Eram os passarinhos amarelo-e-verdes, que construíam os ninhos no jardim entrelaçando fitas de andala, pequenos cestos que depois ficavam a baloiçar nos ramos arqueados da buganvília, ou nos braços doces da goiabeira. E até na árvore do café que tinha lindas flores brancas e que um dia morreu.
Ninhos que, passado um tempo, num repente desmanchavam e partiam. Como que desinteressados desse abrigo que lhes levara tantas horas de trabalho a construir com ramos e raminhos para criar aquele cestinho redondo.
Viajantes inconstantes iam buscar outro poiso deixando o ramo em
que tinham estado despido e sem vida.
Havia os que saltitavam, de arbusto em arbusto, agitando a comprida cauda negra, fina e móvel, que parecia estalar num ruído que nos chamava logo a atenção.
Eram os truqui, uns pássaros
pequeninos que cantam e fazem estalar as asas enquanto voam. Também lhes chamam por isso os "bate-asas".
É conhecido também pelo nome de truqui sum deçu, “os passarinhos do Senhor Deus” porque segundo a lenda são-tomense eles iam de manhã cedo acordar o Senhor nos céus.
Longe, na floresta, canta o ossobô (*) de que falam os poetas são tomenses. O seu canto mavioso anuncia as chuvas, quando ele desce lá de cima do ôbó.
Na praia Gamboa, no meio da pobreza e no cinzento das vidas sem esperança, desce subitamente a poesia das garças brancas no seu leve bater de asa suspenso sobre o verde-vivo do capim.
E
os pássaros azuis. E os vermelho-e-negros. Os infinitos pássaros sem nome que
alegram a ilha e que segundo dizem os estudiosos são 'aves endémicas' e contam mais de setenta espécies diferentes.
Emocionavam-me os crepúsculos rubros, o desenho fino dos coqueiros, sombras estilizadas a escurecer até ao horizonte, onde se confundiam, em linhas sobrepostas de contornos arredondados, com a bruma da floresta montanhosa cheia de mistérios.
E havia ainda a balaustrada branca que acompanha o Água Grande e segue, à beira do mar azul-turquesa, pela estrada Marginal onde as raízes curvas dos caroceiros rebentam os passeios.
Os caroceiros têm folhas verdes de cetim brilhante na estação das chuvas mas no fim da Gravana ganham uma cor dourada e vermelha, estriadas de roxo.Perto, o rumor do mar no seu azul esverdeado. Ao
pé dos barcos ferrugentos, encalhados há muito, erguem-se as acácias vermelhas
com seus ramos horizontais, abertos. E, sempre, a baía de Ana Chaves na beleza calma, eterna, parada, qual branco vidro coalhado onde
pairam barcos.
Os pássaros vêm agora silenciosos. A noite vai descer.
***
(*) Ossobô ou Cuco esmeraldino é um pássaro da família dos Cuculidae, o Chrysococcyx cupreus. O poeta que escreveu "O Canto do Ossobô" é Marcelo da Veiga.
http://falcaodejade.blogspot.com/2012/01/o-canto-do-ossobo-de-marcelo-da-veiga.html
https://eportuguese.blogspot.com/2011/07/sao-tome-e-principe-reduto-de-aves.html
Que maravilha!
ResponderEliminarBeijinhos:))
Oxalá nunca se perca toda a beleza que há pelo planeta fora. E haja sempre quem a contemple e sinta com olhos de ver e de sentir. Como tu.
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