Morreu no passado 29 de Maio o artista e escultor israelita Dani Karavan. Nasceu em 7 de Dezembro de 1930 em Telavive, filho de judeus vindos da Polónia nos princípios dos anos vinte, vive durante muitos anos num kibbutz de que é um dos fundadores em 1948.
Dani Karavan seguiu, provavelmente, a vocação do seu pai, pioneiro e arquitecto paisagista. Jovem sabra (1), vai estudar pintura em Telavive e, depois, na Escola de Belas-Artes de Bézalel em Jerusalém. Ali estuda com vários pintores famosos, mas inclina-se para a escultura e arquitectura de espaços.
Em 1956, parte para Florença estudar durante um ano a arte dos “frescos”. Prossegue a sua formação na Academia da Gallerie Chaumière, em Paris. Acabados as digressões e os estudos, decide instalar o seu atelier no kibboutz Harel de que fora um dos fundadores, em 1948.
Nessa altura trabalha na coreografia
de um ballet da bailarina Martha Graham, em Nova Iorque.
Em 1966, com 36 anos, Karavan torna-se famoso em Israel pelo seu baixo-relevo que orna a parede da Knesset (2).
Nesse mesmo ano é escolhido para construir o monumento no deserto para comemorar a memória dos combatentes da “Brigada do Neguev” mortos em combate durante a guerra de 1948 (3).
A propósito dessa obra, em entrevista para o Jerusalem Post, o artista explicou que a sua intenção era “criar um lugar onde cada um possa gostar de vir pelo prazer da descoberta do lugar e para que através da paisagem e da introspecção que esse suscita viver uma experiência. Quero que as crianças venham aqui brincar e que a memória se misture com a vida. (4)
Em 1976 é o artista escolhido para representar Israel na Biennale di Venezia. No ano seguinte é convidado para a Documenta de Cassel, espécie de Graal dos pioneiros da Arte contemporânea.
A partir deste momento, a UNESCO declara-o “Artista da Paz” e passa a ter muitas encomendas de obras. Muito considerado em Israel e no mundo, recebeu em 1977 o “Israel Prize”.
Em 1998 recebe o Praemium Imperiale, espécie de Prémio Nobel da arte concedido no Japão.
As suas obras ficam integradas nos lugares como se tivessem sempre pertencido ali. Na Alemanha vai construir o “Caminho dos direitos do homem”, em Nuremberga.
Mais tarde, em Berlim Oriental, criará o "Memorial às Vítimas Ciganas, Sinti-ROM, do Holocausto" - vítimas tão esquecidas - iniciado em 1988 antes da queda do Muro de Berlim e continuado depois de 1989 a 2012.
Fácil
de reconhecer pela sua geometria singular, este monumento concebido no
coração de Berlim, perto da porta de Brandeburgo, cria o artista um
monumento recordando o massacre de 500.000 ciganos.
Em 2016, recebe um prémio na Catalunha, em Portbou, pela obra “Passages” (Passatges, em catalão), um "Memorial dedicado a Walter Benjamin" (5).
Não suportava a ideia de ser
reenviado para a França sob o domínio nazi e entregue à Gestapo. Em 1994, Dani Karavan
instala em redor do cemitério da cidade um dispositivo espacial em homenagem ao
desaparecimento de Walter Benjamin.
Entrevistado nessa altura pela "Radio Sefarad" (6) quando em 2016 a sua obra é premiada, Dani Karavan mostra-se feliz e comovido ao mesmo tempo. Para ele as histórias de fronteiras, passagens e de fugas comovem-no e impressionam-no. Os que fogem como Walter Benjamin com medo de morrer.
Nessa entrevista recorda uma professora sua da Universidade que conhecera ainda o grande filósofo e lhes contara a vida desta personagem desesperada e da fuga e suicídio durante a Guerra de Espanha. O "Caudillo" Francisco Franco não permitia a entrada em Espanha dos fugitivos do regime nazi vigente em França.
Karavan quis deixar memória deste grande homem e do seu sofrimento como homem:
o medo, a fronteira proibida, a morte. A "Passagem Fechada",
sem fim, quando as “passagens” devem ser caminhos de paz.
Quer integrar as obras no lugar onde aconteceram e na paisagem, na vegetação, na história, na informação que tem delas.
Assim, em Portbou, Karavan respeita a envolvente vegetação e "imagina" como o escritor passaria naquele local à procura da fuga. Os visitantes vão descobrir apenas depois de um túnel um longo caminho branco que desce a pique até ao mar.
Este humanista, próximo da esquerda israelita, tinha figurado em listas em posição não-elegível nas eleições de 1992 e 2015. E desesperava-se de ver o seu país enterrado num conflito sem fim, longe da Utopia na qual acreditavam os seus pais.
Morreu num momento bem difícil do conflito em Israel que o preocupava, momento de grande tensão para a Paz que continuava a esperar ver chegar ao seu país.
Quis apenas "abrir" este mundo maravilhoso que foi - e continuará a ser- este mundo de Dani Karavan, o "artista da Paz", segundo a UNESCO.
https://jeannebucherjaeger.com/artist/karavan-dani/
Deixo algumas sugestões de leitura. Vale a pena ver e aprender mais...
(1) “Sabra” é o judeu nascido já em Israel do nome do fruto “figo da índia” (sabra em hebraico). Significa que tem picos por fora para se defender, mas é doce por dentro.
(2) "Knesset" é o nome da Assembleia Israelita, situada em Jerusalém
(3) “Guerra de 1948-49” ou primeira guerra “árabe-israelita” como é conhecida, vencida por Israel.
(4) Jerusalem Post, jornal israelita muito popular, publicado em Jerusalém, de centro-direita.
(5) Walter Benjamin (1892-1940) filósofo, ensaísta, crítico literário e tradutor alemão, nasceu em Berlim. Deixou vasta obra literária. Contribuiu para a teoria estética, para o pensamento político, para a filosofia e para a história.
(6) "Radio Sefarad" ou rádio dos judeus espanhóis. De facto, "sefarad" (plural sefaradim) é o nome dado aos judeus da zona ocidental da Europa, os que foram expulsos de Portugal e de Espanha durante a Inquisição.
https://www.danikaravan.com/biography/
https://elpais.com/diario/2002/08/06/revistaverano/1028584801_850215.html
https://www.amazon.com/Larchitecture-inqui%C3%A9t%C3%A9e-par-loeuvre-dart/dp/2912261775
www.radiosefarad.com/dani-karavan-premiado-por-passatges-un-homenaje-a-walter-benjamin/
Não conhecia o artista e gostei das obras dele.
ResponderEliminarFoi muito interessante esta leitura (como sempre!).
Beijinhos e bom fim-de-semana:))
Gostei de ler e de conhecer algumas das suas obras.
ResponderEliminarObrigada minha amiga. Bj
Um grande homem e grande artista, me encanta a sua obra. Bom finde!
ResponderEliminarQue maravilha! Não conhecia a obra dela e agora bem que gostaria de a ver pessoalmente. Bom dia!
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