- Já chegou a
Primavera? Achas que é mesmo ela?, perguntou-me ontem.
- Não sei, Ratinho,
já cá devia estar há muito tempo…
E de facto devia, mas
não sei se estes são dias de Primavera segura. É tão difícil saber. Esta
humidade pode ser Primavera? Os
dias que amanhecem cobertos de nevoeiro ou alternam com sol escaldante são de
Primavera?
- Eu cá acho que ela já
chegou!
Era o optimista do
Ouricinho que nada consegue deitar abaixo… Sabe viver melhor do que ninguém e ama os
dias, as tardes e as noites e tudo o que se move à volta dele.
- Não sentes este ar que é diferente? É Primavera! Um sopro de ventinho suave, o azul do céu, o brilho do sol…
Sim, podia ter razão,
pensei. Encostei-me à janela. Invadiu-me um sentimento de nostalgia, a pensar nos dias de chuva passados. Imaginei-os à janela uns dias antes.
Um Inverno tão áspero este
que acabou. Tempo tão desabrido, entre temporais, a ouvir as ondas gigantescas lá ao fundo, a ver o cinzento
do céu, e a sentir o gelo que nos ataca os ossos… E em casa tudo paracia tão sombrio!
“A mim deitou-me
abaixo completamente! Nunca me senti tão cansada” E eles andavam aborrecidos, em cima do sofá, sem conseguirem entreter-se com nada...
Astenia? A verdade é
que também a mim me não apetecia fazer nada, a não ser estar no canto do sofá, a
manta nos joelhos e os pés em cima do meu tropeço alentejano, a ler, debaixo do
candeeiro.
Abri as vidraças da
varanda. Agora talvez conseguisse voltar a sair de casa com vontade. Eles estavam à janela do meu quarto mas vieram
logo a correr atrás de mim...
Exclamações de alegria e de espanto: era o Ouricinho que
olhava para o novo jasmim. A única coisa que me decidira a comprar, na única
viagem à Praia Grande, no Horto onde compro as minhas flores.
Ah! Trouxe também uns amores perfeitos maravilhosos! Lá estavam eles a brilhar no meio da varanda!
E voltou-me à memória
a ventania, as tempestades, quando me lembrei do estado em que vi a Praia
Grande.
As ondas pareciam ter
recuado para muito longe, e vinham desfazer-se ao pé dos novos rochedos. O mar não me respondia, não
explicava o que sucedera. As vagas vinham, suaves, lamber as rochas, em espuma
branca, indiferentes à minha desolação. Já na Praia da Adraga tivera tanta pena!
Não quis falar
disso aos meus amigos, ficariam tristes. Eles já saltitavam, na varanda, a cheirar as florinhas do jasmim.
O perfume do jasmim
animou-me. Dei por mim a rir e a pensar que era Primavera com certeza! As cores, o perfume, a leveza do ar...
O Ouricinho andara
por todos os cantos, a espreitar o que havia, ou o que faltava...
- E as couves? Já não
há couves? Arrancaste-as?
- Sim, Ouricinho, colhi-as hoje de manhã para o nosso almoço.
- Sim, Ouricinho, colhi-as hoje de manhã para o nosso almoço.
- E vamos comê-las mesmo? E se não prestam?
Era o Ratinho, sempre
duvidoso. E atalhou, sentimental:
- Bem, até tenho pena
de as comer! Foram uma companhia neste Inverno. Secou tudo…
- Mas as plantas são para se comer, as verduras cultivam-se para isso…
- Hi, hi, hi, riu-se
o Ouricinho. Como se tu fosses agricultora! Só cultivaste o tomateiro e as
couves. Mas estão bonitas! É verdade, mesmo apetecíveis…
O Ratinho olhou para mim e disse:
- Parecem boas! E até estão bonitas, arranjadinhas…
- Eu já tenho fome!
Mas são couves sozinhas? Sem mais nada?
- Também há bifinhos, Ouricinho!
- Também há bifinhos, Ouricinho!
Veio-me uma onda de
ternura por aqueles dois seres que me acompanhavam em tudo. Abracei-os. Eles
olharam-me espantados, eu não sou muito dada a explosões destas.
O Ouricinho fugiu e vi-o, sentado na sala, ao pé da Yuko:
- Ah! Eu já calculava…
O Ouricinho fugiu e vi-o, sentado na sala, ao pé da Yuko:
- Ah! Eu já calculava…
Preocupado, o
Ratinho acrescentou ainda:
- Pois foi melhor. Sei lá se o Manuel
gostas de couves. É tão esquisito.
- É verdade, disse o Ouricinho. Se
calhar não gosta…Ainda bem que fizeste os bifes! Que alívio!
O que faria eu sem
estes dois?
E tem razão o Ratinho! Cansámos de esperar a Primavera! Mas finalmente parece que chegou! Aqui tem estado um tempinho bom. Hoje esteve calor. Fui até ao campo.
ResponderEliminarÉ tão bom o tempo bom!
As couvinhas têm bom aspecto, parecem tenrinhas e as maçãs assim com canela...hum...devem estar óptimas!
Já tinha saudades destes amiguinhos, os meus heróis favoritos!
Um beijinho grande para todos! :)
Também não estou muito confiante nesta Primavera!
ResponderEliminarO importante é aproveitar todos os momentos de sol e passear, relaxar, aproveitar a vida!
Que quando dermos conta... lá vem o inverno outra vez...
Os nossos amiguinhos são um amor, sempre atentos e perspicazes!
Bom fim-de-semana, Maria João!
Um beijinho.:))