Vou contar uma história de Natal. Chegou-me às mãos um anjinho, enviado por
alguém com quem dantes costumava brincar.
Saltou
do embrulho, brilhante nas suas pérolas, nas contas, nos cristais da estrelinha
que trazia agarrada na mão. E pensei: este anjinho anda à procura duma árvore
de Natal!
Onde há árvores de Natal aqui perto? AS árvores são tão lindas! Andei
pela casa a ver o que podia ser o lugar para um anjo, no Natal.
A
planta das orquídeas parece querer sair de uma hibernação emocional, talvez
saudades da dona que a deixou para eu tomar conta dela.
Depois, vi a arvorezinha que há dois anos foi a nossa árvore de Natal – mas já não é a mesma, tão triste e murcha, com tão poucas folhas onde se possa a pendurar um anjo lá no alto.
Depois, vi a arvorezinha que há dois anos foi a nossa árvore de Natal – mas já não é a mesma, tão triste e murcha, com tão poucas folhas onde se possa a pendurar um anjo lá no alto.
O
anjinho olhava-me com um pedido mudo: “Pega-me,
não me deixes. Eu queria tanto ser o anjo do Natal!”
E
as mãozinhas feitas de pérolas, num gesto que adivinhei de tristeza e de
esperança tocou-me. Há no ser humano solidões escondidas, ignoradas. Há
sofrimento. Há medo de que não queremos falar.
O ser humano é como um vidrinho. Pode durar, pode ambientar-se ou não. Pode partir um dia ou pode ficar.
O ser humano é como um vidrinho. Pode durar, pode ambientar-se ou não. Pode partir um dia ou pode ficar.
Detrás
do olhar do meu anjo eu encontrava outro olhar que me emocionou. A beleza, a
suavidade, a efemeridade dum anjinho de cristal e pérolas e de continhas, com
asas de cetim minúsculas, deu-me de repente vontade de chorar.
Talvez
por ser Natal, talvez por saber que muita gente não tem natal, que há os que
vivem na rua, não têm conforto nem calor, os que são afastados porque
diferentes. Tantas bolas vermelhas, tanto azevinho de bagas rubras, tantos desejos.
É quando mais sinto a dor da separação, da luta dum homem contra outro homem igualmente frágil e mortal: o outro, o desconhecido que, julgamos, vem ocupar o nosso lugar. O que não é igual a nós e é um rival talvez. O que não reconhecemos, o que empurramos, no nosso tremendo egocentrismo
É quando mais sinto a dor da separação, da luta dum homem contra outro homem igualmente frágil e mortal: o outro, o desconhecido que, julgamos, vem ocupar o nosso lugar. O que não é igual a nós e é um rival talvez. O que não reconhecemos, o que empurramos, no nosso tremendo egocentrismo
Há tantos anjos que sofrem nesta altura do Natal.
O meu anjo tem os olhos tristes parecem implorar: “Arranja-me uma árvore numa casa quentinha. Onde haja amor…”
O meu anjo tem os olhos tristes parecem implorar: “Arranja-me uma árvore numa casa quentinha. Onde haja amor…”
Não sabia o que fazer porque este ano não arranjei uma árvore de Natal...
De repente, agarrei-o ao colo, encostei-o ao peito.
De repente, agarrei-o ao colo, encostei-o ao peito.
“Vais ter a tua árvore de Natal, vais ficar
ao pé da estrela do Natal, numa casa bonita, noutra terra, num lugar frio, onde há muita neve, sim. Mas onde terás calor!”
Olhei
os seus olhos transparentes, porque o meu anjo é transparente como todos os
anjos. E disse:
“Vais ter uma família que te acolhe no Natal:
a minha família, a casa do meu filho – a casa dos filhos é a nossa casa, é a
mesma coisa. Ali vamos lembrar os amigos todos!”
O meu anjo sorriu. Eu creio que ele já sabia que tudo ia correr bem.
O meu anjo sorriu. Eu creio que ele já sabia que tudo ia correr bem.
Também eu me senti contente por ele ir viajar connosco. Entusiasmada, decidi levar o Ratinho, o Ouricinho e a Gatinha japonesa!
Feliz
Natal, meu anjo! Que sejas o anjo do Natal que a menina que mo ofereceu e com
quem eu gostava de brincar me escreveu na cartinha que veio com ele: “Que te traga sorte e a todos os teus.”
Bom
Natal, meu Anjo! Bom Natal, meus filhos! Bom Natal, amigos! Obrigada menina da
minha infância com quem brinquei.