terça-feira, 28 de maio de 2013

Um pintor fauvista/ expressionista suíço: Cuno Amiet!

Cuno Amiet, Mãe e filho (1889)


Costuma-se dizer que atrás de uma cereja, outra vem... 


Atrás de um pintor e de um quadro, que descobrimos, outros aparecem. 

Foi assim, que fui parar à Suíça e descobri que, além do magnífico chocolate, da natureza esplendorosa e protegida, dos lagos, das neves eternas dos glaciares e da paisagem verde, com os chalets empoleirados (bem, e do relógio de cuco!), outras coisas há.

Têm também o sossego (de vários tipos) e, por isso  dois grandes personagens da cultura se acolheram : Charles Chaplin, em Vevey,  e Simenon, em Lausanne.

Mas, na Suíça, há Arte, claro!

Conhecia Blaise Cendrars, mas raras vezes me lembro que ele é suíço. 

A minha amiga Jeanne, suíça,  falou-me do poeta Amiel, e mostrou-me passagens do seu "Diário", muito interessantes.


Amiel


Cuno Amiet, Auto-retrato

Hoje descubro Amiet, o pintor Cuno Amiet...

Cuno Amiet nasceu no Cantão de Solothurn, um dos vários da Suíça,  em 28 de Março de 1868 e morreu em 1961, no dia 6 de Julho.

Na wikipedia vejo: 

Pintor suíço, ilustrador, artista gráfico e pintor.(...) Foi o primeiro a dar precedência à cor sobre a forma e foi um precursor da Arte Moderna, na Suíça.”
Cuno Amiet, Mulher a trabalhar no campo

Frequentou a Academia de Arte de Munique de 1886 a1888, onde se tornou amigo do italiano Giovanni Giacometti, também post-impressionista e pai do famoso escultor e artista plástico, Alberto Giacometti.  
Giacometti (pai) "Pensativa", 1913

Giacometti (filho) Mulher de Veneza II, 1956
Auto-retrato com maçã

De 1888 a 1892 foram os dois para Paris, estudar na Académie Julian, tendo como mestre William-Adolphe Bouguereau.


Descontente com o ensino da Arte "académica", Cuno Amiet junta-se à Ecole de Pont-Aven, na Bretanha, onde vai ser aluno de Emile Bernard, de Paul Serusier, Maurice Denis, Mestres do movimento dos “nabis” (***).


um maravilhoso Maurice Denis


Paul Serusier, La laveuse

Onde encontra Gauguin e Van Gogh...


Émile Bernard, "O perdão em Pont-Aven" (1888)

Van Gogh, "Mulheres bretãs" (inspirado em Emile Bernard,1888)


Paul Gauguin, "Sermão e visão em Pont-Aven" (1888)

Paul Gauguin, "O Cristo Amarelo" (1889)

Paul Gauguin, Pont-Aven

Van Gogh, "Pietà", cópia de um quadro de Delacroix (1889)

Auguste Renoir tem também o seu período em Pont-Aven... Os temas aproximam-se, as cores e as pinceladas difetem.


Renoir, Pont-Aven

Renoir, "O Calvário em Pont-Aven"

A Escola de Pont-Aven que reuniu, em redor da forte personalidade de Gauguin, uma série de jovens pintores à procura de uma liberdade não-académica.

Como diria depois  de si mesmo Gauguin: “O direito de ousar tudo”. Ele que não mentia e ousou de facto tudo!
Gauguin, Auto-retrato (1889)

Pouco a pouco, nesta pintura, surgira o afastamento do impressionismo e da pintura da realidade (en plein air) ao ar livre, em plena luz. E partem à procura de outra harmonia - essa existente fora do real.

E o que passa a ter importância é a cor! As formas contorcidas! O grito do irreal presente em tudo!

As cores fortes, as personagens hieráticas das mulheres bretãs com os toucados de formas estranhas, “voadoras”, que lembram asas de  anjos; ou as medas de trigo com tons de vermelho vivo, ou cor de ferrugem; ou as figuras verde-chumbo do Cristo morto, de Gauguin. 

Paul Gauguin, O Cristo Verde (1889)

Gauguin, Auto-retrato com Cristo Amarelo

As árvores azuis ou os campos vermelhos gritam como num manifesto. 

O "fauvismo" cria-se, inventa-se.  

"Fauvisme" vem da palavra francesa “fauve”. Eles eram “les fauves”, as feras, como lhes chamaram os críticos, devido às cores vivas e violentas dos seus quadros.


O "Fauvisme" no Salão de Outono em 1905

Simbolismo? Surrealismo? Era tudo, tudo tinham ousado como dissera Gauguin. Tinham conquistado o direito à liberdade e à poesia. E ao sonho!

Se o Simbolismo dava a primazia ao sonho e ao mistério, aos fantasmas ou às visões proféticas e oníricas, então, aqui, com os pintores de Pont-Aven, criou-se, em certa medida,  o caminho para ele.

Pintor expressionista Amiet? 

Sim, também,  "porque os pintores ditos “expressionistas” (**) defendiam uma arte “intuitiva”, pessoal, expressiva, onde predominasse a visão “interior” do artista (expressão) sobre a plasmação da realidade instantânea (a impressão)" (wikipedia).
Amiet, "Velha mulher bretã"

Tudo isto Cuno Amiet encontrou em Pont-Aven. E tudo absorveu e tudo o interessou, deitando cá para fora a sua "visão interior" do real.

Escolhe as cores puras, fortes, deixando as composições tonais.

Em 1893, por questões monetárias, vê-se obrigado a deixar Paris e Pont-Aven e volta à sua terra natal. 


Amiet, Menina com flores (1896)

Jarra de flores (s/d)

Abre um estúdio em Hellsau.

Em 1894, uma sua exposição na Kunstehalle Basel é mal recebida. 

Continua a trabalhar, a pintar.

O sucesso vem em 1898, com um retrato que não encontrei do pintor de Ferdinand Hodler, pintor suíço conhecido.
Hodler, Auto-retrato 1915

Em 1899, Amiet ganha uma medalha de prata na Exposição Universal, com o  quadro intitulado Richesse du soir


Depois de 1900, participará em várias exposições, na Europa. 

Cuno Amiet,1918


Em 1953 pinta um magnífico auto-retrato com as cores de Pont-Aven...
Auto-retrato, 1953



Encontrei várias imagens dos quadros de Amiet neste site de leilões "artfact":

 http://www.artfact.com/auction-lot/cuno-amiet-63-c-h5c90iiaaq

*  *  *
Amiet, 1905?


(*) Como dirá o pintor Maurice Denis, que é um dos expoentes maiores do movimento "nabi": "a Escola de Pont-Aven teve uma grande influência em muitos artistas que se reuniam em volta de Gauguin naquela aldeola.”

(**) “O expressionismo acaba por ser visto mais tarde como a “deformação” da realidade - para exprimir (expressar) de forma ainda mais subjectiva a natureza do ser humano.” (wikipedia

(***) Os “nabis” (em hebraico e a palavra para  “profetas”) é um movimento pictórico de influência religiosa e oriental – com uma tendência mais decorativa do que tivera o simbolismo. 
Nos finais do século XIX,  surge a “descoberta” da Arte Japonesa. De facto, a abertura da École des Beaux-Arts, em 1890, coincide com a "Exposição de Arte Japonesa".
Este movimento revela o seu interesse profundo por este tipo de arte.

7 comentários:

  1. Tal como tu, estou a conhecer montes de pintores graças à internet, e o que acontece ( imagino que a ti também), é que sempre se chega à conclusão de que, sendo muitíssimo bons, não são geniais como os que vão ficar para sempre como os mais grandes, porque Tudo o que pintam é fora de série. Dos que vou conhecendo, alguns impressionam-me pela beleza de um só quadro, por exemplo no caso de Amiet, fico com a Menina com flores, pela sua originalidade. Conheces as minhas tendências coloristas...
    Hoje madruguei, diz qualquer coisa ao longo do dia!
    Beijinho

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  2. Tens razão, Maria, no fundo há os bons e os "únicos"! Geniais, fora de tudo e que se "sentem" no 1º olhar...
    A menina das flores também é minha preferida! Pus outra foto dum quadro do Giacometti (pai) outra menina colorida!
    bjs

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  3. É tudo tão lindo!
    Mas eu escolhia o "Pensativa" de Giacometti.
    Acho lindíssimo.

    Um beijinho grande

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  4. Cara MJ, o que você acha que está por trás dessa arte expressionista? Quero dizer: que conjuntura do mundo de então levou esses artistas, mais ou menos simultaneamente, a se expressarem dessa forma? A que estavam reagindo? Seria ao cientificismo da época, que prendia a arte a uma representação mimética da realidade, pouco aberta à subjetividade? Perdão se a pergunta é fruto de muita ignorância. Um grande abraço do Mateus (São Paulo, Brasil).

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    1. Gostaria de lhe poder responder com conhecimento, amigo Mateus, porque tem sentido a sua pergunta.
      Há, decerto, uma reacção forte ao mundo de fora. Tento explicar através do que encontrei num livro que se intitula "ISMS" (todos os isms...), de Stephen Little:
      "O Expressionismo é a arte do desassossego e da procura da verdade. Na Alemanha, os seus mentores estavam divididos em 2 grupos: Die Brucke The Bridge/ A ponte) e De Bauer Riter (The Blue Rider/O cavaleiro azul). Ambos exploraram a ideia da destruição dos sentimentos genuínos e sinceros, pela sociedade, que, segundo achavam, necessitava de ser “limpa” ou “purificada”.
      Der blaue reiter” era mais abertamente místico e queria revelar a verdade espiritual escondida no mundo daquele mmento. Muito influenciados pelos russos Kandinsky e Jawlensky usaram maior diversidade de cores. Mas o que (...) partilham com outros expressionistas, é a convicção de que a arte pode exprimir uma verdade humana subjectiva e tentam recuperar um sentido para a vida das gentes.”
      Quando surge a 1ª guerra tudo se agudiza: "surge o forte impacto emocional por ela causado, a ideia da vulnerabilidade dos homens na guerra."
      Claro, há tambem neles um criticismo social. Talvez questionem o porquê dessa guerra...
      Tentarei escrever mais sobre isto. Abraço!

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  5. Maria João,
    Não conhecia Arniet e adorei. Vou procurar mais telas pois as que colocou encantaram-me. Uma beleza esta postagem.
    É como uma viagem que gosto de fazer.

    Beijinho. :)

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  6. Gostei dele, foi um acaso ver um quadro dele no FB...
    beijinhos

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