estátua de D. Duarte, em Viseu
Pensando no que se vê hoje -e na muita ignorância de tantos. pensei nos nossos Reis "iluminados": poucos, contam-se com os dedos da mão... Um deles é sem dúvida D. Duarte filho do Mestre de Aviz e de D. Filipa de Lencastre (da Casa de Lancaster, da nobreza inglesa).
Ela era filha de João de Gant e neta do Rei de Inglaterra, Edward III. D. Duarte foi um dos príncipes da chamada "ínclita geração", pois, príncipes cuja educação foi esmerada, em todos os campos, e a Cultura uma necessidade. Foi a mãe que disso se encarregou.
Ela era filha de João de Gant e neta do Rei de Inglaterra, Edward III. D. Duarte foi um dos príncipes da chamada "ínclita geração", pois, príncipes cuja educação foi esmerada, em todos os campos, e a Cultura uma necessidade. Foi a mãe que disso se encarregou.
Dom João I, Museu de Arte Antiga
Edward III
John of Gant
a Rosa Vermelha, símbolo dos Lancaster, na Guerra das Rosas
D. Filipa, a mãe
pormenor de a"Dama com o Unicórnio" (talvez esta figura seja Blanche Lancaster),
Espírito curioso e metódico, D. Duarte, escrevia tudo, desde os
conselhos que dava aos irmãos, “à observação das cores das pedras nas minas de
metal” que vira, aos fenómenos lunares, ou a quanto discorria sobre as coisas
mais simples da vida.
Diz Rodrigues Lapa: “a ideia –largamente social- do bem comum
inspira-o sempre. O rei devia-se inteiramente ao seu povo, e
constituía-se num exemplo de todos”.
Tão diverso do que se passa nos dias de hoje!
“E não só em palavras, nas teorias que lançava no papel, mas
em obras e na vida.”
Príncipe culto, Rei culto, usa um estilo cuidado, próximo do
latim, escolhendo a estrutura da frase, o que nem sempre o torna fácil de entender.
Mas teve a grande vantagem de enriquecer o vocabulário com termos novos: pertinaz, meritório, fugitivo, solícito, sobrepujar - são palavras que o Rei traz para a nossa língua.
Mas teve a grande vantagem de enriquecer o vocabulário com termos novos: pertinaz, meritório, fugitivo, solícito, sobrepujar - são palavras que o Rei traz para a nossa língua.
Tem a consciência de que a língua portuguesa (como todas as
línguas) precisava destes termos para “as suas necessidades expressivas na
literatura e na ciência.
O próprio termo “literatura” introdu-lo D. Duarte nos seus
escritos, ainda sob a forma de “letradura” que, aliás, ainda existe.
“Posto que algum dia, livro todo leais, nunca vos enfadeis de
o tornar a ler, porque algumas coisas entendereis sempre novamente, que vos
farão proveito; e pensai que o seu ler é obra meritória.(...) e assim alguma
cousa cada dia lereis.”
Dá conselhos também sobre o "modo" de ler: devagar, poucas páginas para começar e com atenção para apreender o sentido: “A uma hora (de cada vez) não leardes muito mas boa parte
menos do que poderdes”.
Outro conselho: não iniciar uma leitura com “ideias
preconcebidas” para não “alterar o sentido do que se lê.
“Nom tenhaes alguma tenções (=opiniões) assim firmadas na
vontade, que tudo o que leerdes queiraes
torcer para concordar com elas.”
O Rei admitia, além disso, que se discordasse do que se lia...
“Quando for a determinação do que leerdes duvidosa, praza-vos de a leixardes em dúvida...”
“Quando for a determinação do que leerdes duvidosa, praza-vos de a leixardes em dúvida...”
Como escreve Rodrigues Lapa, “em alguns pontos, o seu “método” faz lembrar o método cartesiano da dúvida metódica que tanta influência exerceu no desenvolvimento do espírito moderno.”
No entanto, o seu não é um espírito “livresco” nem o Rei era
um “rato de biblioteca”, apesar de se deliciar com a leitura e com os livros.
Era, sim, um espírito culto e moderno.
Pelo contrário, recomenda a "experiência na vida intelectual e
moral", o uso da observação, da razão, criticando a “fantasia sem proveito” de
certos arroubos poéticos do tempo...
Gostei de encontrar esta personalidade um pouco esquecida. Ou
não fosse este nosso tempo o momento da ignorância e da incultura ...
Até dos governantes!
Até dos governantes!
Túmulo de D. Duarte e de D. Leonor, no Mosteiro da Batalha
(1) Seara Nova, “Colecção Textos Literários
Adorei este post.
ResponderEliminarBeijinhos
Até dos governantes... Ou sobretudo dos governantes?
ResponderEliminarBeijinhos de partida
Talvez não "sobretudo"...mas bastante ignorantes do que fala D. Duarte, isso são!
EliminarDestaco os trechos: “a ideia – largamente social - do bem comum inspira-o sempre. O rei devia-se inteiramente ao seu povo, e constituía-se num exemplo de todos” e “E não só em palavras, nas teorias que lançava no papel, mas em obras e na vida”.
ResponderEliminarBom seria se os nossos governantes voltassem os olhos para o exemplo inspirador de D. Duarte e tivessem a mesma sensibilidade e desvelo.
Os 99% agradeceriam!
Pensar nisso incomoda, de facto, mas aqueles eram os tempos da Cultura e a Cultura faz muita falta!
EliminarHoje são os "bancos" & a bolsa que lhes interessam! E é o "business", o "spread" (?), o "money", os negócios & o marketing que os "inspiram" mais do que tudo...
Abraço do lado de cá do mar
Isto acontece quando se têm tantos livros e se têm que arrumar (horror!!), que de repente a gente se pode encontrar no século XV, e com o calor que está hoje, vou sair a correr daqui, porque só pensar naquelas vestes, e sem ar condicionado...Adeuzinho!
ResponderEliminarObrigado Maria João por esta evocação.
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