Juan Ramón Jiménez foi um grande poeta espanhol. Nasceu em Moguer, cidade da província de Huelva, na Andaluzia, em 23 de Dezembro de 1881. Morreu, exilado, em San Juan di Puerto Rico, em 1958.
Jiménez era um poeta com uma sensibilidade extrema. Sofreu durante anos de várias neuroses, depressões e foi tratado em França e em Madrid. Instala-se em Madrid. Viaja muito.
Juan Ramón Jiménez
Vai pelos Estados Unidos e vai a França várias vezes. Em 1916, numa dessas viagens aos Estados Unidos, encontra a jovem Zenobia Camprubi com quem casa.
Quando, em 1936, rebenta a Guerra Civil em Espanha, Jiménez exila-se nos Estados Unidos da América, depois em Cuba e mais tarde em Porto Rico.
A sua poesia vai ter uma influência enorme na poesia de vanguarda em Espanha - na chamada “Geração de 1927” - um dos movimentos culturais mais importantes do país.
Poetas como Garcia Lorca e Rafael Alberti faziam parte desse movimento. Se bem que Jiménez pertencesse à geração anterior, vai unir-se ao movimento – sendo considerado por muitos deles como um mestre.
Jiménez foi influenciado pelo Simbolismo francês – de Charles Baudelaire a Paul Verlaine mas também pelo poeta romântico espanhol Gustave Bécquer (2).
De 1895 a 1916 pode dizer-se que na obra poética de Jiménez se revela uma “etapa sensitiva”. E pode dizer-se também que a sua obra poética começa realmente em 1908.
Predominam os temas românticos, melancolia, descrições de paisagens, sentimentos indefinidos, recordações e sonhos. É uma poesia sentimental, emotiva, onde sobressai a sensibilidade do poeta. Tudo isso através de um certo perfeccionismo da forma e também da estrutura da poesia.
Juan Ramón Jiménez sofre igualmente a influência de alguns poetas românticos anglófonos.
Como os ingleses William Blake, John Keats e P.B. Shelley (que foi casado com a escritora Mary Shelley, uma grande escritora desse século).
Une-se depois a um grupo de poetas, artistas e pensadores espanhóis - o chamado Novecentismo – uma geração pré-vanguardista. Desta fase talvez Diario de un poeta recién-casado se possa considerar como a obra que mais o aproxima da vanguarda espanhola.
Encontramos outras “inspirações” da sua poesia, por exemplo no Decadentismo de Walter Pater (3) e no Modernismo de Ruben Darío.
Darío, o grande poeta nicaraguense que tem, como Jimenez, uma grande admiração pelos simbolistas franceses (em especial por Paul Verlaine) é uma figura muito importante. (4)
A partir de 1919, no entanto, com Piedra y cielo o poeta começa a explorar outro caminho onde o poema é considerado como uma obra de arte e o poeta como um “criador” – espécie de deus-criador de um novo universo.
Une-se depois a um grupo de poetas, artistas e pensadores espanhóis - o chamado Novecentismo – uma geração pré-vanguardista. Desta fase talvez Diario de un poeta recién-casado se possa considerar como a obra que mais o aproxima da vanguarda espanhola.
Na sua vida, Juan Ramón Jimenez foi um opositor do regime do ditador fascista Francisco Franco. Franco provoca uma guerra, fratricida e sangrenta, a Guerra Civil de Espanha, de 1936 a 1939.
Por essa razão, o poeta decidiu exilar-se nos EUA, no ano de 1936. Dali, segue para Cuba e depois para Puerto Rico onde vive até à morte.
A a partir de 1937, no exílio, a poesia de Juan Ramón Jimenez ganha um cariz mais místico.
O período difícil do exílio americano e sul-americano vai provocar no poeta - que sempre sofrera de neuroses - uma enorme depressão, acentuada sobretudo depois da morte da mulher.
Nestes anos descobre o mar - que considera um motivo “transcendente” – porque, segundo ele, simboliza a vida, o prazer, a solidão e o eterno tempo presente. Dá-se nele uma mudança - uma evolução espiritual que podemos atribuir ao seu desejo de salvação.
Perante a consciência da morte, o poeta procura a transcendência. Esforça-se por atingir a eternidade de um modo muito especial: através da beleza e da "essencialidade" poética.
Aqui, aproxima-se um pouco do movimento criacionista do chileno Vicente Huidobro.
No entanto é com uma obra “poética” em prosa, “Platero e Yo” (5) que, em 1914, Juan Ramon Jiménez começa a ser conhecido em Espanha. É a história do burrinho Platero, uma maravilha de pureza e poesia.
Li-o quando era muito nova - foi um dos primeiros livros que o Manuel me ofereceu quando nos conhecemos.
“Platero” constitui um enorme conjunto de “poemas em prosa” da Literatura Espanhola. Leitura para crianças e adultos em todos os países em que se fala espanhol – e maravilhoso em qualquer tradução porque de uma riqueza emocional tão profunda que todos atrai em qualquer língua. Li-o em português e em espanhol e o encanto foi igual.
O burrinho Platero, um burrinho andaluz, transforma-se num poema à própria Andaluzia e a Moguer, terra do poeta. É como uma forma de “autobiografia” de lírica em prosa.Há quem se refira ao livrinho como “a imortalização da terra natal” de Jimènez – através da “criação” de um mito imortal: o burrinho de Moguer.
Através do autor - quando jovem - e do burrinho, vamos descobrindo a vida simples de uma aldeia andaluza e sentir também a grande afeição que o narrador tem pelo burrinho. Platero é uma personagem do livro e pode servir de confidente ao dono; muitas vezes, porém, é “sujeito” da própria acção do livro.
Os dois percorrem as ruas da aldeia, os campos, “conversando” sobre o que vêem, ou comentando os habitantes da terra que lhes passam ao lado.
É um livro puro e comovente, cheio de beleza e bondade.
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Juan Ramón Jiménez recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 1956. Morre em 29 de Maio de 1958, em Porto Rico, três anos depois da morte da mulher.
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(1)Juan Ramón Jiménez Mantecón nasce em Huelva, na Andaluzia em 23 de Dezembro de 1881. Morre, exilado por motivos políticos, em San Juan di Puerto Rico, em 1958.
(2) Gustave Bécquer nasce em Sevilha, em 1836, e morre em Madrid, em 1870. Filho de um pintor de origem flamenga. O irmão também era pintor. A família Bécquer instalara-se em Espanha desde o ano de 1500.
(3)Walter Pater foi um ensaísta e crítico inglês (1839-1894).
(4)Ruben Darío (1867-1916) é um escritor, poeta, jornalista nascido, em Léon, na Nicarágua. Diplomata, foi Ministro Conselheiro em Madrid e viveu em Espanha alguns anos.
(5) “Platero e Yo” está publicado em português
Que bom vê-la por aqui! Há tanto tempo que não publicava nada...
ResponderEliminarGosto muito do Platero e eu e fiquei com vontade de o ler outra vez.
Os seus post são sempre agradáveis lições, onde se aprende .
Beijinhos. Espero que ande bem😊😊😊
Escritor modernista para a época, sensitivo, romântico, panteísta e assim. Se evadia da realidade, do tempo e do espaço, sempre em sintonía com a natureza, pois a paisagem era a sua paz e liberaçào. Profundamente depressivo, diagnosticado de bipolaridade, teve a imensa satisfaçào de ver a sua obra reconhecida com um Prémio Nobel, nada menos.
ResponderEliminarHoje tenho-te especialmente no pensamento. Espero que ao final seja um muito bom dia. Beijinhos