria vida.

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    1. Talvez tenha razão, Guilherme: o que nos choca mais é o que "ouvimos" ou "vemos", agressivamente. Talvez assim se torne consciente a brutalidade do nosso tempo.Mas... será Arte?
      Abraço

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    2. Acho que a verdadeira arte é aquela que vai além do conceito de arte; aquela que não se deixa apreender imediatamente. Entretanto, tendo a pensar: "mas afinal, faz diferença?". Acho que as obras não devem ser julgadas por sua participação ou não numa pré-definição valorativa.
      Abs... Ahh, parabéns pelo blog.

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