Cuno Amiet, Mãe e filho (1889)
Costuma-se dizer que atrás de uma cereja,
outra vem...
Atrás de um pintor e de um quadro, que descobrimos, outros aparecem.
Foi assim, que fui parar à Suíça e descobri que, além do magnífico chocolate, da natureza esplendorosa e protegida, dos lagos, das neves eternas dos glaciares e da paisagem verde, com os chalets empoleirados (bem, e do relógio de cuco!), outras coisas há.
Foi assim, que fui parar à Suíça e descobri que, além do magnífico chocolate, da natureza esplendorosa e protegida, dos lagos, das neves eternas dos glaciares e da paisagem verde, com os chalets empoleirados (bem, e do relógio de cuco!), outras coisas há.
Têm também o sossego (de vários tipos) e, por isso dois grandes personagens da cultura se acolheram : Charles Chaplin, em Vevey, e Simenon, em
Lausanne.
Mas, na Suíça, há Arte, claro!
Conhecia Blaise
Cendrars, mas raras vezes me lembro que ele é suíço.
A minha amiga
Jeanne, suíça, falou-me do poeta Amiel, e mostrou-me passagens do seu "Diário", muito interessantes.
Amiel
Cuno Amiet, Auto-retrato
Hoje descubro Amiet,
o pintor Cuno Amiet...
Cuno Amiet nasceu no
Cantão de Solothurn, um dos vários da Suíça, em 28 de Março de 1868 e morreu em 1961, no dia 6
de Julho.
Na wikipedia vejo:
“Pintor suíço, ilustrador, artista gráfico e pintor.(...) Foi o primeiro a dar
precedência à cor sobre a forma e foi um precursor da Arte Moderna, na Suíça.”
Frequentou a Academia
de Arte de Munique de 1886 a1888, onde se tornou amigo do italiano Giovanni
Giacometti, também post-impressionista e pai do famoso escultor e artista plástico, Alberto Giacometti.
Giacometti (pai) "Pensativa", 1913
Giacometti (filho) Mulher de Veneza II, 1956
De 1888 a 1892 foram os
dois para Paris, estudar na Académie Julian, tendo como mestre William-Adolphe Bouguereau.
Descontente com o
ensino da Arte "académica", Cuno Amiet junta-se à Ecole de Pont-Aven, na Bretanha, onde vai ser aluno de Emile Bernard, de Paul Serusier, Maurice Denis, Mestres do movimento dos “nabis” (***).
um maravilhoso Maurice Denis
Paul Serusier, La laveuse
Onde encontra Gauguin
e Van Gogh...
Auguste Renoir tem também o seu período em Pont-Aven... Os temas aproximam-se, as cores e as pinceladas difetem.
Émile Bernard, "O perdão em Pont-Aven" (1888)
Van Gogh, "Mulheres bretãs" (inspirado em Emile Bernard,1888)
Paul Gauguin, "Sermão e visão em Pont-Aven" (1888)
Paul Gauguin, "O Cristo Amarelo" (1889)
Paul Gauguin, Pont-Aven
Van Gogh, "Pietà", cópia de um quadro de Delacroix (1889)
A Escola de Pont-Aven
que reuniu, em redor da forte personalidade de Gauguin, uma série de jovens
pintores à procura de uma liberdade não-académica.
Como diria depois de si mesmo Gauguin: “O direito de ousar
tudo”. Ele que não mentia e ousou de facto tudo!
Pouco a pouco, nesta pintura, surgira o afastamento
do impressionismo e da pintura da realidade (en plein air) ao ar livre, em plena luz. E partem à procura de outra harmonia - essa existente fora do real.
E o que passa a ter importância é a cor! As formas contorcidas! O grito do irreal presente em tudo!
E o que passa a ter importância é a cor! As formas contorcidas! O grito do irreal presente em tudo!
As cores fortes, as
personagens hieráticas das mulheres bretãs com os toucados de formas estranhas, “voadoras”, que lembram asas de anjos; ou as medas de trigo com tons de vermelho
vivo, ou cor de ferrugem; ou as figuras verde-chumbo do Cristo morto, de Gauguin.
Paul Gauguin, O Cristo Verde (1889)
Gauguin, Auto-retrato com Cristo Amarelo
As árvores azuis ou os campos vermelhos gritam como num manifesto.
O "fauvismo" cria-se, inventa-se.
"Fauvisme" vem da palavra francesa “fauve”. Eles eram “les fauves”, as feras, como lhes chamaram os críticos, devido às cores vivas e violentas dos seus quadros.
O "Fauvisme" no Salão de Outono em 1905
Se o Simbolismo dava
a primazia ao sonho e ao mistério, aos fantasmas ou às visões proféticas e oníricas, então, aqui, com os pintores de Pont-Aven, criou-se, em certa medida, o caminho para ele.
Pintor expressionista Amiet?
Sim, também, "porque os pintores ditos “expressionistas” (**) defendiam uma arte “intuitiva”, pessoal, expressiva, onde predominasse a visão “interior” do artista (expressão) sobre a plasmação da realidade instantânea (a impressão)" (wikipedia).
Sim, também, "porque os pintores ditos “expressionistas” (**) defendiam uma arte “intuitiva”, pessoal, expressiva, onde predominasse a visão “interior” do artista (expressão) sobre a plasmação da realidade instantânea (a impressão)" (wikipedia).
Tudo isto Cuno Amiet encontrou em Pont-Aven. E tudo absorveu e tudo o interessou, deitando cá para fora a sua "visão interior" do real.
Escolhe as cores puras, fortes, deixando as composições tonais.
Escolhe as cores puras, fortes, deixando as composições tonais.
Em 1893, por questões
monetárias, vê-se obrigado a deixar Paris e Pont-Aven e volta à sua terra natal.
Abre um estúdio em Hellsau.
Em 1894, uma sua exposição na Kunstehalle Basel é mal recebida.
Continua a trabalhar, a pintar.
Amiet, Menina com flores (1896)
Jarra de flores (s/d)
Abre um estúdio em Hellsau.
Em 1894, uma sua exposição na Kunstehalle Basel é mal recebida.
Continua a trabalhar, a pintar.
O sucesso vem em
1898, com um retrato que não encontrei do pintor de Ferdinand Hodler, pintor suíço conhecido.
Em 1899, Amiet ganha uma medalha de prata na Exposição Universal, com o quadro intitulado Richesse du soir.
Hodler, Auto-retrato 1915
Em 1899, Amiet ganha uma medalha de prata na Exposição Universal, com o quadro intitulado Richesse du soir.
Depois de 1900, participará em várias exposições, na Europa.
Cuno Amiet,1918
Em 1953 pinta um magnífico auto-retrato com as cores de Pont-Aven...
Auto-retrato, 1953
Encontrei várias imagens dos quadros de Amiet neste site de leilões "artfact":
(*) Como dirá o
pintor Maurice Denis, que é um dos expoentes maiores do movimento "nabi": "a Escola de Pont-Aven teve uma grande influência em muitos
artistas que se reuniam em volta de Gauguin naquela aldeola.”
(**) “O expressionismo acaba por ser visto mais tarde como a “deformação” da realidade - para exprimir (expressar) de forma ainda mais
subjectiva a natureza do ser humano.” (wikipedia
(***) Os “nabis” (em hebraico e a palavra para “profetas”) é um movimento pictórico de influência religiosa e oriental – com uma tendência mais decorativa do que tivera o simbolismo.
Nos finais do século XIX, surge a “descoberta” da Arte Japonesa. De facto, a abertura da École des Beaux-Arts, em 1890, coincide com a "Exposição de Arte Japonesa".
(***) Os “nabis” (em hebraico e a palavra para “profetas”) é um movimento pictórico de influência religiosa e oriental – com uma tendência mais decorativa do que tivera o simbolismo.
Nos finais do século XIX, surge a “descoberta” da Arte Japonesa. De facto, a abertura da École des Beaux-Arts, em 1890, coincide com a "Exposição de Arte Japonesa".
Este movimento revela
o seu interesse profundo por este tipo de arte.
Tal como tu, estou a conhecer montes de pintores graças à internet, e o que acontece ( imagino que a ti também), é que sempre se chega à conclusão de que, sendo muitíssimo bons, não são geniais como os que vão ficar para sempre como os mais grandes, porque Tudo o que pintam é fora de série. Dos que vou conhecendo, alguns impressionam-me pela beleza de um só quadro, por exemplo no caso de Amiet, fico com a Menina com flores, pela sua originalidade. Conheces as minhas tendências coloristas...
ResponderEliminarHoje madruguei, diz qualquer coisa ao longo do dia!
Beijinho
Tens razão, Maria, no fundo há os bons e os "únicos"! Geniais, fora de tudo e que se "sentem" no 1º olhar...
ResponderEliminarA menina das flores também é minha preferida! Pus outra foto dum quadro do Giacometti (pai) outra menina colorida!
bjs
É tudo tão lindo!
ResponderEliminarMas eu escolhia o "Pensativa" de Giacometti.
Acho lindíssimo.
Um beijinho grande
Cara MJ, o que você acha que está por trás dessa arte expressionista? Quero dizer: que conjuntura do mundo de então levou esses artistas, mais ou menos simultaneamente, a se expressarem dessa forma? A que estavam reagindo? Seria ao cientificismo da época, que prendia a arte a uma representação mimética da realidade, pouco aberta à subjetividade? Perdão se a pergunta é fruto de muita ignorância. Um grande abraço do Mateus (São Paulo, Brasil).
ResponderEliminarGostaria de lhe poder responder com conhecimento, amigo Mateus, porque tem sentido a sua pergunta.
EliminarHá, decerto, uma reacção forte ao mundo de fora. Tento explicar através do que encontrei num livro que se intitula "ISMS" (todos os isms...), de Stephen Little:
"O Expressionismo é a arte do desassossego e da procura da verdade. Na Alemanha, os seus mentores estavam divididos em 2 grupos: Die Brucke The Bridge/ A ponte) e De Bauer Riter (The Blue Rider/O cavaleiro azul). Ambos exploraram a ideia da destruição dos sentimentos genuínos e sinceros, pela sociedade, que, segundo achavam, necessitava de ser “limpa” ou “purificada”.
Der blaue reiter” era mais abertamente místico e queria revelar a verdade espiritual escondida no mundo daquele mmento. Muito influenciados pelos russos Kandinsky e Jawlensky usaram maior diversidade de cores. Mas o que (...) partilham com outros expressionistas, é a convicção de que a arte pode exprimir uma verdade humana subjectiva e tentam recuperar um sentido para a vida das gentes.”
Quando surge a 1ª guerra tudo se agudiza: "surge o forte impacto emocional por ela causado, a ideia da vulnerabilidade dos homens na guerra."
Claro, há tambem neles um criticismo social. Talvez questionem o porquê dessa guerra...
Tentarei escrever mais sobre isto. Abraço!
Maria João,
ResponderEliminarNão conhecia Arniet e adorei. Vou procurar mais telas pois as que colocou encantaram-me. Uma beleza esta postagem.
É como uma viagem que gosto de fazer.
Beijinho. :)
Gostei dele, foi um acaso ver um quadro dele no FB...
ResponderEliminarbeijinhos