Em casa, ouve-se música a toda a hora: “clássica” (barroca para uns, romântica
para outros), jazz, (hard)rock (why not?), "funky". E a minha querida Billie Holiday vem todos
os dias cantar para mim. Umas vezes triste, outras alegre. E os amigos também gostam e vão aprendendo...
Como aconteceu? Bem, eles nunca páram quietos e andam por aí a investigar tudo. Há uns tempos, o Ratinho
Poeta encontrou um instrumento musical, um “luth” marroquino, um belo modelo de madeira.
Oferecera-mo a minha empregada Hanane, em Rabat, à despedida. E deu juntamente –coisa que muito me sensibilizou – um exemplar, antigo, do Corão, encadernado em pele fina, que o pai lhe oferecera. Por isso nunca me esqueço dela. Mas isso é outra conversa.
Oferecera-mo a minha empregada Hanane, em Rabat, à despedida. E deu juntamente –coisa que muito me sensibilizou – um exemplar, antigo, do Corão, encadernado em pele fina, que o pai lhe oferecera. Por isso nunca me esqueço dela. Mas isso é outra conversa.
Quem não estava feliz era o Ouricinho! Queria ter uma
guitarra, mas não me pedia nada.
Disse-me, com um ar tristonho:
-
Todos tocam guitarra menos eu. O Diogo diz que a Gui tem um amigo que toca
muito bem guitarra eléctrica.
-
Um amigo da Gui? Haha, riu-se o Ratinho, é o Val, o marido dela, de certeza.
E continuou a tirar uns acordes suaves e a olhar-nos por cima dos bigodes, mas atento a não trocar as notas.
E continuou a tirar uns acordes suaves e a olhar-nos por cima dos bigodes, mas atento a não trocar as notas.
-
Não sei se é... O Diogo disse que ele era um “pro”!
-
Um “pro”?, perguntei eu. O que quer dizer isso?
-
Não sei, mas ele disse…
-
Quer dizer um profissional!
E o Ratinho enchia o peito de ar, contente por saber tantas coisas.
E o Ratinho enchia o peito de ar, contente por saber tantas coisas.
-Ah...
Deixei-os na conversa. Percebera, no entanto, que tinha de resolver aquele problema do Ouricinho, inconsolável.
Fui à rua ver o que havia: por sorte, encontrei uma guitarrinha à venda, nos Correios, mesmo boa para o tamanho dele. E de boa qualidade!
Não
imaginam o espanto e a alegria que teve! Abriu o embrulho, tirou o papel com muito cuidado, sentado numa almofada, enquanto perguntava:
- É mesmo para mim?
E olhava-me com os seus olhinhos doces, sempre interessados em tudo.
- Tu lembraste-te de mim? Como é que sabias que eu adorava ter uma guitarra?
E olhava-me com os seus olhinhos doces, sempre interessados em tudo.
- Tu lembraste-te de mim? Como é que sabias que eu adorava ter uma guitarra?
Fiquei contente por ele:
-
Ó Ouricinho Dan, eu conheço-te bem. E sei que não és capaz de pedir nada para
ti…
-
Sim. Também por causa da crise Não gosto. Tu tens tantas despesas...
O
Ratinho sorria, porque é um bom coração e ficou feliz com a alegria do
amigo. O Ouricinho, esse, não cabia em si de contente!
-
Vamos, então, lá para dentro! Temos de ensaiar, disse ele, agarrado à guitarra.
-
Criamos um "dueto", queres?
A Gatinha japonesa ia de um para o outro e batia as palmas. Experimentava as
cordas com o seus dedinhos pequeninos. Lembrei-me de um pormenor de Rosso Fiorentino, um anjinho "musicante" adorável!
-
São tão bonitos estes sons. No Japão, apreciam muito a música…
O
Ratinho atalhou:
-
Quem cantou uma vez e teve boa voz, canta sempre!
Pareceu-me ouvir vozes, vindas do cantinho da lareira. Seria ilusão minha? O Ratinho acrescentava, convencido:
- É uma coisa que não se esquece. É só afinar as cordas vocais.
Pareceu-me ouvir vozes, vindas do cantinho da lareira. Seria ilusão minha? O Ratinho acrescentava, convencido:
- É uma coisa que não se esquece. É só afinar as cordas vocais.
-
As cordas vocais? O que são essas cordas?
Tentei
explicar…
-
Como é que tu falas, Ouricinho? Os sons que usamos são emitidos pelo ar a
passar pelas cordas vocais.
-
Ah! A voz… E vêem-se na garganta? São fininhas assim como estas?
-
Não, não se vêem mas sentem-se vibrar. Põe a mão aqui enquanto falo.
-
Ai, faz cócegas!
Ri-me.
Eles lá foram, agarrados aos instrumentos, com a Gatinha atrás, a rir e a conversar. Um
minuto depois, já se ouviam os sons desafinados da guitarra, toques daqui e
dali, risos. Até que se ouviu uma música suave e uma vozinha fina, fina.
Uma história encantadora!
ResponderEliminarConsigo imaginar o movimento e as conversas deles aí em casa...estou a ler e a "vê-los" numa agitação por aí dum lado para o outro, a rir, a falar, a perguntar...
ADORO!!
São uma ternura estas histórias!
Um beijinho grande...para todos:)
A ternura dos bichos é bem uma metáfora da vida a haver...
ResponderEliminarBeijinhos
Encantadora a história dessa casa com bichos animados e simpáticos.
ResponderEliminarLindas fotos, levei a nº 18, e quando fui a guardá-la punha: musicantes. Achei muita piada, o ordenador tem umas coisas graciosas. Musicantes, pois..
ResponderEliminarUma história musicante!
bEIJINHO