actriz Kerry Fox
Foi
ao ver o filme de Jane Campion, intitulado Um
Anjo à minha mesa, na Arte/TV, que
me dei conta de que havia uma escritora neo-zelandesa que desconhecia e me ia
interessar de certeza: Janet Frame.
Jane Campion
Jane Campion, Cannes 2013
O
filme de 1990 é um filme fora do vulgar. O enredo baseia-se nos 3 volumes da auto-biografia de Frame: To the Is-land (1982), An Angel at My table (1984), e The Envoy from Mirror City (1984).
O
filme cujo guião foi escrito por Laura Jones é a dramatização das suas histórias
autobiográficas. As actrizes escolhidas para os 3 momentos da vida da escritora
são extraordinárias: da gordinha e ruiva Karen Fergusson, à adolescente Alexia Keogh e, finalmente, já adulta, a actriz Kerry Fox.
Esta revela-se uma actriz extraordinária! Consegue dar
da figura toda a timidez doentia, a angústia, o medo e a necessidade do outro, e a
vontade de se lhe chegar, as depressões...
Janet
Frame nasceu, em 1924, em Dunedin, no sudeste da Nova Zelândia, filha de pais
com ascendência escocesa.
O
pai trabalhava nos caminhos de ferro e a família vai girando por várias
terrinhas até se fixar em Oamru (a “Waimaru” das suas novelas).
Ela
é uma menina gordinha e tem uma cabeleira ruiva cheia de caracóis, sente-se
diferente de toda a gente, fecha-se, esconde-se, vive isolada até descobrir a
literatura. Começa a escrever poesias, muito miúda, boas poesias.
A
sua adolescência tem episódios dramáticos, ligados à morte trágica de duas das irmãs.
O pai tem uma relação difícil e violenta com o único filho. Por
incompatibilidade de caracteres?, por incompreensão da epilepsia do filho?, a
verdade é que o clima é de tensão permanente e agressividade constante.
A
mãe apaga-se, na cozinha, a trabalhar para todos. As irmãs têm a vida delas, as amigas delas. Os namorados delas.
Janet,
sensível, sofre com tudo isto. Afasta-se de casa, primeiro indo estudar dois
anos para professora, em 1943, no Dunedin College of Education.
Simultaneamente, estuda inglês, francês
psicologia e outras disciplinas, na Universidade de Otago, adjacente ao
College.
Em
1945, começa a ensinar na Arthur Street School de Dunedin. A experiência corre bem
até ao momento em que um inspector vem visitar a escola e entra sua aula. A timidez
excessiva de Janet impedem-na de continuar, incapaz de dizer ou fazer seja o
que for, abandona a aula e não volta mais à escola.
Começa
a escrever uma sua "auto-biografia", a pedido do professor , nas aulas da Universidade, tal como as outras colegas. O
professor lê-o, fica impressionado, percebe que ela é diferente, mas assusta-se
com o que lá conta, entre outras coisas uma tentativa de suicídio recente.
Aconselha-lhe uma consulta um médico que acha que ela deve ser tratada num Hospital
Psiquiátrico : o Seacliff Lunatic Asylum. Um manicómio...
Vai
ser um horror: diagnosticam-lhe esquizofrenia e vai ser “tratada” com choques
eléctricos e insulina. A convivência forçada com pessoas loucas, a frustração, o
descrédito em si própria, transformam-na num farrapo humano.
Durante 8 anos entra e sai de vários Hospitais. E sofre esta “tortura”. As suas obras vão sendo publicadas.
Durante 8 anos entra e sai de vários Hospitais. E sofre esta “tortura”. As suas obras vão sendo publicadas.
Em
1951, uma grande editora – a Caxton Press- publica-lhe o primeiro livro, “The Lagoon and other stories”.
É galardoado com o prémio mais famoso no país: o “Hubert
Church Memorial Award”. Depois do sucesso do livro, um outro médico vem vê-la e
dá-lhe alta, quando se preparavam para lhe fazer uma lobotomia!... Pode voltar
a casa e a viver a sua vida.
Uns
amigos levam-na a visitar o escritor Frank Sargeson (1903-1982) –um dos que
tornaram conhecida a literatura neo-zelandesa, só conhecida através de
Katherine Mansfield. Ele vive no campo, em Aukland, e convida-a a ficar e a
viver ali de abril 55 a julho 56. Tem uma cabana, onde continuará a escrever
sem parar. E escreve o seu romance mais famoso: Owls Do Cry (Pegasus, 1957).
Consegue
uma bolsa de Literatura e vai para Ibiza, Andorra e depois Londres.
“Tem
altos e baixos e a depressão e a angústia voltam muitas vezes. Um dia é ela
própria que pede para ser internada, no Hospital psiquiátrico Maudsley, em
Londres. É vista por um psiquiatar que estudara na América, o Doutor Alan
Miller que conclui que ela nunca sofrera de esquizofrenia e que – devido também
aos sofrimentos anteriores nos diversos manicómios, necessita de umas sessões
de terapia. Trata-se com o psicanalista inglês Robert Hugh Cawley que lhe diz
que a sua cura será …escrever! De facto,
Frame dedica-lhe 7 novelas.” (wikipedia)
Volta
para a Nova Zelândia, em 1963, e continua a escrever e a publicar.
Em
1980 escreve a sua autobiografia em três volumes diversos: To the Is-land (1982), An Angel at My table (1984), e The Envoy from Mirror City (1984).
Em
1983, no dia dos anos da Rainha, recebe a comenda da Order of the British
Empire (OBE).
Em
1989 recebe o Prémio dos Escritores da Commonwealth, pelo romance “The
Carpathians”.
Morre
em
Muito interessante!
ResponderEliminarGostava de ver o filme ou ler os volumes da autobiografia. Fui consultar o Wook e em português só há um livro dela, mas mesmo assim está esgotado! :(
Em inglês ou francês não me aventuro.
Paciência...
Gostei muito do seu post!
Um beijinho e um bom fim-de-semana! :)
Já tinha ouvido falar, mas não li nada dela. Arrepia, interessa, não deixa indiferente. Um bom post, como sempre. Beijinho
ResponderEliminarVi o filme no Canal Art. Peguei o bonde andando, mas me chamou a atenção, sentei e vi até o fim. Grande produção. História de uma vida incrível. Sabe o que é se sentir analfabeto? Pois é, nunca tinha ouvido falar nela. Fui pesquisar e fiquei ainda mais interessado. Só falta ler algum livro, se encontrar tradução.
ResponderEliminarNesta tarde (5.4.21) assisti o filme sobre Janet Frame no Canal ARTE 1. Despertou-me muito interesse sobre sua obra.
ResponderEliminarNesta tarde (5.4.21) assisti no canal ARTE 1 o filme sobre Jane Frame. Interessei-me muito pela sua obra.
ResponderEliminarNa data de hj(07/10/2021),estou assistindo o filme sobre Janet Frame. Q filme lindo,q leveza, perfeito a escolha dos atores e interessante e triste a história dela.
ResponderEliminarAssisti ao filme e me emocionei várias vezes. Dramático saber que alguém tão sensível e genial pode sofrer tanto nós porões da loucura e carregar pra sempre marcas tão dolorosas.Belissimo filme, uma viagem no tempo,uma pausa para a emoção.
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