terça-feira, 21 de novembro de 2017

Regresso de Trieste! Já cá estou, amigos!



Uma viagem demasiado longa? Sim, sem dúvida! Que meteu aviões, comboios de Veneza a Trieste e de Trieste a Veneza, autocarros e tantos passeios a pé! 

Chegámos tarde a casa e muito cansados.

-Finalmente em casa!, disse o Ratinho, suspirando, já a descansar em cima da minha cama com o Ouricinho e a Gatinha japonesa.
- Mas não gostaste da viagem? 
(Sim, desta vez levei-os...)
O Ouricinho parecia chocado com aquele desabafo do Ratinho. 
- Adorei! O facto de ter vontade de chegar a casa não impede que se tenha gostado do passeio, não achas?
- Conversa! Tu gostas é de estar metido em casa com os teus livros. A ler e a fazer versos…Hihihi.
E continuou, irónico:
- Com os teus pensamentos que são o teu “rebanho”, como escreveu o outro poeta. Eu cá gostei de ver coisas tão diferentes do que há aqui!
- Eu também gostei, claro. E Trieste não é como Roma. São muito diferentes, concordo.
O Ratinho tinha agora um ar compenetrado. Sim, eles já estiveram em Roma. Podem comparar.
- Nada comparável, tens razão. O golfo, as meninas que cosem as bandeiras italianas, o barco grande que veio todo iluminado.

O Ratinho olhava em frente, sonhador, como se recordasse todas aquelas mil luzinhas a brilharem na noite escura. Eu ia desfazendo as malas, as malditas  “maletas” que são o meu pesadelo nas viagens.
O Ouricinho disse, entusiasmado:
- Pois foi! Tão engraçado o barco dentro da noite mesmo quase a querer entrar pela janela! Lembras-te?
O Ratinho, fazendo-se importante, um pouco “snob” e com um ar svagato, ausente, respondeu:
- O problema é que essas naves vêm a abarrotar de turistas ignorantes que olham sem ver nada! E que julgam fixar o mundo nas fotos para verem depois, em casa. E aquelas “selfies” todas iguais que fazem, a rirem-se, com os monumentos por detrás das costas.
- Não sejas injusto, Ratinho, intervim. Há tanta gente por esse terra fora que gosta de descobrir coisas novas. E que têm curiosidade de ver os lugares com que sonharam - nem que seja por poucas horas…
- Achas? Para mim, eles querem ver coisas de mais e a toda a velocidade. O que levam consigo? Imagens. Penso que o que tiram é um conhecimento superficial das coisas. Isso irrita-me. E destroem os lugares…
- Ratinho, tu és um poeta! Tens de te pôr no lugar deles. Não te esqueças que uma emoção, por breve que seja, ou uma impressão forte, durem o tempo que durarem, podem ser uma inspiração para coisas futuras. Fazem pensar. São momentos que, aparentemente superficiais, podem deixar uma marca. Que um dia podemos aprofundar.
Ainda duvidoso, o Ratinho pareceu concordar.
- Tu viste mais do que eu, viveste mais do que eu, tu sabes. E se o dizes, eu quero acreditar. Sim, talvez. De facto, deve ter muito encanto ver a Piazza dell' Unità iluminada, lá de dentro do barco, com as águas do golfo em redor, os barquinhos no porto, a montanha do Carso lá no alto...
Depois acrescentou:
- Mas não impede que esses turismos de massa me pareçam um “comércio”, uma “indústria” em que muitos ganham e os turistas perdem. 
Pensativo, ainda disse:
- Em certas coisas tens razão. As experiências, mesmo curtas, podem ser valiosas um dia mais tarde.
Vittorio Bollafio 
O Ouricinho estava contente por ver que ele concordava connosco.
- A Jana tem razão. Para conheceres tudo, profundamente, tens a vida inteira à tua frente!
E, a rir-se:
- E de certeza que uma vida não vai chegar! O mundo é tão grande e tão belo… Ainda há tanto para ver, não é?

Não lhe respondi directamente. A verdade é que os ouvia e ia pensando como era bom rever os lugares que amámos. Os pormenores em que não reparámos antes, as ruas que descobrimos por acaso e que passam a ser da nossa preferência.
E pensava na via Cavana, em Trieste, ao lado do Jardim Hortis - que só conheci no ano passado e que é todo ele um bairro especial. Com novos cafés, como o Mug, por exemplo, cheio de estudantes e gente simpática, onde o chocolate quente era muito bom!. 
no Caffè Mug

E aquele artista a tocar velhas músicas, no acordeão. Chamava-se Fabio, era amigo de uma amiga nossa e tinha um cão que levava a passear aos domingos, com uma trela vermelha o cão - e ele com um cachecol, vermelho também. Disse-me a Claudia que o cão se chamava Prince e era um bassotto.
E também aquele cãozinho que fazia anos e tinha um lacinho azul ao pescoço, sempre na Via Cavana... 
Ou ir até ao “ghetto” que só conhecemos este ano e onde havia boas livrarias cheias até ao tecto de livros antigos, raridades mesmo, e de livros em segunda mão, ao lado de best-sellers recentes.
Perto das grandes livrarias, vimos o senhor que vendia livros e velhas revistas do Tio Patinhas e do Diabolik, em segunda ou, talvez, em terceira mão - e que nos contou tantas coisas! Do pouco que se vendem os livros, das saudades dos tempos em que começou com uma barraca, tinha então 18 anos e do amor que desde sempre teve aos livros. Toda a vida vendera livros e para ele um livro era a coisa mais maravilhosa que havia.
o arco por onde se vai da Piazza ao ghetto

E lembrei a moeda de um euro que escorregou para debaixo da barraca cheia de livros policiais, os "gialli" Mondadori, diante da qual fiquei especada a ver tanto livro policial bom. Ao pagar,  uma moeda de um euro caiu para o chão e desapareceu. Quis dar-lhe outro euro mas o senhor não aceitou. 
Já mo tinha dadoHá-de aparecer. Para algum sítio foi.” Passados uns dias, quando lá voltámos, desta vez a comprar um livro do Simenon, disse logo: “Apareceu a moeda! Foi o meu neto que a encontrou. Andou ali por baixo e viu-a. Tinha rolado para longe!”
Sim, há pessoas que surgem de repente nem sabes de onde e te dizem uma palavra, te deixam um gesto de gentileza, uma atitude de compreensão, um sorriso doce - e tudo muda nessa manhã em que, por ventura, acordaste mal disposta...
Agora, eles estão a fazer a caminha para se deitarem, A Gatinha japonesa esteve sempre calada porque tinha adormecido na minha cama. 
Estão cansados, excitados, com tantas imagens na cabeça. Imagens que vão assentando. Tantos dias lá por fora, tanta desarrumação, tanta confusão! Tudo se irá ajustando pouco a pouco.

Sim, vou dormir também. lá longe, desce a noite sobre Trieste! Boa noite, amigos! Voltarei para contar mais histórias da viagem!

8 comentários:

  1. Boa noite, mas que surpresa boa vê-los de volta!

    VIVA! Agora vão chegar histórias giras, com os amiguitos como protagonistas!!

    Beijinhos, já estava com saudades:)))

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  2. Gostei muito desta descrição e das fotografias, obrigada por assim poder lembrar de viagens que fiz (embora não a Triste) e ficar com uma ideia de como será esta viagem
    um bom regresso e um beijinho

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  3. sofisticação q.b . (d)escreve admiravelmente!
    sinto-me "ratinho" a "flanar" por entre o texto
    e gosto da sensação.
    abraço

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  4. Saudações nobre amiga e grato pelo carinho e dedicação de sempre. Espero que tenha feito uma perfeita e maravilhosa viagem bem com colhido os frutos desejados. Uma vez mais meu coração ultrapassa além mares e caminha contigo. Namastê

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  5. Venho aqui matar saudades enquanto espero por mais uma história com os meus heróis favoritos!

    Beijinhos:))))

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  6. Que bom estarem de volta... talvez seja egoísmo, pois sei que estavam bem, mas aqueles que amamos queremos que estejam sempre por perto!
    Quanta alegria, quantas vivências, experiência, amizades... Vejo que foram dias (semanas) repletas de coisas boas! Fico feliz!
    Muitas histórias para contar devem ter os nossos amiguinhos...
    Beijinhos para todos.:))

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  7. Um fato: "turistas ignorantes que olham sem ver nada!" Outro fato, este extraordinário, dos melhores da vida: "há pessoas que surgem de repente nem sabes de onde e te dizem uma palavra, te deixam um gesto de gentileza..."

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