Pensei hoje no meu pai e no enterro de Van Gogh, descrito na sua Biografia:
O meu pai a colher laranjas na quinta da Serra
“O enterro foi por volta do meio dia, numa manhã de calor tórrido. O cemitério ficava rodeado de searas.”
Há 25 anos escrevia eu:
“Manhã de Agosto, no Alentejo. O ar sufocava. O sol, parado lá no azul do alto, ardia.
Searas no Alentejo, por Stego (internet)
Descíamos em
direcção ao cemitério, seguindo o cortejo. Gente em redor, gente parada nas ruas,
comovida, num grande silêncio.
Eu não via ninguém. Pensava nas flores que colhera de
manhãzinha para o meu Pai. Pensava na casa abandonada, agora, lá no alto da Serra, onde ele nunca
mais voltaria.
Lembrava-me da ternura do meu Pai.
Van Gogh, Jarra com papoilas vermelhas
Lembrava-me da ternura do meu Pai.
o meu pai, as minhas irmãs e eu, na Casa Amarela
Depois, tudo desapareceu, sem me dar conta. As flores caíam devagarinho, quase sem ruído, em cima do esquife. Inconscientemente, abri os braços e o ramo de rosas vermelhas que apertava ao peito foi juntar-se às outras flores. E a terra caíu durante muito tempo...
Van Gogh, Searas ao sol ardente
O sol queimava a planície dourada, os longes esfumavam-se
numa neblina delicada. Ouviam-se os ralos nas searas, para lá dos ciprestes e do muro. Nunca mais...”
Van Gogh, Ciprestes
Hoje dei por mim a pensar: a sensibildade de certas pessoas aproxima-as... até na morte. E escolhi um pouco da beleza que amaram...
Beethoven, a sonata "Appassionata", que eu adoro, interpretada por Daniel Barenboin:
e a sonata "Clair de Lune", tocada por Hélène Grimaud:
Como te compreendo Maria João Eu também quando perdi o meu há 15 anos ,senti que o mundo se desmoronava à minha volta ,que não tinha mais quem me protegesse e que já não tinha o meu maior amigo ,Um beijinho grande
ResponderEliminarPartilho essa dor de enorme solidão. Também não há um só dia em que não pense no meu Pai. No meu maior amigo!
EliminarLuísa Moreira
Excelente
ResponderEliminarmais azul que o céu
Uma homenagem linda.
ResponderEliminarBeijinho especial.
É bom "ouvir" as vossas palavras. O tempo passa, mas outros sentimentos não...
ResponderEliminarObrigada Teresinha! Tu conhecias o meu pai e eu conhecia o teu...Coisas importantes.
Boa noite
Gostei muito.
ResponderEliminarTIO muito afável e humano.
Lamento não ter usufruído mais do Seu convívio.
Um beijinho.
João José
Nota: Vai como anónimo. Não sei c/enviar.
Olá, primo! Lembro-me de ti pequenino com os teus irmãos, lá na nossa casa...
EliminarTemos que nos ver um dia destes! Abraço grande!
São muitos anos...
ResponderEliminarO meu faz sete, daqui a pouco e não há um único dia que não pense nele.
Continuam no nosso coração.
Gostei muito de ver a foto do seu pai.
Gostei muito de todo o post, tão sentido.
Um beijinho grande
grazie al cielo ci restano i ricordi, e quelli nessuno ce li può portare via. Un abbraccio
ResponderEliminarTal e qual como diz, Maria João! Um sol abrasador! Uma enorme tristeza! Um adeus muito sentido!
ResponderEliminarLinda homenagem a um sábio Amigo!
Estive lá nesse adeus tão triste, nessa manhã tão quente. Recordo com saudade esse amigo tão querido. Beijinhos para si Maria João.
ResponderEliminarObrigada, Isabel, minha conterrânea e amiga do meu pai -dos meus pais, aliás...
ResponderEliminarbeijinho
... era bom se nós soubéssemos, na verdade, saber "voar" como ele...
ResponderEliminarTudo o que faço na vida, mesmo as pequenas coisas, é sempre tentando "segui-lo" ! E ainda hoje dói tanto ele ter partido...
Beijinhos, Jana !
Mamé
Recordo viva essa manhã terrível, a saudade imensa.
ResponderEliminarUm beijinho