Tal como prometi, levei-os no passeio a Roma...
O que terão pensado eles, realmente? Deixo o que fui vendo e
ouvindo das conversas deles.
Só “acordaram” para a cidade na manhã seguinte. Dormiram
profundamente no saco-cama improvisado e agora olhavam espantados em volta. Até ali havia um burrinho! E chocolate Toblerone!
Tudo era estranho: nova casa, nova luz, novos móveis...
Estremunhados, curiosos perguntaram logo:
- Onde estamos? Era o Ratinho que falava.
- Em Roma! Em casa da Anna...
- Ah... Quem é a Anna?
- É verdade, vocês não a conhecem. É uma amiga da Gui que
conheci há anos em Moscovo. Uma grande amiga.
Mais uma olhadela em redor. E outra pergunta que me pareceu
insólita.
- Ela gosta de ratinhos?
- Que pergunta! Claro que gosta de ratinhos. Quem não gosta?
- Há pessoas que não gostam. Há quem tenha problemas com os
ratos “normais”. Há ratinhos que não são boas pessoas...
Não lhe quis dizer
que, de facto, a Anna andava furiosa porque, na casa de praia, tinha entrado
uma família de ratinhos (os tais ratos normais?)
que tinham roído tudo e mais alguma coisa: do sofá aos “maillots” de banho e da comida aos tapetes. Estava desesperada.
Isto não ia contar ao ratinho, claro. Mas como é que ele tinha “adivinhado”?
Andaram a ver a casa e ficaram encantados com um candeeiro
feito de velhas cassetes de música, que estava em cima da cómoda do nosso
quarto. Bisbilhotaram tudo, até as gavetas da roupa.
- Não se mexe no que não é nosso..., fui eu dizendo.
Sem responder, o Poeta disse:
- Vais-nos mostrar Roma hoje?
E deu um saltinho da
cómoda para o chão. O Ouricinho que ainda se espreguiçava, cheio de sono, de
patinhas no ar, repetiu, de olho bem aberto .
- Vamos a Roma?
- Sim. Antes vamos tomar o pequeno almoço. Depois saímos logo,
está bem?
- Oh! Sim, sim... Eu só quero leite com corn flakes...
- Eu também!
O Ouricinho estava sorridente, como é seu hábito. Ainda
despenteado – mas quem consegue pentear aquele ouricinho?!- ajustava os calções
de banho.
O Ratinho olhou para ele, crítico.
- Não tiras esses calções ridículos? Já não estamos na praia
e estás no Outono...
O Ouricinho não lhe ligou e foi a saltitar pelo corredor até
à cozinha, espreitando tudo.
Pareceu-me, no entanto, que a censura do Ratinho Poeta tinha ficado lá dentro a
remoer, mas ele fingia que não. A verdade é que estava a hesitar sem saber o
que decidir. Por fim, deve-lhe ter dado razão pois mais tarde já não trazia os
tais calções. Que, aliás, nunca mais vi!
- O que é isto?
O Ratinho foi logo ver.
- Um pisa-papéis, com certeza, disse com uma expressão séria.
O Ouricinho ria, porque tinha conseguido chamar-lhe a
atenção.
Fomos tomar o pequeno almoço. Empoleiraram-se à janela da
cozinha, a ver a rua.
- Que linda rua! Que lindas cores. Já viste?
Não sei se falava para mim, mas o Ouricinho é que respondeu,
todo contente:
- São as cores de Roma! Ocre e vermelho!
- São as cores de Roma! Ocre e vermelho!
- E as flores tão lindas!
- São ciclaminos..., disse eu.
Sorri, detrás das tigelas cheias de leite e corn flakes, e abanei a cabeça, enternecida com aqueles dois.
Sorri, detrás das tigelas cheias de leite e corn flakes, e abanei a cabeça, enternecida com aqueles dois.
Roma esperava-nos lá fora. O sol brilhava e batia nos sampietrini.
A luz era magnífica!
Por onde íamos começar hoje?...
(*)
O sampietrino (ou sanpietrino) é o nome popular dado à caçada típica de Roma, em cubos de leucitite (uma pedra vulcânica) que se encontra na região do Lázio, onde Roma se encontra. Inicialmente foi criado, em 1725, para pavimentar a Piazza San Pietro, com lages especiais, para a carruagem do Papa. Depois, o seu uso espalhou-se pela cidade toda.
A luz era magnífica!
Por onde íamos começar hoje?...
(*)
O sampietrino (ou sanpietrino) é o nome popular dado à caçada típica de Roma, em cubos de leucitite (uma pedra vulcânica) que se encontra na região do Lázio, onde Roma se encontra. Inicialmente foi criado, em 1725, para pavimentar a Piazza San Pietro, com lages especiais, para a carruagem do Papa. Depois, o seu uso espalhou-se pela cidade toda.