Releio O Terceiro
Homem (1), de Graham Greene. Pensando bem creio que talvez só me lembrasse do filme. O que não admira pois, de facto,
o livro só existiu para se tornar num
filme.
Graham Greene
Escreve Graham Greene, no Prefácio:
“O Terceiro homem não foi escrito para ser lido, mas para ser visto. Tal como muitos amores, começou a uma mesa de jantar e continuou, com muitas dores de cabeça, em vários locais: Viena; Veneza, Ravelo; Londres, Santa Mónica.
“O Terceiro homem não foi escrito para ser lido, mas para ser visto. Tal como muitos amores, começou a uma mesa de jantar e continuou, com muitas dores de cabeça, em vários locais: Viena; Veneza, Ravelo; Londres, Santa Mónica.
Suponho que a
maior parte dos romancistas trazem na cabeça ou em blocos de apontamentos as
primeiras ideias para histórias que nunca chegam a ser escritas.”
Depois, de
repente, essa ideia é recuperada, muitas vezes simplesmente porque se encontra
um papelinho guardado com uma frase que nos pareceu importante na altura! É o que acontece a
Green: nas costas de um sobrescrito, encontra um parágrafo de abertura:
“Despedira-me de Harry havia uma semana quando o seu caixão foi descido no solo gelado de Fevereiro, e foi portanto com incredulidade que o vi passar, sem um indício de reconhecimento, entre o enxame de gente na Strand.”
"(...) É-me impossível
escrever um argumento para um filme sem primeiro escrever uma história...”
Sir Alexander Korda
Assim, quando Sir Alexander Korda (com quem trabalhara antes, no guião do filme Fallen Idol – O Ídolo caído, 1948, em que Reed também participa) o convida para escrever um guião para o realizador Carol Reed, lembra-se destes apontamentos para o seu “herói”.
Carol Reed
“Nada mais tinha
para lhes oferecer do que este parágrafo”. (...)Eu e Carol Reed trabalhámos
conjuntamente, calcorreando muitos metros de alcatifa, por dia, representando
cenas uma ao outro.”
Green dedica o
livro ao realizador Carol Reed, com as palavras:
"Para Carol Reed,
com admiração e afecto
e em memória
de muitas horas matinais
passadas no Maxim’s,
Casanova e Oriental.”
"Para Carol Reed,
com admiração e afecto
e em memória
de muitas horas matinais
passadas no Maxim’s,
Casanova e Oriental.”
O livro começa,
simplesmente:
“Nunca sabemos quando o golpe vai cair. Quando vi Rollo Martins pela primeira vez, tomei uma nota sobre ele para os meus arquivos policiais:
‘Em circunstâncias normais um pateta inofensivo. Sempre que vê uma mulher, olha-a atentamente e faz alguns comentários, mas parece-me que, na verdade, ele quer é que o deixem em paz. Nunca chegou a crescer, e talvez isso explique a sua admiração por Lime'”.
“Nunca sabemos quando o golpe vai cair. Quando vi Rollo Martins pela primeira vez, tomei uma nota sobre ele para os meus arquivos policiais:
‘Em circunstâncias normais um pateta inofensivo. Sempre que vê uma mulher, olha-a atentamente e faz alguns comentários, mas parece-me que, na verdade, ele quer é que o deixem em paz. Nunca chegou a crescer, e talvez isso explique a sua admiração por Lime'”.
Continua:
“ Escrevi a frase 'circunstâncias normais' porque o meu encontro com ele deu-se no funeral de Harry
Lime. Estávamos em Fevereiro e os coveiros do cemitério central de Viena
tiveram de usar brocas eléctricas para abrir uma cova no solo gelado. Parecia que
até a natureza tentara rejeitar Lime, mas por fim lá ficou sepultado. (...)
Rollo Martins afastou-se rapidamente, como se as suas pernas compridas
quisessem desatar a correr, enquanto pelo seu rosto de trinta e cinco anos
corriam lágrimas de criança. Rollo Martins acreditava na amizade.”
Não vou contar a
história, claro. Uma intriga de espionagem, na Viena destruída e nevoenta do pós-guerra,
dividida e ocupada por quatro potências: a russa, a francesa, a inglesa e a americana. Num clima de espionagem e de "suspense" característicos da recém-iniciada "guerra fria"...
Quem era Harry
Lime? O que fez Rollo Martins?
Sobre este último diz ainda o autor: "Rollo Martins acreditava na amizade, e foi por isso que os
acontecimentos posteriores o chocaram muito mais do que vos teriam chocado
a vocês ou a mim (...). Se ao menos ele tivesse vindo falar comigo, muitos
problemas se teriam evitado.”
O encanto foi
lançado! Quem não tem vontade já de entrar neste mundo mágico? De saber o que se passou com Harry Lime ou por
que razão Rollo Martins se chocou tanto com os "acontecimentos posteriores"?
Nascido em Inglaterra em 2 de Outubro de 1904,
Graham Greene morre na Suíça, me Vevey, a
3 de Abril de 1991.
Estudou História
na Universidade de Oxford, trabalhou como jornalista, a partir de 1926, foi
repórter e sub-director do jornal The Times.
O primeiro livro que
escreveu intitulava-se “Stamboul Train”
(O Expresso do Oriente), e sai em 1932. É o primeiro de uma série imensa. Dos quais gosto muito e vos aconselho!
Para começar, O Terceiro Homem. Depois todos os outros!
Com um pensamento especial para "Brighton Rock", livro terrível - de que também existe um filme...
Para começar, O Terceiro Homem. Depois todos os outros!
Com um pensamento especial para "Brighton Rock", livro terrível - de que também existe um filme...
Sobre o filme:
http://youtu.be/EFLiojz_05w
"O Terceiro Homem":
Filme britânico, realizado por Carol Reed, em 1949, com Orson Welles, Joseph Cotten, Alida Valli e escrito por Graham Greene e Alexandre Korda.
Interessante saber que a música (depois, famosa) do filme, foi criada por Anton Karas um músico de origem húngara que tocava cítara num "beergarden" de Viena.
Carol Reed ouviu-o e quis que ele fizesse a música do filme!
http://youtu.be/EFLiojz_05w
"O Terceiro Homem":
Filme britânico, realizado por Carol Reed, em 1949, com Orson Welles, Joseph Cotten, Alida Valli e escrito por Graham Greene e Alexandre Korda.
"beer"na janela, foto de MJF
Carol Reed ouviu-o e quis que ele fizesse a música do filme!
cítara
Liebermann, Beergarden
Anton Karas e a sua cítara
(1) Publicações
Europa-América, "Colecção século XX"
(1) Casa das Letras, 2011
Mais videos do filme:
(1) Casa das Letras, 2011
BLOGS:
Li "O Americano Tranquilo", "O nosso agente em Havana"... agora não me recordo de mais títulos.
ResponderEliminarGostei sempre dos elencos que ele criou.
Beijinhos.:)
Este é um belo livro, porque ele é sempre bom! O filme é um dos clássicos de sempre! Se não viu, tem de ver! Se tivesse o DVD emprestava-lho!
ResponderEliminarBom fim de semana