Vivia em Roma e estava habituada ao calor
abafado e húmido que ia aumentando, gradualmente, de Maio a Junho, começando já em finais de Abril, com dias de sol
maravilhosos, céu azul e algumas chuvas esquecidas.
E o sol brilhava de repente...
Eram muito quentes certos Agostos em Roma...
E o sol brilhava de repente...
Eram muito quentes certos Agostos em Roma...
Já nos tínhamos esquecido do Inverno quando chegavam as chuvas do ferragosto - que era o meio do mês, afinal- e começavam as trovoadas súbitas e chovia
torrencialmente dias seguidos.
O ferragosto
assinalava o fim do Verão e coincidia com o dia do feriado da Senhora da
Assunção.
Nesse mês, quem ficava em Roma, vivia a cidade livremente porque os habitantes a tinham abandonado para irem em villeggiatura para o mar: fosse ele o da Maremma toscana, ou o mar de Rimini, ou as praias do Adriatico.
Ou para a montanha! Gostavam muito de ir até aos Dolomiti os romanos.
Ou para a montanha! Gostavam muito de ir até aos Dolomiti os romanos.
A cidade, esvaziada de gentes e de carros, revelava o amarelo dourado dos
seus prédios, o ocre das praças, e o “rosso veneziano” de certas fachadas.
Também, à volta do sempre visitado triângulo da Piazza della Rotonda, Piazza Navona, Piazza Farnese.
Estamos quase no Verão...
Por que me lembro de Roma e de Agosto? Se hoje quase chove! E nem vai haver Verão este ano...
Para me animar, fui buscar um pedacinho de Verão ao meu romance policial, que se passa em Roma...
"Michael Brenner olhava o fluir das
pessoas. Uma mancha de cor. Ia mexendo devagar o capuccino, um pouco pensativo. Lembrava as palavras de Roberta, dias antes, depois as queixas que lhe fizera.
Sim, tinha
razão. A Piazza del Popolo àquela hora,
ao cair da tarde, era uma mancha de cor, com o rosado e o ocre das fachadas, que se acentuava, no azul deslavado do céu que apontava para a noite e não se sentia sozinho.
As
duas igrejas desafiavam-se, gémeas e grandiosas, o obelisco erguia-se ao centro, os motorini
estacionados lado a lado. A Via del Corso acolhente iluminava as montras.
As duas Igrejas gémeas
A fechar a praça, estava a Igreja de Santa Maria del Popolo, guardando as suas magníficas telas de Caravaggio.
E, ao lado, a Porta del Popolo por onde entravam e saíam os carros, motoretas, autocarros, sem saberem, nem quererem saber, qual tinha a precedência: quem chegava primeiro, passava. Isto só o vira em Roma...
E, ao lado, a Porta del Popolo por onde entravam e saíam os carros, motoretas, autocarros, sem saberem, nem quererem saber, qual tinha a precedência: quem chegava primeiro, passava. Isto só o vira em Roma...
Santa Maria del Popolo
E, no meio da poalha de luz, as pessoas andavam, sem
correr. Admirava a vivacidade dos italianos, a alegria, os risos, os gestos, os
corpos que se moviam, elegantes.
Tocavam-se, às vezes, falando alto e agitando as mãos, e seguiam sem pressa.
Tocavam-se, às vezes, falando alto e agitando as mãos, e seguiam sem pressa.
Pensava em Paola. Preocupava-o.
Giovani Giacometti, Menina
Tinha ido visitá-la uma vez mais à Galeria, ao pé do Lungotevere. Adorava
aquele passeio, dava voltas com a moto, atravessando uma ponte, virando a seguir, no outro sentido, pela ponte mais próxima, de uma margem para a outra do Tevere, a
observar as diversas perspectivas. A luz única do cair da tarde sobre o Castel Sant'Angelo.
Às vezes, ia até à Isola Tiberina, era sempre diferente a
luz, as cores, as sombras da noite a cair sobre a cidade. O rio a escurecer lá em baixo. Como amava aquele rio!
A dada altura, quase contrariado, estacionava a moto. E
continuava a deambular por ali,
debruçava-se no parapeito para ver o rio, à espera que o sol
dourasse o fim da tarde. E que a noite descesse e os candeeiros iluminassem o lungotevere.
Lungotevre, em Roma
Seguia, então devagar pela Via delle Mantelate, até à Galeria. Ia ter com ela.
Mas ela não ia ajudá-lo, continuavam as indecisões, os silêncios. Não percebia por que razão ela odiava tanto o Conde Orsini.
"Ao ponto de o ter assassinado?", perguntava a si mesmo e não era capaz de responder. Tantos mistérios. Quem matara aquele homem que, no fundo, ninguém conhecia bem?
O sol desaparecera e a Piazza del Popolo, na noite de Verão da cidade vazia, acompanhava-o. "
(in Morte de um desconhecido)
"Ao ponto de o ter assassinado?", perguntava a si mesmo e não era capaz de responder. Tantos mistérios. Quem matara aquele homem que, no fundo, ninguém conhecia bem?
O sol desaparecera e a Piazza del Popolo, na noite de Verão da cidade vazia, acompanhava-o. "
(in Morte de um desconhecido)
As cidades são melhores nesse sossego de Verão.
ResponderEliminarUm beijinho grande e bom fim-de-semana!
Que legal! Roma é praticamente um interlocutor dele. Talvez a cidade também tenha uma resposta para a sua nostalgia, MJ. Afinal, o tempo passa, mas ela é eterna. E, ao que parece, você soube eternizar vários momentos da sua vida, seja em Roma ou em qualquer outro lugar. Um abração do Mateus.
ResponderEliminarHoje me deu saudade de lá.
ResponderEliminarbj meu
Roma faz sempre saudades! Isabel, tens de lá ir, não te escapas... Mateus, obrigada pelas suas palavras. Happy friday! Boa sexta-feira e coragem: amanhã é sábado...
ResponderEliminarAh como eu anseio conhecer Roma! A maria João é mazinha, aguça ainda mais o meu desejo/sonho...
ResponderEliminarBeijinhos
Luísa
Maria Joao,
ResponderEliminarmeraviglioso. :)
Fez-me recordar e sonhar.
Nem tenho palavras pois calcorreei de novo todos os caminhos que trilhei.
Beijinho.