terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

À volta de Edouard Manet, no estúdio da “rue des Batignolles”...


o atelier de Edouard Manet, por Henri Fantin-Latour (1870) 


Louis Anquetin, "Avenue de Clichy"

Boulevard de Batignolles (hoje)


O atelier de Manet ficava no bairro de Batignolles, na rua do mesmo nome,  perto da Avenue de Clichy.

Reunia-se, com os amigos, num café da mesma rua, o "Café Guerbois", hoje desaparecido.
"Café Guerbois", litografia de Manet

rua onde nasceu Edouard Manet (antiga rue des Augustins), por Maria M.


O encanto de certos cafés antigos perdeu-se, é certo, mas o fascínio pela “vida de café” continua a viver, por aqui e por ali.

Korovine, Café de la Paix



Sentar-me e ficar a olhar, numa esplanada, ver o movimento das praças ou ver passar as pessoas à chuva, ou, melhor ainda, dentro da sala, olhar em redor,  é ainda felizmente um hábito. Eu adoro estar nos cafés, a sentir correr o tempo, neles! 
um "pub" algures 


Caffé della Pace, Via della Pace, Roma

Guildford, rua principal, livraria perto de vários cafés...

Café Starbucks, em Guildford

O Café Nicola, no Rossio, Lisboa

Pegar no jornal ou num livrinho de bolso que se trouxe na mala – ou , no bolso- continua a ser interessante para muita gente.
Pedir um expresso italiano -há quem prefira a velha “bica”, mas eu não. 
Caffé San Marco, em Trieste


Caffé Tommaseo, Trieste


Alguns “arriscam” um cigarrinho - logo censurados pelos olhares dos anti-tabaco, mesmo na zona fumadores – que vai desaparecendo...

Eu não fumo, nem fumei mas enervam-me estas atitudes agressivas dos “fundamentalistas”, sejam eles quais forem.

Porque penso que cada um tem direito de escolher a sua morte? Não, claro, até porque sei que ninguém pode verdadeiramente escolher a sua morte, nem é essa a questão. Apenas porque não suporto que alguém atente contra a liberdade de outrem!

A Vitória "alada", de Samotrácia

Voltando  ao Café Guerbois...  Era um ponto de encontro de pintores, escritores, amantes da Arte.
Manet, retratado por Carolus Duran (1880)

Manet, auto-retrato

Era o centro do grupo que se reunia à volta de Edouard Manet (1832-1883). Amigos, admiradores, artistas de vários bordos.

Os que Edouard Manet retratou, ou os que o pintaram a ele, como o fez Henri Fantin-Latour...

Fantin-Latour, auto-retrato

Henri Fantin-Latour 1836-1904 foi o que os “fixou” para sempre o momento grandioso desse encontro, no seu quadro “Atelier rue des Batignolles” (1870).

Quadro que mostra o atelier onde Manet, no primeiro plano, está sentado em frente do cavalete e pinta o retrato do jovem  Astruc (1835-1907), a seu lado.
Zacharie Astruc, pintado por Manet, em 1866

Zacharie Astruc era um crítico de arte, escultor e jornalista.

Renoir que vai pintar Monet. Monet que vai pintar Zola. Todos faziam parte do grupo.
Atrás, em pé, Otto Schölderer (pintor alemão que veio para Paris e era um seguidor de Courbet),  Pierre-Auguste Renoir (com um chapéu), Edmond Maitre, amigo de Renoir,  Frédéric Bazille, que morrerá uns meses mais tarde (nasce em 1841 e morre em 28 de Novembro de 1870), na guerra, Zola e Claude Monet (1840-1926).

Nesses encontros, muitos vão "retratar-se" e é bom ver como "se olharam" uns aos outros. Ou como se "viram" a si próprios...
Lindos os quadros em que Renoir  pinta Monet, por exemplo. Ou em que Monet se "vê"...

Renoir, "Monet a ler"

dois retratos de Monet, por Auguste Renoir


Claude Monet, auto-retrato no seu atelier


Frédéric  Bazille que fará  um belo retrato de Renoir e do seu amigo Edmond Maitre.
Frédéric Bazille, e o retrato de Renoir

Frédéric Bazille, retrato de Edmond Maitre

Renoir, auto-retrato, 1876

Renoir, auto-retrato, em 1910

Henri-Fantin Latour nunca quis disputar o lugar de ninguém e admirou sinceramente o que considerava Mestre de todos, o chefe-de- fila do movimento, Edouard Manet.


Manet, pintado por Fantin-Latour, 1866

Referências estéticas  da nova escola que descobrimos no "atelier" de manet: a estatueta de Minerva (respeito pela tradição antiga) e o vaso de toque  japonês que evoca o amor desta geração pela arte do Japão.

Fantin-Latour tem outros quadros de "grupos" importantes, que aqui deixo...
Homenagem a Delacroix, de Fantin-Latour

Fantin-Latour, Escritores e poetas (Verlaine e Rimbaud à esquerda)



Fantin-Latour

Manet pintará  Emile Zola, num quadro hoje  famoso. Zola, o “porta-voz” do grupo dos impressionistas. Interessante ver os mesmos "motivos" japoneses que revelam o gosto de Manet por essa arte.
Emile Zola, por Manet

Zola, que escreve sobre Manet:

“Em volta do pintor vilipendiado pelo público, criou-se uma frente comum de escritores e dos pintores que o vêem como um mestre.”

O que me impressiona nisto tudo é a atitude de respeito e a admiração de grandes pintores pelo que consideraram um Mestre! E o respeito que tinham entre si, nas suas diferenças e particularidades.
Mas Manet, o mais velho, foi o iniciador, o Mestre! 

Deixo três quadros, de três momentos diferentes e que revelam a sua grandeza e novidade.
Segundo a minha opinião, claro. O que não me impede de pensar que alguns igualaram ou, talvez,  tenham "ultrapassado" o seu mestre...

Um, em especial: Claude Monet!

Manet, Clair de lune sur le port de Boulogne (1869)

Manet, Estação dos caminhos de ferro (1873)

Manet, Bar des Folies-Bergères, um dos últimos quadros (1881/2)



Sobre Henri Fantin-latour:

9 comentários:

  1. Já andei "às voltas" com este quadro, com Manet e Fantin-Latour. Gostava de conhecer melhor os cafés de Paris e gostava que houvesse um estudo sobre os cafés e pastelarias de Lisboa - bem como sobre os cafés e cervejarias como locais de tertúlia e encontro de artistas e intelectuais. É interessante notar que há geralmente um café associado a um movimento artístico ou literário - pelo menos nos séculos XIX e XX - não só em Portugal, como em França, Itália e Espanha (os casos que conheço). Bjs!

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    1. Tem razão, são lugares fascinantes, com um encanto cheio das pessoas que por lá passaram... Havia lindos cafés na Lisboa de há uns anos! Onde se reuniam "grupos" de escritores, ointores...
      Ainda resta o Nicola (de que gosto imenso), a "Brasileira" do Chiado (muito - e mal- "arranjada").Ainda me lembro do Café Chave de Ouro onde o meu pai me levava, em pequenina, quando vínhamos a Lisboa. Ou o Café Nacional (hoje, bancos).
      Não sei se existe um livro, mas valia bem a pena! Qualquer dia desaparece a Cervejaria Trindade, ou mesmo o Leão d'Ouro...
      Eu adoro os cafés! Há cafés maravilhosos em Itália! Em Trieste por exemplo e ali também ligados a escritores, artistas, como não podia deixar de ser...
      beijinhos

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    2. Há um blog que fala da Lisboa desaparecida. Deixo um post sobre os cafés...
      http://lisboadesaparecida.blogspot.pt/2013/01/os-cafes-de-lisboa-de-marina-tavares.html

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  2. Foi considerado um mestre, mas nada que ver com o teu adorado Monet, pois não? Gostei muito dos dois últimos quadros que não conhecia.
    Beijinho

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    1. Obrigada pela imagem com a "placa" da rua onde nasceu Manet! Já pus e até "alterei" duas ou três coisas. Claro que nada tem que ver com o meu "adorado" Monet(já pus também...)! São coisas tão diferentes...
      beijinhos

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  3. Subscrevo o comentário da Margarida, era necessário um estudo atual.
    Adoro cafés, os ambientes e a conversa ou tertúlia se for o caso.
    Gosto muito do Nicola, do bife que fazem e da atmosfera. porém quando vou a Lisboa vou para o Chiado para a pastelaria Bénard, simplesmente porque a casa de banho é melhor do que a da Brasileira. Além disso as mesas isoladas dão para ter um pouco mais de intimidade. Digo isto mas gosto mito da Brasileira.

    Também gostaria de conhecer melhor os cafés de Paris. Fui a dois ou três emblemáticos mas gostaria de fazer uma visita pelos mais famosos.
    Vi o filme/ documentário "A noite e o nevoeiro" de Alain Resnai, é arrepiante.
    Obrigada pela visita,
    Bjs. :))

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  4. Gosto muito do post.
    Também acho um encanto estes cafés e imagino como deviam ser fascinantes estas tertúlias nos cafés na época em que eram frequentados por escritores e artistas. Sinto até uma certa nostalgia inexplicável, por uma coisa que gostaria de ter vivido: esses serões interessantíssimos.
    Adorei a foto daquela senhora simpática...
    Um beijinho grande

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  5. L'ultima volta a Parigi stavamo dalle parti di place de Clichy e siamo capitati spesso a Batignolles, a Lisbona abbiamo amato molto la caffetteria Nicola, e la barista del quadro delle Folies Bergères nella mia famiglia è soprannominata scherzosamente "la sœur de Dède" . non saranno troppi i nostri punti di contatto?

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    1. Interessante! Abbiamo di sicuro molti punti di contatto, se non non andrebbe a "trovarti" sul tuo blog!
      La soeur de Dède mi piacce un sacco!
      A Café Nicola vado sempre volontieri!
      bacione

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