terça-feira, 30 de outubro de 2012

VOLTAR A ROMA...


Ratinho Poeta e Ouricinho, descobrindo Roma, deslumbrados!

O que dizer? É uma emoção enorme e difícil de analisar: entre curiosidade e nostalgia, entre o medo de não encontrar o que se viveu e agora parece só um sonho? 

A angústia de não encontrar os velhos  sítios amados e as pessoas que os enchiam com a sua magia: a da amizade, da compreensão e do saber viver “romano”? Saber que não somos os mesmos e que os anos correram sobre nós?
Ou foram os anos que ficaram parados e nós é que corremos?...
Campo de' Fiori


No táxi que nos levava de Fiumicino à Via della Chiesa Nuova onde íamos ficar a convite de uma grande amiga (romana), o medo vai-se desvanecendo.


Fiumicino, à chegada

"Roma é Roma!", pensava eu. Não podia mudar...

Os meus amigos romanos acrescentariam que estava: “uguale-identica ... punto e basta!”

E tinham razão, é assim mesmo Roma: imutável na sua mutabilidade constante e na assimilação de tudo o que a invade.

O “tassinaro”, siciliano domiciliado em Roma desde a infância, é completamente "romano" e vai filosofando sobre a vida, num tom entre o divertido e o cínico, à procura do efeito teatral –próprio de todo o romano que se preza.

- Ah!, dizia ele, o momento que se vive é o que conta! A vida é breve e é só uma, não voltamos cá outra vez. É uma oportunidade que não se repete nunca mais.

E vai falando, falando e lembra-me a célebre sentença da ode horaciana: Carpe Diem, quam minimum credula postero...”




("Não queiras saber o que os deuses te reservam (não podemos) a ti, a mim. (...) Enquanto falas, o tempo, invejoso, já passou (fugerit invida aetas...): aproveita o dia de hoje, sem grande fé no que há-de vir amanhã...”)


- O momento da chegada, do aeroporto, ficou para trás e não volta...

O táxi corre e olho em volta, à procura de indícios, de pontos  de referência. Perco-me em meditações... Com elas, chegam as lembranças escondidas bem lá no fundo da alma.

A paisagem corre e eu descubro na minha imaginação o que quisera esquecer: nós, os miúdos, os “Orti della Sibilla” – onde ficava a nossa casa da Via Cassia, o Zac acabadinho de chegar da Giustiniana onde o Diogo o encontrara abandonado, de pelo todo espetado e olhos cheios de doçura...


De repente, tudo se revela: Roma está perto!

Os pinhais da EUR, a interminável avenida Cristoforo Colombo e, depressa, os Fori Romani, a Basílica de Masenzio onde se faziam os concertos e se ouvia ópera, no Verão e até havia cinema!

A seguir (ou antes?), a Porta  de Tito, tudo corre à minha frente, sem tempo de fixar na memória.
imagem retirada da internet, mostrando a Piazza Venezia e o monumento

De repente, a Piazza Venezia e o monumento a Vittorio Emanuele II. Rio-me, claro, a pensar nos inúmeros nomes que lhe ouvi chamar: “máquina de escrever”, “bolo de noiva”, etc...
imagem retirada da internet

rua de Roma

E o centro storico, nas suas cores quentes de ocre avermelhado e de castanho. Olho à esquerda, à direita, quero abarcar tudo: é Roma!

fachada do Palazzo della Cancelleria

Via del Governo Vecchio, ao entardecer

pormenor da Via del Governo Vecchio

A mesma Roma onde vivi quinze anos e que é uma das minhas pátrias. 

 ao fundo deve estar o rio, e o seu passeio à beira-rio, o Lungotevere,  com os plátanos e olmos de folhas douradas, na bela tarde outonal.


Sim, o Outono e Roma e os dias de sol de Outubro, as célebres “ottobrate romane”.

O táxi gira  na Piazza della Chiesa Nuova. Chegámos...



Via del Governo Vecchio


Piazza Santa Maria della Pace, imagem retirada da internet

Ali muito perto está a Via del Governo Vecchio, a Via del Corallo, a Piazza del Fico, a Via della Pace  com a sua igreja, e, andando andando, encontrarei  a Piazza Navona...


Piazza Navona

Mas, para já, espera-me a tarefa de desfazer as malas – as odiadas malas, a coisa mais horrível das viagens!

Voltarei em breve, para contar  mais coisas!




(*) Horácio -Quintus Horatius Flaccus- nasceu em Venusia, na Apúlia, em 65 ªC,  e morreu 8 anos antes de Cristo nascer.

2 comentários:

  1. Emocionei-me com esta sua descrição do regresso a "outra pátria".
    Adorei ver o Ratinho e o Ouricinho perfeitamente deslumbrados.
    As fotos são lindas!
    Um beijinho

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  2. Emocionante, como escreveu a Isabel...
    Quantas recordações e emoções em catadupa!!
    Será que era mesmo verdade, que não se tratava de um sonho?!
    Não, estava mesmo em Roma!!
    Agora somos nós (os leitores), quem viaja...
    Um beijinho grande.

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