segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Aconteceu na Douce France! Oui...


Van Gogh, café em Montmartre, Musée d'Orsay

Nem tudo o que é mau acontece só em Portugal. Não anima mas  faz companhia!

Há tempos, houve um gerente de um Banco que não aceitou a presença de  um “trabalhador” porque não estava vestido “como devia ser”, com o respeito devido à entidade: o Banco!

Esta outra aconteceu no sábado dia 26 de Janeiro, no Musée d’Orsay, de Paris de França (Le Monde de 31 de Janeiro de 2013).

Uma família “deserdada” (como traduzir? pobre?) visitava o Museu, acompanhada por uma senhora benévola do ATD-Quarto Mundo, um movimento que apoia os sem-abrigo e as pessoas em dificuldade.

Bem, a dada altura, família foi convidada a sair, pelos agentes da segurança do museu, porque o cheiro deles “perturbava” algumas pessoas que se tinham ido queixar aos guardas...

Edouard Manet, exposto no Musée d'Orsay

“Esses familiares eram dois adultos e um rapaz de 12 anos. Estavam a ver os quadros da sala Van Gogh quando lhes disseram que tinham de sair, porque o cheiro deles incomodara alguns dos visitantes".

O que terá pensado Van Gogh?, pensei eu... 

Van Gogh, com o seu bom coração, o pintor que viveu tão simplesmente, quase um pobre tantas vezes. Olhou de certeza essa atitude de afastamento dos pobres, com reprovação. E tristeza.
auto-retrato

E que respeitava o género humano e as pessoas e o seu trabalho. Estariam a ver possivelmente estas três maravilhas, que estão nesse Museu...
sesta depois do trabalho

Noite estrelada sobre o Rhône
o quarto em Arles

Quem conta a história é a senhora Cornacchiari, a benévola acompanhante.

“Eles continuaram a visita a outras salas, menos frequentadas”, disse ela.


Auguste Renoir

Talvez tivessem passado para a sala dos Pointillistes, a ver Signac. Ou o belo auto-retrato de Gauguin, com um Cristo amarelo por detrás. Ou o belo quadro que tem escrito em baixo "Arcarea"...
Paul Gauguin, auto-retrato com Cristo


Gauguin, Arcarea

“Mas nessa altura chegaram quatro  polícias que os conduziram à saída.”
Paul Signac, Mulheres no poço

Bem, felizmente o Ministério da Cultura pediu logo, à direcção do Museu, um “relatório circunstanciado” sobre os desagradáveis acontecimentos.

Como dizia o outro: “tutto il mondo è paese”, quer dizer “em todo o pano cai a mancha”... da alterofobia!

Até o cheiro faz esse efeito!

http://youtu.be/XMv0jwzp4gk
musée d'orsay

7 comentários:

  1. É de lamentar que situações destas aconteçam.
    Pobre é a mente de quem toma atitudes discriminatórias...
    Existem pessoas todas asseadas e perfumadas e com dinheiro no bolso, que certamente não colocaram os pés na exposição. Estas pessoas, podem ter poucos recursos, mas pelos menos interessam-se pela cultura. Devem ter muito que ensinar às outras...

    Curioso colocar este post, pois ainda hoje entrou aqui na livraria um senhor para vender livros, que presumo sem-abrigo. O seu cheiro não era de todo agradável. Mas atendi-o como atendo qualquer outra pessoa, ou seja, com educação e respeito. Não o impedi de entrar nem tão pouco o apressei a sair. Mas depois tive que manter a porta aberta alguns momentos...
    Cada vez se vê mais gente a dormir nas ruas!!!
    É muito preocupante.
    Penso com frequência: e se fosse eu?!

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  2. Gostei muito do seu comentário que só revela o que já sabia de si: a sua atitude só poderia ser essa."Pobre é a mente de quem toma atitudes discriminatórias...", como bem refere. A ignorância e a prepotência andam juntas muitas vezes...
    Eu também penso muito no horror que vai por essa Europa fora e vejo como hoje é fácil cair-se numa situação de sem-abrigo, coisa que nós julgávamos haver só nos filmes!
    Um beijinho

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  3. É uma conversa que tenho tido com alguma frequência, é precisamente como infelizmente hoje em Portugal tanta gente que tinha uma boa situação, ficou sem emprego e mudou completamente a sua vida. Alguns chegaram mesmo a ficar sem nada. Cada vez se ouvem mais casos e é assustador. Penso como a Cláudia: se fosse eu?
    Ninguém está livre, com um país onde as leis parece que não nos protegem de nada.

    Por acaso já tive alunos cujo cheiro era bastante desagradável. Sentava-me junto deles como de qualquer outro e lá ía falando do assunto sempre que possível. Penso que nunca fiz nenhum sentir-se inferiorizado. Nunca. E é curioso que parece que acabamos por ficar quase imunes ao cheiro.
    Eles não têm culpa. Ou são as mães, quando se trata de desleixo ou as condições em que vivem. É triste é que crianças tenham que viver assim.

    Já falei demais.
    E não disse como gostei de todas as pinturas do post. Lindas!
    Um beijinho grande

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    1. É uma questão de sensibilidade, Isabel, nem todos reagem como tu e a Cláudia que têm respeito pelos seres humanos sejam quais for as circunstâncias. O problema é tão complicado!Penso que a única é interrogarmo-nos: e se fosse eu? No fundo, segundo os Evangelhos, era o que Jesus dizia: "faz como gostares que te seja feito".
      E o meu Rabbi andava próximo: "não critiques o teu amigo, enquanto não passares pelo que ele passou..."
      Um beijo
      Um beijinho

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  4. Sempre soubémos que havia muita miséria, mas andava longe, até talvez se podia confundir com a ficção. Agora já está ao lado, podemos tocá-la, assim que cada um reage à sua maneira.
    Eu sempre tive o hábito, mesmo quando o que via estava em Somália, de sentir-me agradecida por estar na minha casa. A pergunta da Cláudia ajuda muito a comportar-nos como pessoas: "e se fosse eu?!"
    Beijinhos grandes

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  5. Tens razão mesmo: "Agora já está ao lado, podemos tocá-la, assim que cada um reage à sua maneira."
    A maior parte das gentes prefere nem olhar, fugir, passar à frente. Hoje estou mais atenta à minha atitude. Por respeito pelos outros, sim, e por respeito por mim própria também.
    Um bom dia para ti!

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  6. Sabe-se lá quantos pintores não viveram nas mesmas condições que essas pessoas que foram visitar o museu. E quanto lhe terão dito que o seu cheiro lhes incomodava? Talvez muitos...Espero que a família tenha tido a oportunidade de voltar a ver as pinturas novamente.

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