quinta-feira, 1 de maio de 2014

O RATINHO ESTÁ CANSADO DE ESPERAR PELA PRIMAVERA!



- Já chegou a Primavera? Achas que é mesmo ela?, perguntou-me ontem.
- Não sei, Ratinho, já cá devia estar há muito tempo…

E de facto devia, mas não sei se estes são dias de Primavera segura. É tão difícil saber. Esta humidade pode ser Primavera?  Os dias que amanhecem cobertos de nevoeiro ou alternam com sol escaldante são de Primavera?


- Eu cá acho que ela já chegou!

Era o optimista do Ouricinho que nada consegue deitar abaixo… Sabe viver melhor do que ninguém e ama os dias, as tardes e as noites e tudo o que se move à volta dele.

- Não sentes este ar que é diferente? É Primavera! Um sopro de ventinho suave, o azul do céu, o brilho do sol…

Sim, podia ter razão, pensei. Encostei-me à janela. Invadiu-me um sentimento de nostalgia, a pensar nos dias de chuva passados. Imaginei-os à janela uns dias antes.



Um Inverno tão áspero este que acabou. Tempo tão desabrido, entre temporais, a ouvir as ondas gigantescas lá ao fundo, a ver o cinzento do céu, e a sentir o gelo que nos ataca os ossos… E em casa tudo paracia tão sombrio!

“A mim deitou-me abaixo completamente! Nunca me senti tão cansada” E eles andavam aborrecidos, em cima do sofá, sem conseguirem entreter-se com nada...



Astenia? A verdade é que também a mim me não apetecia fazer nada, a não ser estar no canto do sofá, a manta nos joelhos e os pés em cima do meu tropeço alentejano, a ler, debaixo do candeeiro.


Abri as vidraças da varanda. Agora talvez conseguisse voltar a sair de casa com vontade. Eles estavam à janela do meu quarto mas vieram logo a correr  atrás de mim... 


Exclamações de alegria e de espanto: era o Ouricinho que olhava para o novo jasmim. A única coisa que me decidira a comprar, na única viagem à Praia Grande, no Horto onde compro as minhas flores. 


Ah! Trouxe também uns amores perfeitos maravilhosos! Lá estavam eles a brilhar no meio da varanda! 

E voltou-me à memória a ventania, as tempestades, quando me lembrei do estado em que vi a Praia Grande. 

A minha imaginação  corria: a Praia Grande arrasada, destruída, escalavrada, com as rochas -que desconhecia existirem ali- à mostra. Um dó de alma, como se fosse alguém que via ferido. 


Onde estava o imenso areal que nos parecia infinito? De onde tinham brotado – como que por magia- aquelas pedregulhos agrestes que tinham desfigurado a praia? Que ventos e que mares violentos teriam sido aqueles para arrastar a areia da praia para tão longe?


As ondas pareciam ter recuado para muito longe, e vinham desfazer-se ao pé dos novos rochedos. O mar não me respondia, não explicava o que sucedera. As vagas vinham, suaves, lamber as rochas, em espuma branca, indiferentes à minha desolação. Já na Praia da Adraga tivera tanta pena!


Não quis falar disso aos meus amigos, ficariam tristes. Eles já saltitavam, na varanda, a cheirar as florinhas do jasmim.

O perfume do jasmim animou-me. Dei por mim a rir e a pensar que era Primavera com certeza! As cores, o perfume, a leveza do ar...

O Ouricinho andara por todos os cantos, a espreitar o que havia, ou o que faltava...

- E as couves? Já não há couves? Arrancaste-as?
- Sim, Ouricinho, colhi-as hoje de manhã para o nosso almoço.



- E vamos comê-las mesmo? E se não prestam?

Era o Ratinho, sempre duvidoso. E atalhou, sentimental:
- Bem, até tenho pena de as comer! Foram uma companhia neste Inverno. Secou tudo…

- Mas as plantas são para se comer, as verduras cultivam-se para isso…
- Hi, hi, hi, riu-se o Ouricinho. Como se tu fosses agricultora! Só cultivaste o tomateiro e as couves. Mas estão bonitas! É verdade, mesmo apetecíveis…


Agora já nos tínhamos reunido na cozinha. Tinha feito maçãs assadas e cheiravam bem. 

As couves estavam na travessa. A gatinha japonesa veio ver se gostava do almoço. Eu, por segurança, tinha cozido um molho de grelos do senhor Francisco... 
O Ratinho olhou para mim e disse:
- Parecem boas! E até estão bonitas, arranjadinhas…

- Eu já tenho fome! Mas são couves sozinhas? Sem mais nada? 
- Também há bifinhos, Ouricinho!

Veio-me uma onda de ternura por aqueles dois seres que me acompanhavam em tudo. Abracei-os. Eles olharam-me espantados, eu não sou muito dada a explosões destas. 

O Ouricinho fugiu e vi-o, sentado na sala, ao pé da Yuko:

- Ah! Eu já calculava…

Preocupado, o Ratinho acrescentou ainda:

- Pois foi melhor. Sei lá se o Manuel gostas de couves. É tão esquisito.

- É verdade, disse o Ouricinho. Se calhar não gosta…Ainda bem que fizeste os bifes! Que alívio!

O que faria eu sem estes dois? 


2 comentários:

  1. E tem razão o Ratinho! Cansámos de esperar a Primavera! Mas finalmente parece que chegou! Aqui tem estado um tempinho bom. Hoje esteve calor. Fui até ao campo.
    É tão bom o tempo bom!

    As couvinhas têm bom aspecto, parecem tenrinhas e as maçãs assim com canela...hum...devem estar óptimas!

    Já tinha saudades destes amiguinhos, os meus heróis favoritos!

    Um beijinho grande para todos! :)

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  2. Também não estou muito confiante nesta Primavera!
    O importante é aproveitar todos os momentos de sol e passear, relaxar, aproveitar a vida!
    Que quando dermos conta... lá vem o inverno outra vez...
    Os nossos amiguinhos são um amor, sempre atentos e perspicazes!

    Bom fim-de-semana, Maria João!
    Um beijinho.:))

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