segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Livros e livrarias e a reforma das mentalidades para quando?



Giorgio De Chirico, litografia Máscaras

"Os livros não são um objecto  de necessidade absoluta", lamentam-se os que não conseguem vender os seus livros.

Ouço-os:
~
"Entre um livro e uma refeição, claro que as pessoas escolhem comer! Ou comprar manuais para a escola dos filhos".

Ou aproveitam esse dinheiro - se o tiverem, digo eu- para comprar mais fruta e mais verduras... 

Fala-se tanto hoje nas vitaminas! Como se fossem baratas hoje, como se a maioria das famílias não se visse obrigada a não as comprar!
Paul Cézanne, natureza morta com maçãs (1890)

E os livros não são as vitaminas do cérebro? A cultura não é  resultado do crescimento e do desenvolvimento das mentalidades? 
A Poesia não é fundamental para abrir os espíritos?
António Nobre e Régio, desenhados por Orlando da Silva


Chagall e o Poeta

Chagall, o Amor e a Poesia, em cada quadro...

Saul Dias e o seu Poeta

Não sabemos todos que é com a educação e a cultura que se poderá fazer a tão urgente "reforma da mentalidade", apregoada por Ribeiro Sanches, recordada por António Sérgio, nos Ensaios...

E nunca realizada por aqui! O Poeta solitário de De Chirico bem o aponta...
De Chirico, O Poeta solitário (1970)

E a conversa com os amigos livreiros continua. 

"Os grandes escritores não se vendem, logo as casas editoras não os editam", outra reclamação de uma livreira que se queixava.

Pensei que a litografia "O Poeta solitário" de De Chirico bem o aponta... Os poetas estão sozinhos! E nós também.


E riu, num riso amargo, acrescentou:

 -Como o Camões não se vende, o melhor é deixar de o editar! E como ele, outros...Deixamos de ler os bons escritores, e pronto! O mercado não gosta deles. Deixemos pois expandir-se a ignorância...

iniciativa de Bairro dos Livros, Porto


É verdade, mas é triste! Sem livros, sem educação o que vai ser das nossas crianças? De nós próprios, se não formos comprando um de vez em quando? 


Alice Munro, McEwan, Clarice Lispector, Tchekhov...


Nunca é tarde para começar a ler, nem nunca é tarde para continuar... 


Rashömon, de Akugawta

Há Livrarias que têm uma acção única pela constante escolha dos bons autores. Na Galileu encontrei há dias estas maravilhas expostas!

Há livrarias que nunca baixaram o nível e que conheço bem: a Livraria Galileu, de Cascais, por exemplo, ou  a Livraria Lumière, do Porto, mais recente.

Ou a Poetria, também no Porto. E tantos alfarrabistas que se prezam e respeitam os leitores.

Nas quais a exigência e a qualidade são um valor! E muitas haveria a referir, felizmente!
Livraria Galileo

O que é preciso é publicar sempre e baixar as taxas sobre os livros. Porque são caros ainda os "nossos" livros...


Livraria Galileo, Cascais

a Livraria Lumière, no Porto, e os clássicos!



Na Livraria Lumière constantemente vou descobrindo novos/velhos livros de grandes autores, e isso é muito positivo!



Há dias dizia uma jovem bloguista: "O que é preciso é mudar as mentalidades!"



Vamos a isso! Vamos escolher a "luz" e o "brilho" da sabedoria: LENDO!

http://livrarialumiere.blogspot.pt/2013/02/ler-e-um-romance.html


13 comentários:

  1. Maria João, tendo a profissão que tenho e que adoro, vejo-me no dever e obrigação de tentar "oferecer" aos clientes os melhores autores, as melhores editoras, as melhores traduções. Existem muitos autores que não aceito comercializar. Se os comercializa-se, certamente que os venderia, ganhando dinheiro com isso. Mas como costumo dizer, o dinheiro não é tudo na vida e prefiro vender menos mas vender livros que me deem prazer vender e ter a certeza que estou a prestar um bom serviço à cultura. Algo do qual me orgulhe!
    A Lumière é uma livraria modesta e que não tem muitas pretensões.
    Sei o que sei, que não é nada. Mas o que sei, devo-o aos clientes, aos livros e ao meu interesse em aprender.

    Ler é fundamental!
    Os livros são veículo de tanta felicidade e conhecimento!

    Livros sempre!!
    Não consigo imaginar a vida sem livros...

    Um beijinho grande.:))

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    1. Eu sei, Cláudia, quanto gosta do seu trabalho. E também sei como é bom estar na sua (vossa, pois a Alexandra é igualmente uma pessoa de grande sensibilidade!) livraria!
      basta ler o que aqui diz:

      Ler é fundamental!
      Os livros são veículo de tanta felicidade e conhecimento!
      Livros sempre!!
      Não consigo imaginar a vida sem livros...

      Obrigada!

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  2. Adorei o post!
    Conheço a Galileu e se Deus quiser hei-de conhecer a Lumière!
    Fiquei com vontade de ter alguns dos livros que por ali vi.

    Concordo com a Cláudia, que os livros são veículo de tanta felicidade e conhecimento.
    Com a crise, já cortei em algumas coisas, mas os livros não.
    Os livros são-me essenciais!

    Um beijinho grande para a Maria João e para a Cláudia.

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    1. Isabel, és um exemplo da "necessidade" de ler! vejo como compras ( e ofereces!) livros, como uma coisa essencial...
      Um beijo!

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  3. Os livros são cada vez mais um mercado, vendem-se nos centros comerciais ao lado das hortaliças esses best-seller feitos com trucos comerciais, para entreter e não fazer pensar, não deixar nada dentro do leitor. Eu nego-me a perder um minuto lendo o que não me interessa, por muito que seja a leitura de moda do momento. O que eu tenho claríssimo é que aos meus netos lhes vou oferecer sempre livros, os mesmos que fizeram as minhas delícias. Espero encontrá-los ainda à venda, em espanhol!
    Que tenhas uma boa leitura, beijinhos

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    1. É uma tristeza vê-los como um "produto"! Até porque a escolha é péssima: consumo, consumo, consumo! Tudo junto: das bebidas às couves, passando pelas salsichas!
      Claro que só vais oferecer esses livros aos teus netos! Eu não tenho netos...mas faria o mesmo!
      beijos

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  4. Uma postagem maravilhosa em ideias e em arte.
    Os livros são isso tudo: a arte no dia a dia, a vitamina do cérebro.
    Não parei de comprar livros, embora o orçamento seja menor.

    O bairro dos Livros é uma bela iniciativa,
    Beijinhos e obrigada por estas vitaminas. :))

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    1. temos de nos "apoiar" uns aos outros e continuar a impingir as vitaminas! A Margarida E. tem toda a razão, mas a nós compete-nos "o que pudermos fazer"! Além de votar (bem) é aconselhar os outros dentro do nosso pequeno âmbito...
      beijos

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  5. Concordo, mas o problema é complicado, sobretudo no nosso país. Somos um país de bons escritores e poetas, mas o nosso mecenato sempre foi tradicionalmente fraco. Os livros são caríssimos, os níveis de cultura estética e literária baixíssimos, o materialismo vence sempre tudo. Quando há cortes e aumentos de impostos a cultura e a arte são sempre as primeiras vítimas. Logo a seguir vem a educação e a saúde - porque paradoxalmente também parece que são bens de luxo. Ainda não se convenceram os portugueses que nos governam que os países mais avançados são exactamente aqueles onde há mais empenho na cultura, na literacia e na formação cívica - e isso não é o mesmo que ter o 12.º ano ou mesmo um curso superior. A reforma / revolução das mentalidades tem de começar nos governantes a apoiarem seriamente a cultura e simultaneamente assegurarem que todos têm acesso aos bens essenciais de sobrevivência (casa, saúde, educação, tempo) para poderem verdadeiramente desfrutar e compreender a cultura que "consomem". Não se pode pedir a pessoas com dificuldades que comprem livros (de 20 euros por exemplo), que vão ao teatro ou à ópera,... Não se pode esperar que as pessoas que a única cultura que têm é a que é impingida e mal digerida nas escolas, que tenham sentido crítico. O problema começa quando os nossos governantes também não parecem perceber nada de cultura e a sua única ambição é ter poder e dinheiro...

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    1. Sei que tem razão e que tudo é também uma questão de "política". Considerar educação, cultura e saúde como "não-prioritários" é apenas o suicídio de um país...
      "A reforma / revolução das mentalidades tem de começar nos governantes a apoiarem seriamente a cultura e simultaneamente assegurarem que todos têm acesso aos bens essenciais de sobrevivência (...)" É isso mesmo, era a si que me referia quando falei da revolução das mentalidades...
      Tenho seguido o programa da Educação do novo governo (PS) francês e vejo a importância que o ensino voltou a ter!
      Continuemos lutando!

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