Christina
Rossetti nasceu na época vitoriana, filha de
Gabriele Rossetti, poeta e filósofo italiano exilado em Londres, refugiado
político do Reino das Duas Sicílias (Reino de Nápoles e Reino da Sicília).
Christina nasce em Londres a 5 de Dezembro de 1830 e morre, com um cancro, em Londres, a 29 de Dezembro de 1894.
Christina nasce em Londres a 5 de Dezembro de 1830 e morre, com um cancro, em Londres, a 29 de Dezembro de 1894.
Na
década de 40, o pai tem um colapso mental e permanece incapaz. É Christina
quem vai ficar em casa para o tratar. Esforço demasiado para ela, de saúde frágil, que terá um
esgotamento. Adoece e nunca mais a sua saúde vai ser boa.
A família Rossetti, por Lewis Carroll
Com a doença do pai, a situação financeira altera-se. Os irmãos William Michael e Dante Gabriele vão estudar apesar dessas dificuldades financeiras e singram no campo das artes, mas Christina e a irmã Maria Francesca, não.
Dante Gabriel Rossetti, o mais velho, vai ser um grande pintor e William Rossetti um crítico de arte apreciado.
Christina e Maria Francesca, por Dante Rossetti
Dante Rossetti, Auto-retrato
Dante Gabriel Rossetti
William Rossetti
Dante Rossetti, Vida da Virgem Maria
Christina, próxima
dos irmãos -e do grupo dos Pré-Rafaelitas- esteve noiva de James Collinson mas o noivado
desfez-se, em 1850, por motivos de incompatibilidade religosa: ele, cristão, e ela, anglicana.
Conta Virginia Woolf: “Amavam-se mas ele era um Católico Romano e ela recusou-o. Ele tornou-se membro da Igreja de Inglaterra, e ela aceitou-o então. Mas ele vacilou porque era sincero na sua fé - e Christina, apesar do coração desfeito, e da vida para sempre sombria, termina o noivado".
Mais tarde tem um apaixonado mas Carley é um “espírito livre” e ela afasta-se dele. O Deus dela é um Deus duro e rigoroso e ela é um espírito religioso.
Um pouco de amargura terá guardado toda a vida destas experiências
falhadas. Sente-se nos seus versos.
Conta Virginia Woolf: “Amavam-se mas ele era um Católico Romano e ela recusou-o. Ele tornou-se membro da Igreja de Inglaterra, e ela aceitou-o então. Mas ele vacilou porque era sincero na sua fé - e Christina, apesar do coração desfeito, e da vida para sempre sombria, termina o noivado".
Mais tarde tem um apaixonado mas Carley é um “espírito livre” e ela afasta-se dele. O Deus dela é um Deus duro e rigoroso e ela é um espírito religioso.
Um pouco de amargura terá guardado toda a vida destas experiências
falhadas. Sente-se nos seus versos.
Dela, diz Virginia Woolf que era “um génio” (1). E o poeta Swinburne acha que ela é a “coroa”
dos Pré-Rafaelitas. Os Pré-Rafaelitas (3) preconizavam um regresso ao pormenor e às cores intensas e às complexas composições dos artistas do Quattrocento italiano, os Renascentistas.
Há
quem aproxime a poesia de Christina da de Emily Brontë: duas jovens mulheres -com pouco saúde
e vidas difíceis- escrevem uma poesia muito melancólica, num olhar impregnado de mágoa e
de solidão.
Contemporânea
de outras mulheres escritoras que vão criando uma literatura à margem, como as inglesas Elisabeth Barrett-Browning (1806-61) e George Eliot (1819-1880) - ou a
americana Emily Dickinson (1830-1894) - estão a par dos modelos literários do tempo,
basicamente masculinos.
Importante relevar que George Eliot (Mary Anne Evans) escolhe um pseudónimo
masculino para publicar os seus romances. Onde se refere à desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres, com lucidez e um certo humor.
George Eliot, aos 30 anos
Emily Dickinson
Com
menos de 20 anos, Christina Rossetti inicia-se na literatura, e escreve o romance 'Maude: A Story for Girls' que sairá, postumamente, publicado pelo
irmão William Michael Rossetti.
Christina fotografada por Lewis Carroll
“Pertenceu ao movimento dos Pré-Rafaelitas, publicou na revista 'The Germ' (o primeiro número sai em 1850) com alguns poemas, mas não participava nas reuniões porque se realizavam à noite e o irmão, Dante Gabriel Rossetti, na qualidade de irmão mais velho, não deixava que ela saísse de casa à noite.”(in Prefácio, pág. 23)
The Germ, 1850
Christina Rossetti está, porém, muito avançada em relação ao seu tempo e em relação à atitude dos homens do seu
tempo.
“E não aceita os modelos
comportamento social, cultural e estético do século XIX, procura transformá-los
de acordo com os seus desejos e expectativas Aquela, para quem a poesia surge da
angústia de querer sempre mais, possuía a arte de fazer seu tudo o que existia
e que o véu do silenciamento, tecido por uma ancestral cultura masculina,
encobrira.” (in Prefácio).
A
sua voz poética aparece, de facto, referida no século XIX como tendo uma
perspectiva própria – muito diferente da voz masculina que predominava.
Os
pintores que a pintam têm a sua visão própria
do ideal feminino: a visão “patriarcal” da mulher em casa, da mulher submissa, angelical
e pura, dos quadros deles. Dante Rossetti, por exemplo, escolhe a irmã como modelo dos seus quadros sobre a vida da Virgem.
Dante Rossetti e Christina, The Life of The Virgin Mary
Como
ela, Elisabeth Siddal, mulher de Dante Rossetti, e que foi pintora também (4), ou Jane Morris, modelos, com Christina, dos pré-rafaelitas, elas próprias
pintoras, poetisas, mulheres cultas que, no entanto, ficaram “perdidas” na noite dos
tempos.
Modelos, mulheres que não têm vida própria: são apenas "sujeitos", fixas na imagem de beleza que o espelho deles reflecte...“uma mesma mulher/um mesmo rosto nas suas telas/uma figura sempre igual/ em pé ou reclinada/ Ela está escondida detrás desses biombos,/E a imagem que o espelho reflecte é a da eterna beleza".
Como ela escreve no soneto: In an Artist's Studio.
Elisabeth Siddal, auto-retrato
Elisabeth Siddal, Beatrix, de Dante Rossetti
Jane Morris, Proserpina, Dante Rossetti
Dante Rossetti
"One faces looks out from His canvasses,
One
selfsame figura sito r walks or leans;
We
found her hidden just behind those screens,
That
mirror gave back all her lovelines.
…
Not
wan with waiting, not with sorrow dim;
Not
as she is, but was when hope shone bright;
Not
as she is, but as she fills his dreams."
Christina
é descoberta nos finais do século XX. E valorizada. Talvez porque houve nesses
anos um recrudescimento da valorização da tradição feminina na escrita. E
talvez, também, pelo interesse novo que foi dado nessa altura à pintura Pré-rafaelita.
Escreve vários livros de poemas, histórias para crianças, Canções de embalar (A
nursery Rhytme Book Common place and others short stories), 1872. Antes, em 1862, escrevera, A Goblin Market and Other Poems, e The Prince’s Progress (1856) e, depois, escreverá Speaking likeness - livro para crianças (1874) que se opõe ao livro Alice no País das Maravilhas.
Alguns poemas:
Quando
eu morrer, amor, não
cantes
canções tristes para mim,
Não
plantes rosas na minha campa
Nem
ciprestes sombrios.
Deixa
a erva por cima de mim
Com
aguaceiros e húmidas folhas
E
se puderes recorda
e se puderes esquece.
Eu
não vou ver as sombras
Eu
não vou sentir a chuva;
Não
vou ouvir o rouxinol
Cantar
a sua dor:
E
a sonhar, no crepúsculo,
Que
não nasce nem desce,
Com
alegria, posso lembrar
Felizmente, posso esquecer.”
(tentativa de tradução minha)
Christina
Rossetti descobri-a há pouco tempo - porque a minha amiga Isabel me ofereceu um
livrinho com os seus poemas, em edição bilingue. Uma boa tradução (de Margarida
Vale de Gato) que é mais uma “versão” pessoal, uma visão um pouco forçada obrigando-se a uma rima, mas que procura respeitar a ideia.
De
facto, o que é traduzir, se não encontrar noutra língua o equivalente a uma voz
e a um sentimento? Dizia-o Boris Pasternak grande tradutor de poetas, ele mesmo
poeta além de romancista.
Confesso que gostei logo dos seus versos. A verdade,
insisto, é que Virginia Woolf a considerava um génio… E Virginia Woolf tinha um grande sentido crítico!
“Remember me when I am gone away
Gone far away into the silent land;
when you can no more hold me by the hand,
Nor I half turn to go yet turning stay.
Remember me when no more day by day
You tell me of our future that you planned:
Only remember me; you understand
It will be late to counsel then or pray.
Yet if you should forget me for a while
And afterwards remember, do not grieve:
For if the darkness and corruption leave
a vestige of the thougts that once I ghad,
Better by far you should forget and smile
Than that you should remember and be sad.”
a tradução a pg. 71:
"Recorda-me quando eu te abandonar
Quando me for sob a terra silente;
quando achares a minha mão ausente,
E eu, querendo partir, já não ficar.
Quando já não me puderes contar
planos de um futuro que nos não cabe,
recorda-me somente; tu bem sabes
que então será tarde para rezar.
Mas se me esqueceres entrementes
e depois recordares, não lamentes:
pois se a corrupção te assombrar os dias
Com ideias que eu tinha na cabeça,
melhor será que esqueças e sorrias
do que minha memória te entristeça."
* * *
Sobre ela:
Marsch, Jan "Christina Rossetti: a writer’s life”, New York-Viking Press, 1995
Harrison,
Anthony H. (ed) “The letters of Christina Rossetti”, 4 volumes, University Press
of Virginia, 1977
Muito interessante este video sobre a sua vida e obra:
http://www.bl.uk/learning/langlit/poetryperformance/rossetti/josephinehart/aboutrossetti.html
Muito interessante este video sobre a sua vida e obra:
http://www.bl.uk/learning/langlit/poetryperformance/rossetti/josephinehart/aboutrossetti.html
* * *
(1) Christina Rossetti, O Mercado dos Duendes e Outros Poemas,
tradução de Margarida Vale de Gato, editora Relógio d’Água, 2001.
(2) Virginia Woolf, “I am Christina Rossetti”, in The Common Reader, Second Series,
London, Hogarth Press, 1965)
(4)http://en.wikipedia.org/wiki/Elizabeth_Siddal