domingo, 10 de agosto de 2014

Perseguidos e perseguidores, sempre... Babilónia e Sião...


A Torre de Babilónia, por Peter Brueghel, o velho

Perseguidos pelos djihadistas do Exército Islâmico do Iraque e do Levante (o EIIL ou ISIS - Islamic State in Iraq and Syria que pretende instalar um "califado", abrangendo as regiões do Iraque e da Síria), os yazidies, minoria religiosa estão ser mortos porque considerados seguidores de heresia que os EILI consideram impura e politeísta. 
o EIIL no Iraque, entrada em Bagdad

Primeiro foi a perseguição aos cristãos que fugiram em grande número para o Kurdistão.





Os Yazidis vivem no Iraque, pobre Iraque, de cultura milenária, devastado, pela cobiça de tantos! E morta, cheia de mortos e de lutas fratricidas, decadente, carente de tudo - menos de petróleo. Que uns, atrás de outros, vão cobiçando.


Exército Islâmico do Iraque e do Levante 

De facto a religião dessa pequena minoria, num enclave perto do Kurdistão, é uma religião sincrética em que se unem preceitos do islamismo e do cristianismo, aliado ao culto do sol, e a um código ético especial e à leitura dos textos sagrados.

O famoso código de Hamurabbi

o Tigre e o Eufrates

Na bela região cantada pelos antigos, entre o rio Tigre e o Eufrates, o sangue corre há muito. "Os rios que vão" de que fala a conhecida e bela redondilha de Camões...

"Sôbolos rios que vão
Por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
De meus olhos foi manado;
E, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado."

os legendários Jardins Suspensos de Babilónia

Os yazidies que na maioria pertencem à etnia kurda acreditam numa Cosmogonia criada ainda na antiga Babilónia, a sua idiossincrasia está próxima do que se chamou “mitraísmo” – praticado nas catacumbas do Baixo Império Romano. Devotados ao culto do Sol, mantêm um estricto código ético que considera que o bem não existe se o mal, seguem vários textos sagrados e protegem cuidadosamente as suas manifestações espirituais." (in El Mundo online)

 “Sempre respeitámos todas as crenças. De facto com o tempo temos assimilado valores de diversas religiões, especialmente o cristianismo e o islão...”, diz uma refugiada yazidi, a quem os kurdos deram asilo.

"Mais de trezentas família" – contou um deputado iraquiano yasidi- "se encontram hoje encurraladas nas aldeias de Koya, Hatimiya e Oaboshi: conversão ou morte."

o EIIL no Iraque

Outros foram já chacinados e fala-se de crianças degoladas, mulheres violadas, como acontece nestes massacres "ideológicos" ( e não só, como diria o "outro", que não sabemos quem é...) 

"Cerca de 500 enterrados vivos. Cerca de 300 mulheres foram reduzidas à escravidão."

Muitos fugiram para as montanhas onde continuam isolados e cercados de elementos do EI que têm indo conquistando todo o norte do Iraque.
ao alto à esquerda, os Montes Sinjar

Fugiram da cidade de Sinjar e, longe, no alto das montanhas de Sinjar, sequiosos, há 3 dias, muitos morreram de fome ou de insolação e poucas hipóteses têm de ser assistidos. Os telemóveis começam a ter as baterias gastas. 
Em breve ficarão esquecidos pelo mundo, como normalmente acontece? 

As últimas notícias dizem que "desses 50.000 encurralados há dias nos Montes Sinjar, sob a ameça dos djihadistas (La Stampa) terão conseguido escapar 20.000, ajudados pelos kurdos que abriram um corredor na montanha, para fugirem.”

Até quando este inferno? Este matança do homem pelo homem? Danos e desenganos, o "triste estado" da mudança, "o bem quão pouco que dura/o mal que depressa vem". Diz o poeta na belíssima redondilha "Sôbolos rios".
a porta de Babilónia, reconstituída no Museu de Berlim

Até quando... 
"Vi ao bem suceder mal
E, ao mal, muito pior"?


Quem me dera que não fossem sempre "tristes palavras ao vento" as do homem justo e sábio, pessimista lúcido, que Camões foi!

(...)
"E vi que todos os danos
Se causavam das mudanças
E as mudanças dos anos;
Onde vi quantos enganos
Faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
Quão pouco espaço que dura;
O mal que depressa vem,
E quão triste estado tem
Quem se fia da ventura.

Vi aquilo que mais vale,
Que então se entende melhor,
Quanto mais perdido for;
Vi ao bem suceder mal
E, ao mal, muito pior.
E vi com muito trabalho
Comprar arrependimento.
Vi nenhum contentamento,
E vejo-me a mim, que espalho
Tristes palavras ao vento."

(...)


Para quem quiser saber mais sobre Iraque e o EIIL:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Iraque

http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_Isl%C3%A2mico_do_Iraque_e_do_Levante

AS imagens do Iraque e do EIIL foram retiradas da "net" e do jornal La Stampa

3 comentários:

  1. Uma realidade bem triste. O século XXI ainda não se pode chamar o século da tolerância pois estamos exactamente na mesma...:(

    Beijinho. :))

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  2. É muito triste!

    Não adiantam as palavras para quem não sabe o que é o respeito pelos outros.

    Um beijinho grande e uma boa semana :)

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  3. Bom trabalho MJ.
    Quando se nasce entra-se num meio hostil, perigoso, mas a ação do homem, paradoxalmente, potencia e os perigos indefinidamente. Sem emenda continua a violentar, roubar e matar.

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