Comecei
a reler um livro de Dorothy Sayers, escritora inglesa policial, que se intitula "Qual dos Cinco" (Colecção Vampiro) - The 5 Red Herrings- e é bem verdade que cada nova leitura nos traz
novas perplexidades. Ou talvez apenas descubramos coisas que são curiosas, pelo facto
de aparecerem num momento especial.
Vai
haver, na próxima 5ª feira, um referendum na Escócia sobre a sua independência -ou não- do Reino
Unido.
Escócia, Ilha de Skyes
Acontecem estas coisas cada vez mais frequentemente nos dias que correm.
Infelizmente, coincidem com o “abandono” de uma terra em relação a outra ou
pelo egoísmo da região mais rica que não quer “aguentar” o peso da mais fraca.
Mas não vim falar de política, vim falar de gente.´
o actor Edward Petherbridge no papel de Lord Peter Wimsey
"Quem vive em Galloway ou é pintor ou é pescador. Talvez isso não seja rigorosamente assim visto que o pintor, quando não trabalha, passa o tempo a pescar.”
Galloway
é, pois, uma aldeia de pescadores, na Escócia –como veremos adiante-
frequentada sobretudo por pintores vindos de toda a parte.
Interessante ver as relações entre escoceses e ingleses - porque o livro é de 1949 e, hoje, em 2014, a Escócia decidiu “expressar” -através de um referendum- o desejo de independência. Uma vez que certa autonomia administrativa já tem...
Interessante ver as relações entre escoceses e ingleses - porque o livro é de 1949 e, hoje, em 2014, a Escócia decidiu “expressar” -através de um referendum- o desejo de independência. Uma vez que certa autonomia administrativa já tem...
Parlamento Escocês
E Dorothy Sayers continua a contar:
“Lord Peter Wimsey era acolhido sempre com toda a amabilidade e franqueza (…) apesar de ser
inglês e estrangeiro, não dava motivo de desagrado. Os Ingleses são
tolerados na Escócia desde que não atirem o seu orgulho à cara dos outros.”
(Num aparte, digo que Lord Wimsey era um "lorde" detective amador, hedonista e diletante, apreciador da boa vida e das coisas bonitas, dos manuscritos medievais -os incunábulos- e de música clássica, especialmente Bach. Resolve mistérios –sobretudo crimes- mas apenas para seu próprio deleite.)
(Num aparte, digo que Lord Wimsey era um "lorde" detective amador, hedonista e diletante, apreciador da boa vida e das coisas bonitas, dos manuscritos medievais -os incunábulos- e de música clássica, especialmente Bach. Resolve mistérios –sobretudo crimes- mas apenas para seu próprio deleite.)
o actor Edward Petherbridge
Lord Wimsey estava no "pub" McClellar Arms, na noite em que se travou a discussão entre
Campbell e Waters. Um escocês, o outro inglês...
“Campbell era pintor paisagista e já tinha bebido um copo ou dois a mais. (…) Tornou-se
mais embirrante do que é normal para um Escocês. Começou a ressaltar a acção
dos Escoceses na Grande Guerra, interrompendo a história para dizer a Waters
que os Ingleses eram todos de raça atravessada e que não sabiam pronunciar bem
a língua confusa deles.
Waters era Inglês e de boas famílias e, como todos os Ingleses, estava disposto a admirar e exaltar todos os estrangeiros, excepto os ‘dagos’ (*) e os negros, mas irritava-o ouvir auto-elogios que considerava inconvenientes.” (…)
Waters era Inglês e de boas famílias e, como todos os Ingleses, estava disposto a admirar e exaltar todos os estrangeiros, excepto os ‘dagos’ (*) e os negros, mas irritava-o ouvir auto-elogios que considerava inconvenientes.” (…)
Mas
Campbell, o Escocês, não se calava e prosseguia o seu discurso,
dizendo que “(…)
todos os lugares administrativos importantes em Londres eram ocupados por Escoceses, que a Inglaterra nunca conseguiu conquistar a
Escócia e que se a Escócia pretendesse ter autonomia administrativa já a teria
obtido.”
“Waters,
bem educado, apenas retorquiu:
-
O vosso mal é a vossa mentalidade inferior.”
Claro
que isto foi provocar uma série de insultos da parte do Escocês de tal modo que
se cria uma batalha campal no “pub”.
Waters
perde a fleuma britânica e grita: “Parto-lhe o pescoço seu Highlander ordinário!”
Os insultos de parte a parte chovem e a cena continua por mais um pouco. Campbell sai furioso e Waters desculpa-se
por ter sido indelicado e pede um whisky duplo.
Lord Peter Wimsey responde, ironicamente:
“É
assim mesmo, apaga-se o insulto com a bebida do país!”
Engraçado
é que aparecem logo uns escoceses a dizerem que o Campbell nem sequer era escocês.
Estava salva
a honra da Escócia! A Irlanda, afinal, é
que era a culpada…
Bem,
o pior disto tudo é que, na manhã seguinte, Campbell aparece morto, caído nos rochedos. Teria ido
pintar de manhãzinha, e teria caído.
Mas
Lord Peter Wimsey não acredita nisso e vai provar que foi, de facto, um
homicídio!
o actor Ian Carmichael, como Lord Wimsey
Na
Livraria Lumière ‘online’ há muitos livrinhos da Colecção Vampiro! Quem sabe se não haverá algum de Dorothy Sayers?
Encontrei mais estas informações na internet sobre o seu herói:
"O herói de Dorothy Sayers é Lord Peter Death Bredon Wimsey. É um 'arquétipo' do British gentleman". Não é um profissional, mas pode auxiliar a justiça…"
Ian Carmichael (em 1975) e Edward Petherbridge (em 1987) são dois actores ingleses que "deram o rosto" a Wimsey, em duas séries da BBC.
A figura parece ter sido inspirada pelo poeta e escritor e membro do Balliol College, Roy Ridley (1890-1969).
Em 1940, Dorothy Sayers abandona a sua figura para se dedicar à paixão da sua vida: a Literatura Medieval...
Dorothy Sayers, no Brasil
fachada do Balliol College
Nota biográfica: “Dorothy
L. Sayers (Oxford, 13 de Junho de 1893 - Witham, 17 de Dezembro de 1957) foi
uma escritora e romancista britânica, famosa pelos seus renomados romances policiais
e thrillers jurídicos.
Dorothy Leigh Sayers, nasceu em Oxford em 13 de Janeiro de 1893, filha do Reverendo Henry Sayers, e Helen Mary Leigh Sayers. Formou-se em literatura medieval na universidade de Oxford, no Sommerville College. Foi uma das primeiras mulheres a licenciarem-se – em 1915- nesta Universidade bastante conservadora.
Dorothy Leigh Sayers, nasceu em Oxford em 13 de Janeiro de 1893, filha do Reverendo Henry Sayers, e Helen Mary Leigh Sayers. Formou-se em literatura medieval na universidade de Oxford, no Sommerville College. Foi uma das primeiras mulheres a licenciarem-se – em 1915- nesta Universidade bastante conservadora.
(*) Nota de rodapé, da autora: "Os ‘dagos’ são, segundo o Oxford Dictionary, uma palavra que refere os italianos, franceses e espanhóis, gente do Sul, portanto…"
Dei-me ao trabalho de ir ver a palavra "dago" nesse mesmo (meu) diccionário e encontrei: "Slang ofensivo. Estrangeiro, Espanhol ou Spaniard, Português ou Italiano."
Gostei muito do post.
ResponderEliminarA Escócia foi independente até à Acta de União de 1707 que criou a Gran Bretanha ( enquanto que a Catalunha só o foi entre 1641 e 1659), e a Escócia foi sempre a irmã pobre, a gata boralheira do império britânico. Agora os políticos ingleses apressuram-se a oferecer-lhe, se não se independiza, o que deveria ter tido sempre. São coisas como estas que nos fazem desprezar cada vez mais a classe política, que o que melhor sabe fazer é roubar o povo em benefício próprio.
Enfim...Que tenhas um bom dia, malgrés tout!
Não acredito que se deva desprezar em bloco a classe política... Há que saber escolher, e condicionar os políticos que escolhemos: a democracia ainda é o sistema melhor. Talvez um dia se invente um sistema "ideal", perfeito. Mas isso não é lá muito próprio do homem!
ResponderEliminarbeijos
Também gostei muito do post!
ResponderEliminarA Maria João com o seu gosto pelos livros policiais consegue contagiar-nos.
Fico sempre com vontade de ler mais livros policiais, de que até gosto, apesar de não ter lido muitos.
Na política, tenho um bocado a tendência de também generalizar, tal como a Maria. Para mim é tudo igual. Aparece alguém (como foi por exemplo com este ministro da educação...) que fala bem, em quem vamos colocando esperanças de alguma mudança e depois quando lá estão são todos iguais.
Os políticos só vêem os interesses deles e dos amigos. Não acredito em nenhum.
Eu sei que a Maria João não pensa assim...
Um beijinho grande :)
Isabel, tu tens que pensar da tua maneira, claro! Não gosto de generalizar EM NADA...porque tudo é sempre diferente.
EliminarEsperanças temos de ter sempre, perder e renová-las, é um longo trabalho. Mas é proibido desistir de esperar!, dizia o Rabbi Nahman de Breslaw que não era nada parvo!
Beijinhos
Não há alternativa aos Partidos nesta democracia
ResponderEliminarQue seja o povo a escolher em liberdade
a sua soberania
nesta europa
onde as fronteiras só se redefiniram a leste
De acordo, claro: como também não há alternativa à democracia. E foi uma dura conquista tê-la... Muitos ignoram o que isso foi!
EliminarDe acordo, claro: como também não há alternativa à democracia. E foi uma dura conquista tê-la... Muitos ignoram o que isso foi!
EliminarMaria João,
ResponderEliminarGostei muito mas entristece-me se o sim ganhar pois faz-me impressão que por causa da riqueza de uma região ela se queira tornar independente.
Gosto igualmente de policiais mas não conheço esta escritora. Li muitos livros da colecção Vampiro há uns anos atrás.
Beijinho grato e parabéns pela abordagem de um tema político de uma forma muito fresca.:))
Sim , Ana, penso o mesmo que tu. E afnal houve mais gente que o pensou pois o NÃO é que venceu. Foi importante o protesto e os resutados mostram bem o descontentamento dos escoceses. Agora, toca a Londres tirar uma lição e fazer o necessário nas relações com a Escócia e, talvez, o País de Gales. Se o reino é unido, apesar das diversidades, tem de haver mais igualdade entre as partes...
EliminarBeijinhos
Lê a Dorothy Sayers. Em inglês, será melhor, nem sempre as traduções sâo boas. Perde-se o "humor" dos ingleses (e dos escoceses....)