segunda-feira, 8 de setembro de 2014

RATINHO E OURICINHO DESCOBRIRAM A MÚSICA!



Em casa, ouve-se música a toda a hora: “clássica” (barroca para uns, romântica para outros), jazz, (hard)rock (why not?), "funky". E a minha querida Billie Holiday vem todos os dias cantar para mim. Umas vezes triste, outras alegre. E os amigos também gostam e vão aprendendo...





Mas hoje, a música é outra! São “eles” mesmo… Estão sempre a tocar!



Como aconteceu? Bem, eles nunca páram quietos e andam por aí a investigar tudo. Há uns tempos, o Ratinho Poeta encontrou um instrumento musical, um “luth” marroquino, um belo modelo de madeira.


Oferecera-mo  a minha empregada Hanane, em Rabat, à despedida. E deu juntamente –coisa que muito me sensibilizou – um exemplar, antigo, do Corão, encadernado em pele fina, que o pai lhe oferecera. Por isso nunca me esqueço dela. Mas isso é outra conversa.


O Ratinho estava tocar ao pé da varanda junto ao quadro da Gui. E a bailarina de vestido cor de rosa dançava para ele. De olhos meio fechados, abanando a cabeça ao ritmo da música, via-se que estava inspirado. 



Quem não estava feliz era o Ouricinho! Queria ter uma guitarra, mas não me pedia nada. 
Disse-me, com um ar tristonho:
- Todos tocam guitarra menos eu. O Diogo diz que a Gui tem um amigo que toca muito bem guitarra eléctrica.



- Um amigo da Gui? Haha, riu-se o Ratinho, é o Val, o  marido dela, de certeza.
E continuou a tirar uns acordes suaves e a olhar-nos por cima dos bigodes, mas atento a não trocar as notas.
- Não sei se é... O Diogo disse que ele era um “pro”!
- Um “pro”?, perguntei eu. O que quer dizer isso?
- Não sei, mas ele disse…
- Quer dizer um profissional
E o Ratinho enchia o peito de ar, contente por saber tantas coisas.

-Ah...
Deixei-os na conversa. Percebera, no entanto, que tinha de resolver aquele problema do Ouricinho, inconsolável. 
Fui à rua ver o que havia: por sorte, encontrei uma guitarrinha à venda, nos Correios, mesmo boa para o tamanho dele. E de boa qualidade!

Não imaginam o espanto e a alegria que teve! Abriu o embrulho, tirou o papel com muito cuidado, sentado numa almofada, enquanto perguntava:




- É mesmo para mim?
E olhava-me com os seus olhinhos doces, sempre interessados em tudo. 
Tu lembraste-te de mim? Como é que sabias que eu adorava ter uma guitarra? 

E parecia comovido, com a minha atenção. Foi mostrá-la à passarada que anda lá pela sala. Todos olharam espantados: "o Ouricinho tem uma guitarra!" 
Fiquei contente por ele:
- Ó Ouricinho Dan, eu conheço-te bem. E sei que não és capaz de pedir nada para ti…
- Sim. Também por causa da crise Não gosto. Tu tens tantas despesas...
- É uma prenda de Verão!

O Ratinho sorria, porque é um bom coração e ficou feliz com a alegria do amigo. O Ouricinho, esse, não cabia em si de contente!
- Vamos, então, lá para dentro! Temos de ensaiar, disse ele, agarrado à guitarra.
- Criamos um "dueto", queres? 
A Gatinha japonesa ia de um para o outro e batia as palmas. Experimentava as cordas com o seus dedinhos pequeninos. Lembrei-me de um pormenor de Rosso Fiorentino, um anjinho "musicante" adorável!

- São tão bonitos estes sons. No Japão, apreciam muito a música…
- Queres cantar no nosso grupo?, perguntou o Ouricinho.
- Não sou capaz… 
E ria-se envergonhada. 

- É que não canto há tanto tempo.
O Ratinho atalhou:
- Quem cantou uma vez e teve boa voz, canta sempre! 
Pareceu-me ouvir vozes, vindas do cantinho da lareira. Seria ilusão minha? O Ratinho acrescentava, convencido:
- É uma coisa que não se esquece. É só afinar as cordas vocais.
- As cordas vocais? O que são essas cordas?
Era o Ouricinho, curiosíssimo. Já começara a dedilhar a guitarra, mas deitado...

Tentei explicar…
- Como é que tu falas, Ouricinho? Os sons que usamos são emitidos pelo ar a passar pelas cordas vocais.
- Ah! A voz… E vêem-se na garganta? São fininhas assim como estas?
- Não, não se vêem mas sentem-se vibrar. Põe a mão aqui enquanto falo.
E peguei nele com a mão. Pôs a patinha na minha garganta e tirou-a logo.

- Ai, faz cócegas!
Ri-me. Eles lá foram, agarrados aos instrumentos, com a Gatinha atrás, a rir e a conversar. Um minuto depois, já se ouviam os sons desafinados da guitarra, toques daqui e dali, risos. Até que se ouviu uma música suave e uma vozinha fina, fina.

Imaginei-os felizes, na sala cheia de luz!
Pouco depois,  fui dar com eles, de patas para o ar, no sofá, sem se mexerem de tão cansados! 



Que dueto de cordas  este!, pensei.

4 comentários:

  1. Uma história encantadora!
    Consigo imaginar o movimento e as conversas deles aí em casa...estou a ler e a "vê-los" numa agitação por aí dum lado para o outro, a rir, a falar, a perguntar...
    ADORO!!

    São uma ternura estas histórias!

    Um beijinho grande...para todos:)

    ResponderEliminar
  2. A ternura dos bichos é bem uma metáfora da vida a haver...

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  3. Encantadora a história dessa casa com bichos animados e simpáticos.

    ResponderEliminar
  4. Lindas fotos, levei a nº 18, e quando fui a guardá-la punha: musicantes. Achei muita piada, o ordenador tem umas coisas graciosas. Musicantes, pois..
    Uma história musicante!
    bEIJINHO

    ResponderEliminar