segunda-feira, 3 de outubro de 2016

René Magritte e o Surrealismo, no Centre Pompidou



Magritte (1967) e o quadro 'O filho do homem'
René Magritte, Os Amantes (1928)
Magritte, 'A história central'
 René Magritte nasce em Lessines (Bélgica) em 21 de Novembro de 1898, filho mais novo de Léopold e Regina Magritte. A mãe suicida-se, em 1912, deitando-se ao Rio Sambre, tem ele 13 anos. 
René vê quando a tiram da água - com o rosto tapado pelo vestido. Impossível que a cena o não tenha marcado. Quantos figuras sem rosto, ou veladas por um pano, descobrimos na sua obra. No entanto, sempre se negou a aceitar uma interpretação psicológica ou analista das suas pinturas.

Académie Royale des Beaux-Arts
Poucos anos mais tarde, em 1916, entra para Académie Royale des Beaux-Arts de Bruxelas. Ali encontra Georgette Berger com quem casa em 1922. 
Magritte, O ovo e a pomba
Magritte vai nesse ano trabalhar numa fábrica de papel de parede. É também desenhador de cartazes, e de anúncios, até ao ano de 1926, quando consegue um contrato na Galerie du Centaure, em Bruxelas. 
Le jockey perdu, 1926
Decide então fazer da pintura a sua única actividade. Pinta nesse ano Le jockey perdu e, no ano seguinte, realiza a sua primeira exposição. 
Magritte, O filho do homem
Magritte, A corda sensível
Está próximo da pintura de vanguarda –  uma forma de surrealismo realista-  mas essa representação do real não lhe era suficiente: necessitava da poesia. O lirismo encontra-o na obra de De Chirico.
Magritte, ilusão de óptica?
DE CHIRICO:
Giorgio Chirico, As musas inquietas
Giorgio De Chirico (1911), Nostalgia do Infinito
Deixa-se influenciar pela pintura de Giorgio Chirico (*), a chamada 'pintura metafísica’, enigmática, cheia de metáforas e de mistérios, de solidão e de espaços vazios. 
De Chirico (Grécia, 1888 - Roma 1978) viera estudar para Florença, depois para a Alemanha onde fora influenciado  pela filosofia de Shopenhauer e de Nietsche. Cria a Escola Metafísica, evoluindo depois para o Surrealismo.
Giorgio Chirico, Love song
Giorgio Chirico, A melancolia das ruas desertas
Giorgio Chirico, Auto-retrato
Giorgio Chirico, Ruas desertas (com xadrez?)

Magritte, A condição humana (tabuleiro de xadrez?)
Insólitos os quadros de Magritte, no modo como pinta as imagens que, apesar de realistas no seu desenho e tratamento, parecem aproximar-se de uma visão ilusionista das coisas. 
Magritte e A condição Humana
As imagens são realistas -no objecto em si- mas colocadas em situações e em atmosferas irreais, mais um tipo de 'metáforas' do que outra coisa. 
Ilusão de óptica? Ilusionismo? Onirismo? Sim, o sonho gira por aqui e o pintor deixa-se levar por ele. Como também Delvaux...
condição humana que é um tema 'pinta' muitas vezes é nebulosa, encoberta num céu de nuvens, isolada num céu que lhe é estranho, imagens sobrepostas em que o real pode ser o imaginário ou vice-versa. 
O real, a realidade, são apenas uma visão pessoal de cada um. Ao pintar um objecto, um rosto, automaticamente o pintor não a realidade tal como ela ali está. E o que é 'real' como um cachimbo afinal não é um cachimbo: é uma ideia de cachimbo.
Magritte, Nu

O Nu sem braços nem pernas é de carne (como parece) ou de pedra? 
A condição humana será a de 'vermos' sem saber se o que vê é real ou aparência do real? 

A paisagem que se vê da janela é o real ou é o quadro que o pintor deixou em cima do cavalete? 
O quadro no cavalete é a realidade que se vê da janela ou, pelo contrário, é apenas a imagem pintada dessa realidade que está detrás do vidro? 

Ciclo repetido o da condição humana: Magritte faria referência no qual o observador mesmo contra a sua vontade, vê um objecto como real e o outro como representação, apenas, desse real.
Magritte, A Tempestade
A tempestade que se pressente está do lado de dentro - ou fora da janela? 
Quem é o 'filho do homem' de quem se não vê o rosto? Quem sou eu? Sou eu ou sou outro?
"Não sou eu nem sou o outro", dizia o poema de Sá-Carneiro. 
Sim, quem sou eu? 
"Eu não sou eu nem sou o outro,
sou qualquer coisa de intermédio
pilar da ponte de tédio
que vai de mim para o Outro”
Magritte,  A condição humana
Magritte, Eu e o Outro?

Magritte (o guarda-chuva equilibrista?)

René Magritte foi contemporâneo de Paul Delvaux outro grande pintor belga, surrealista. O homem que pintou as mulheres! Um mundo intimista? Parece-me mais um mundo de interrogações, de solidão, de espanto, de procura. Onde o vazio e o sonho,  a vida e a morte, rodeiam as personagens, .

Paul Delvaux 

Delvaux nasce em Anthiet (Wanse) em 1897 e morre em Bruxelas em 1994. Em Bruxelas está, aliás, o Museu Delvaux. Deixo algumas imagens em que o insólito se apresenta: Mulheres nuas na rua e observadores que não se espantam, quase as interrogam. E o  esqueleto quem interpela ele? E a mulher que se contempla ao espelho quem vê?
Delvaux, O Museu Spintzer, 1943

Delvaux, Imagem ao espelho?

Paul Delvaux
Paul Delvaux, Pygmalion


Penso que é sempre melhor deixar perguntas, quando se desconhecem as respostas. Cada um terá a sua: a Arte é isso mesmo: a interpretação particular, individual que cada um tem, conforme a sua sensibilidade - José Régio dixit... Nos seus Ensaios sobre Arte. 

A referida Exposição abriu em 23 de Setembro, no Centre Pompidou, e vai estar patente até 23 de Janeiro de 2017. Penso que deve ser maravilhosa!

7 comentários:

  1. Não é o tipo de pintura que mais aprecio, mas há algumas telas de que gosto bastante.

    Aprendo sempre com estas leituras. Obrigada:)

    Um beijinho grande:)

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  2. Sempre me fascinou Magritte, a sua fecunda imaginação, a sua ironia paradoxal. Único no género. Curiosamente nunca me transmitiu sensação de angústia ou pessimismo. Fiquei impressionada com o que dizes ao princípio, fui ver, mas parece ser que não foi tão traumático e que ele não assistiu ao rescate do cadáver. Melhor assim. Pessoalmente, chega-me muito mais Magritte que G. Chirico ou Delvaux.
    Mando-te um beijo muito grande, gosto de te ver tão aplicada!

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    1. Tem de ter sido traumático, digam o que disserem: 13 anos e a mãe a ser retirada do rio (esta segundo a versão da 'internet' que li desta vez...), afogada, enfim tem de deixar marcas...
      Mas ele recusou sempre que se associassem as coisas que pintava a qualquer momento do seu passado...beijos

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  3. Tenho muita dificuldade de apreciar Magritte, pois as suas criações parecem-se pretensiosamente transcendentais.
    Conseguiu o que muitos pintores anseiam, tornarem-se imortais pela abordagem do insólito e bizarro. A legenda do cachimbo parece-me infantil...
    Fiquei a perceber melhor o significado dos rostos velados, afinal, devem ser mortos...
    Um excelente trabalho, que agradeço.
    Beijinho, MJ.
    ~~~~~~~~

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    1. Não sei se serão 'mortos', ele recusou sempre associar a morte da mãe a qualquer traumatismo e recusou interpretações 'psicológicas' daquela estranheza dos seus quadros. Acredito que haja "pintores que anseiam tornarem-se imortais pela abordagem do insólito e bizarro", como diz Majo, mas nele não sinto isso. Está bem dentro dele, não é forçado. Para mim é o mundo dos sonhos (pesadelos) que se infiltram no real. É uma pintura onírica, sim, creio mas sobretudo é o irreal no real. O surreal...Abraço e obrigada pela visita

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    2. Começo a olhar Magritte com menos antipatia...
      Abraço grato, MJ.
      ~~~~~~~~~

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  4. Amiga Maria João, alguns quadros são magníficos! Escolher apenas um seria difícil...
    Mesmo os que não "levaria comigo", rendo-me à sua genialidade...
    Sim, ver a exposição deve ser algo inesquecível, algo de fantástico!
    Um beijinho.:))

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