A irmã, Maria Alice Pereira Gomes, casou com o poeta Adolfo Casais Monteiro que participou da direcção da “presença” - depois dos dissidentes com José Régio e João Gaspar Simões (1).
Soeiro Pereira Gomes foi um escritor do movimento neo-realista. Poeta, novelista, tradutor, crítico. Soeiro Pereira Gomes, era filho de agricultores e escolheu estudar na escola de Regentes Agrícolas de Coimbra e ali tirou o curso.
Poucos anos depois foi para Angola onde viveu e trabalhou um ano mais ou menos.“Esteiros” é o seu livro mais importante. A obra inclui-se no “realismo socialista” se bem que o exceda e vá mais além na capacidade de análise psicológica, de “fixar” particularidades, pessoas, formas de trabalho.
Os próprios “esteiros” que eram afinal lugares onde, nas margens do
rio Tejo, os jovens – alguns ainda adolescentes – fabricavam peças de barro
para serem usadas em beirais, como telhas.
Há o miúdo Gaitinhas que é muito estudioso e quer vencer na vida, há o garoto da rua que se chama Sagui e há o Gineto, o rebelde, o revoltado. Interessante pensar que um dos seus heróis foi o nadador Baptista Pereira um 'pequeno herói' que nadava como ninguém nas águas do Tejo e que veio a atravessar o Canal da Mancha (2).
A obra divide-se pelas estações do ano, cada uma com os seus encantos e as suas dificuldades. Há o momento das estações como a Primavera ou o Verão - em que os miúdos trabalham e a vida lhes corre melhor. E vem o Outono quanto termina o trabalho e ficam pelas ruas e vem o Inverno com o frio, a miséria e quantas vezes a fome. E por ali andam juntos como pequenos vagabundos à procura de uma estrela.
A vida é difícil para muitos, hoje também. Há pobreza, desemprego –e todos sabemos (fora os que não querem) que era muito pior naqueles anos negros do “salazarismo”. As condições de vida e de trabalho, o abandono da escola, o analfabetismo.
O livro “Esteiros” publicado em 1941 é dedicado “aos filhos dos homens que nunca foram meninos”. A primeira edição tem desenhos de Álvaro Cunhal.
Perseguido pelo regime do 'Estado Novo' porque filiado no Partido Comunista em 1945 Soeiro Pereira Gomes passa à clandestinidade.
Grande fumador, morre com um cancro nos pulmões. A sua vida de clandestino, sempre fugitivo, escondido, sem confortos nem apoios, não lhe permitiu ser tratado. Morreu em 1949 com 41 anos.
Está enterrado em Espinho, onde tinha vivido a sua infância .
(1(1) Joaquim Baptista Pereira nasceu em Alhandra em 1921 e morreu em Junho de 1984. Foi um nadador internacional português de fundo. Pertencia ao 'Alhandra Sporting Club'. Vivia à beira do Tejo e era esse o lugar onde brincava, nadando.
(2) Entre
os principais autores da "presença", destacam-se José Régio - fundador e director, considerado o grande teórico do grupo -, Miguel Torga,
João Gaspar Simões, Adolfo Casais Monteiro e Branquinho da Fonseca.
(3) Esta estrutura geo-morfológica do estuário do rio Tejo influenciou
claramente a vida das populações. Eram terrenos lamacentos de onde se moldavam os tijolos
e as telhas e eram, simultaneamente, zonas de pesca com uma área piscícola invulgar. Também os pássaros são variados.
Não tinha ideia de que morrera tão jovem. Gostei muito deste post, de ficar a saber mais sobre o escritor.
ResponderEliminarGostei muito.
ResponderEliminarQuando está muito frio, lembro-me muito das pessoas que não têm condições de vida, que não têm conforto. É muito triste.
Beijinhos:))
Fazes muito bem em recordar os bons escritores que vão caindo na desmemória. Eu estive a reler Humus, porque adoro a prosa do Raul Brandão, mas confesso que procuro não metrer-me em mundos que me doam, já temos bastante com o presente... Procuro ver sempre a taça meio cheia, malgré tout. Abriga-te hoje!!! Bjhsss
ResponderEliminar