sexta-feira, 24 de agosto de 2012

IAN FLEMING: VIVE E DEIXA MORRER...


VIVE E DEIXA MORRER!

Não é esta a minha máxima preferida, antes diria: “vive e deixa viver!”, mas Ian Fleming escolheu esta...

Sim, Ian Fleming (1908-1964), o criador do célebre espião 007.
Ian Fleming

Herói fictício, o  espião do M16, os serviços secretos de Sua Majestade Inglesa, foi criado em 1953.

desenho de Fleming: James Bond

Já nos velhos anos de 1950, saíra a história de “Casino Royal”...
"Live and let die" (Vive e deixa morrer) é publicado em 1954.




No próximo Outubro/Novembro vai sair o novo filme, assinado por Sam Mendes, com o “actual” James Bond. Intitula-se "Skyfall".

“Bond, o meu nome é James Bond...”
É o espião 007 com ordem para matar.


Daniel Craig, em "Skyfall"


E hoje? Quem não tem hoje ordem para matar? Já não nos escandaliza...
Lendo os seus livros, entende-se melhor. Viver sobre o fio da navalha não é para todos, nem é simples...
Nos seus romances é mais fácil morrer, ou ser morto, do que viver , por isso a “vida-viva” ganha esta força de indiferença em relação à morte dos outros.
Uma espécie de “salve-se quem puder”?...

Salvar-se dos que querem matar? Ou dos que querem morrer... É o mesmo.
Não atiremos nenhuma pedra ao escritor: quem não pensou já: “ai, queres morrer? Então deixa-te morrer...”

O próprio Fernando Pessoa se lembrou disso nos versos "suicidas" do heterónimo Álvaro de Campos:

“Se te queres matar/por que não te queres matar?/Ah, aproveita! Que eu que tanto amo a morte e avida/se ousasse matar-me, também me mataria...”

Porque há muito quem queira matar dentro de si a vontade de viver. Para se sentir mais livre? Porque julga que é mais difícil viver assim? Quer dominar os outros?

Ou é apenas indiferença?
Vai julgando que vive. Afasta de si tudo o que o incomoda, a começar pelos outros.
E um dia surge o irreparável. Como no extraordinário e dolorosos quadro do russo Ilya Repin.
Ilya Repin, Ivan o Terrível

E o irreparável pode ser querer compor a vida, e só nos restar morrer.
Ou matar. É o que acontece aos heróis de Fleming: matar para não morrer...

Há muitos anos que o leio. Foi dos primeiros autores que consegui ler em inglês. Tal como o meu primeiro escritor, em francês, foi outro escritor policial Georges Simenon...
Divertiam-me aquelas histórias loucas de Fleming! Aventuras empolgantes, sem fim, sem limites!

007 Goldfinger

Depois, mais tarde, vieram os filmes. Ao longo dos tempos, há sempre um novo James Bond, o espião ao Serviço de Sua Majestade, que espera por nós, para nos distrair.

Escreve bem o autor. É inteligente. Analisa as “doenças” da prepotência dos homens. Do que se julga mais forte, do que quer ser rei do mundo. Dominar. Prevalecer. Ser o mais forte. Poder destruir o criado.

Alfred Adler

Talvez por causa de certos “complexos de inferioridade” que se resolvem assim, como explicou  Alfred Adler (1).

Porque é difícil viver com os outros? Não, claro, não é por isso.
É porque só destruindo os outros nos sentimos suficientemente fortes para aguentar a vida, o peso da vida, e ser “donos” dela? Talvez.


Ter o mundo aos pés? Mas para quê, meu Deus? 

Se nunca vamos ter alegria? Se não há qualquer contentamento. Se a insatisfação nos rói?
Se depois, ao morrer, na solidão final, termos apenas, no universo gélido que nos rodeia, nesse mundo em que nos “fechámos”.

Orson Welles

uma bela imagem do filme "O Mundo a seus pés"

Um mundo feito de indiferença e de ódio que causa a nossa auto-destruição que um dia nos leva ter a saudades do pequeno trenó da nossa infância, como no famoso filme de Orson Welles?

Oh! Rosebud, Rosebud...

E vem o justiceiro, o agente 007, pôr um pouco de ordem nisto. Em boa hora.

Se não o que fariam estes homens que se perderam? Ou que se querem perder?
Quem os salvaria?

Quem nos traria Rosebud?...

 “Bond, o meu nome é James Bond...”


Anuncia-se para Novembro o novo James Bond, “Skyfall”, do realizador  Sam Mendes. Mas...notícia ainda mais recente: há outro James Bond a ser criado: por Duncan Jones, desta vez. 
Vai ser diferente pois será baseado  na vida do próprio Ian Fleming, inspirando-se na biografia escrita por Andrew Lycett, “The Man behind James Bond”.

Aguardemos, pois...



(1) Adler falava da agressão e da luta pelo poder - resultantes de um complexo de inferioridade- mas não as equiparava à hostilidade. Era mais um tipo de agressão para “superação” de obstáculos, na sobrevivência individual e das espécies. Essa agressividade pode, então,  manifestar-se como vontade de poder.

3 comentários:

  1. Gostei muito de ler.
    Via os filmes na televisão. Nesse tempo davam bons filmes.

    Boa noite.

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  2. Estás muito filósofa!
    Vontade de poder, vontade de deslumbrar, de ter, de tudo!
    No fundo todos tivémos um dia esse sonho impossível na cabeça, mas o importante é aterrar em terra firme, e não permanecer instalado na loucura de querer o impossível. C´est comme ça?
    O post que acabo de escrever, veio-me inspirado por ti, a história da Bela Adormecida...Foi como uma luz, não tinha ideia de que falar...
    Assim que Gracias y Besos

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  3. Pois davam. E agora se acabam coma RTP2 acabam com os filmes...

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