domingo, 4 de novembro de 2012

O Pasquino, uma das estátuas "falantes" de Roma!



As estátuas falantes de Roma...

Ao fundo da Via del Governio Vecchio, onde passava todos os dias, estava a Via Pasquino e a Piazza do mesmo nome.

E olhava sempre para a estátua de Pasquino, uma das chamadas “estátuas falantes” de Roma.
Os restos  da estátua pertencem a um grupo escultórico (talvez do século III AC) que representaria Menelau e Pátroclo, segundo relatam os “guias”. 

imagem retirada da internet

Foi encontrada no século XV perto da Piazza Navona e estava em tal estado de degradação que nenhum antiquário a quis. Acabou por ser colocada na esquina onde ainda hoje está, perto do Palazzo Braschi, a dois passos da Navona.


Cedo, junto da estátua, surgiu o  hábito de virem "protestar" os escritores, os poetas ou os simples cidadãos deixar os seus “escritos” violentos, em tabuletas de madeira, outras  vezes, num simples papel.
Ali mostravam a sua indignação contra os governos e as autoridades, ou, apenas, contra as prepotências dos grandes... e dos pequenos.

Faziam-no num modo satírico, “pesado” e eram uma “voz” importante da “oposição” – de outro modo  inexistente, nesses tempos.

Eram o porta-voz do humor, da crítica, do protesto.

“Pasquino” é ainda hoje o “símbolo da liberdade de imprensa”, como o foi desde a Roma do Renascimento.  E sempre!

Por curiosidade, para quem não saiba, é deste Pasquino que se “criou” a nossa palavra “pasquim” (através do francês “pasquin”) – jornal, em sentido pejorativo,  e a “pasquinada” (do francês “pasquinade”).

Ou, ainda, “pasquinagem”, “pasquinar” e “pasquineiro”, presentes nos nosso dicionários!...

Mas ele  não era o único!

Ao Pasquino “respondiam”, da Piazza Venezia, na esquina com o Pallazzetto, a “Madama Lugrezzia” (em romanesco), Madama Lucrezia  pois. 


Talvez tivesse pertencido ao grupo da estátua de Ísis do Campo Marzio e, dialogando com Pasquino, dava também ela a voz ao povo...
Madama Lugrezzia (imagem da internet)

Ou o “Marvorio” (Marforio) que se encontra menos visível, no Museu Capitolino, estátua colossal do “Oceano”- antes, perto da Chiesa di San Luca e Santa Martina);

Marforio, imagem da internet

Ou o “Babuíno”, arrumado ao canto da Via del Babuino, outra estátua decepada de uma fonte, que representaria Silénio mas que os romanos achavam parecer-se mais com um “babuíno”: e por isso lhe ficou o nome. E, daí, também, o nome da rua...

imagem de Babuíno, retirada da internet

Quando no Pasquino aparecia afixada uma crítica, logo da Madama Lucrezia vinha a resposta súbita, ou outra crítica ainda mais feroz era "disparada" como um tiro do Marvorio ou do Babuíno
imagem retirada da internet

Porque  o romano não brinca na sátira! Nem na mordacidade com que se observa e observa os outros...

Sátira que tantas vezes sabe virar, acérrima, contra si próprio...

Basta ver os filmes italianos (comédias e tragédias) em que ao humor se acrescenta essa tal auto-crítica impiedosa: Vittorio Gassman, Ugo Tognazzi, Alberto Sordi, Nino Manfredi... o que fizeram eles se não isso, de forma magnífica?
Para não falar de Tótó...










O espírito de liberdade continua a girar por Roma. Basta ver as fotografias que acima vos deixo...

E, aos pés do Pasquino, encontram-se os  mesmos – e outros- protestos.

Vi-os lá!

(*) Pasquim (in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora) : “algo escrito que se afixa em lugar público, com expressões injuriosas”

Pasquinada : “crítica mordaz, artigo que insulta”.

Ler, para saber mais...

4 comentários:

  1. Gosto imenso destas curiosidades que, acho eu, humanizam e distinguem os lugares.
    Beijinhos

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  2. Muito interessante.
    Gostei muito das fotos, em especial aquela dos dois simpáticos curiosos...
    Sabe que me tem deixado uma grande vontade de conhecer Roma? Talvez um dia seja possível, quem sabe...
    Um beijinho e boa semana

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  3. Isabel, quando vamos?
    Por mim, partia ainda hoje...
    Estou certa que Roma tem um encanto que poucas
    palavras conseguem descrever!!
    Muito interessante o que nos conta sobre as estátuas e o Pasquim!!
    Beijinhos.

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  4. Gostei da história,até porque na Espanha usam a palavra "pasquin" com um significado mais genérico, por exemplo de propaganda eleitoral.
    Na Wikipédia falam dum tal Pasquino, dono de uma sapataria, onde parece que começou tudo.
    Feliz semana, beijos

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