Antologia de Poesia Japonesa (sé.XVIII)
Sôseki pertenceu a uma família de samurais, de Edo -nome antigo do actual Tóquio. Desde criança, começa a estudar literatura chinesa e entra para a Universidade Imperial de Tóquio com 23 anos para estudar literatura inglesa.
Muito novo, ainda, ensina inglês na Universidade (Universidade Waseda, hoje).
Escreve e assina os seus textos com o nome Soseki (que, em chinês, quer dizer “incómodo”). Sôseki é um grande escritor da época Meiji.
Muito novo, ainda, ensina inglês na Universidade (Universidade Waseda, hoje).
Soseki e os escritores Akutagawa e Kukuchi Kan
Escreve e assina os seus textos com o nome Soseki (que, em chinês, quer dizer “incómodo”). Sôseki é um grande escritor da época Meiji.
Imperador Meiji (1867-1912)
“A poética do haiku baseia-se geralmente no assombro e na emoção que causa no poeta a contemplação da natureza.” Estes poemas encontrei-os num livrinho que se intitula apenas “Haikus”. Escolhi alguns haikus de Sôseki para exemplificar a frase acima citada. Os desenhos são do autor e têm uma delicadeza espantosa.
Enxame
de laranjas
Inclina
os braços de oiro
O
sábio desconhece a solidão
*
Flor
de uma tarde
Efémera
e melancólica
Que
amanhã não será
*
Jardim
no crepúsculo
Sem
pôr luz nem fechar as cortinas
Fico
a contemplar as flores
*
Gostaria
de renascer
Se
fosse possível
Modesto
como a violeta
*
Na
asa do vento
Ligeira
e longínqua
A
andorinha
*
Vento
de leste vento da Primavera
Se
soubesse que me esperavas
Como
definir estes poemas que falam do minuto que passa, do átimo de que não damos
conta, e nos marca para sempre, do momento de graça efémero?
O livro de que falo é ilustrado com os desenhos que o escritor fazia e que são de uma delicadeza espantosa. No Prefácio -escrito pelo seu editor Akiyama Yutaka- do livro que refiro (publicado em França, nas edições Picquier Poche) encontrei muitas informações sobre ele. Soseki escreveu desde a sua juventude -e até à morte- cerca de 2500 haikus.
“Momentos de graça, livre da pressão abafada da vida real, onde o espírito pára no limiar de um poema, numa intensa plenitude”.
Mas o que é exactamente um haiku?, pergunto eu. Sei que há uma questão de 17 sílabas obrigatórias -que não se contam como as nossas sílabas, pois no fundo são 17 "signos" (ou, melhor, caracteres?). Sei que os temas são geralmente a natureza, as estações do ano, uma emoção súbita, um estado de alma.
Natsume Sôseki –professor de Literatura Inglesa na
Universidade de Tóquio- explicava-o de modo simples aos seus alunos. Porque Soseki escrevia -e falava- de modo simples e claro e os alunos apreciavam-no.
É um seu aluno, Terado Torahiko (hoje professor de química de renome) quem
conta como ele o definia :
“Um
‘haiku’ é, em primeiro lugar, um concentrado de retórica; em segundo lugar é um
universo irradiante a partir de um ponto focal – tal como o nó de um leque que permite manter unidas
todas as varetas.”
E
Sôseki costumava dar como exemplo do ‘haiku’ perfeito este de Mukai Kyorai que foi discípulo do famoso Matsuo Bashô (era de Edo):
Bashô
Ó vento do Outono
Do arco em madeira imaculada
a corda estica
Explicando como o arco de madeira branca acabado de cortar e sem enfeites nem envernizado, na sua inicial pureza tal como o instrumento nunca usado antes, em estado natural, respondem ao vento. O vento passa no instante mesmo em que o atirador prepara o arco visando o alvo.
O poema é, neste caso, a tensão da atmosfera nesse breve instante. O 'haiku' pode, no entanto, mostrar o paroxismo da dor. De facto, Soseki considerava o poema que Basho dedica a um amigo morto como “o paroxismo da dor em 17 sinais”.
O poema é, neste caso, a tensão da atmosfera nesse breve instante. O 'haiku' pode, no entanto, mostrar o paroxismo da dor. De facto, Soseki considerava o poema que Basho dedica a um amigo morto como “o paroxismo da dor em 17 sinais”.
Que o túmulo se agite
Não ouves o meu choro
Que o vento do Outono leva
Que o vento do Outono leva
Insistindo na compreensão desta arte: arte que afasta a expressão directa de um sentimento, que não revela a dor nem a tristeza, nem mesmo a alegria, directamente - como fazê-lo em 17 sílabas apenas?- mas que é, no entanto, é a expressão mesma de um sentimento violento seja ele qual for que "se adivinha" apenas.
Masaoka Shiki
Foi
com Masaoka Shiki que Soseki teve lições de composição de haikus. Cresceram juntos e
foram amigos. Desde muito cedo que Soseki começa a escrevê-los, sob o
ensinamento de Shiki, mas com um toque especial, diferente, que o "mestre" reconhece.
Dos seus poemas de
1895, escreve Shiki: “Desde o princípio descobri nele uma grande originalidade de
invenção.” E cita o poema:
Céu de Outono
A acha corta o espaço de âmbar
Uma criptoméria oscila.
Fala do estado de alma outonal deste haiku: vê-se, simultaneamente, a lâmina da acha, a árvore - um cedro do Japão- que vai ser abatida, o corte, ainda não realizado, a secura do ar e a pureza do azul do céu ligeiramente amarelado como que tocado pela cor âmbar.
Masaoke
Shiki (14 de Outubro de1867-19 de Setembro1902) foi um poeta japonês e um critico literário que morre jovem. Considerado como um dos figuras mais
importantes do desenvolvimento da moderna poesia de haikus. Na sua morte, Soseki escreve:
Ninguém os convidou na terra
Amigo e tu por que não voltas
Muito haveria a dizer do "dizível" e do "indizível" do haiku, em que se sente e se comunica, mas nunca directamente, mas sempre intensíssimo.
Mais sobre a obra do autor. Em 1905, publica Wagahai wa neko de aru (Sou um Gato) que tem muito sucesso.
* * *
Mais sobre a obra do autor. Em 1905, publica Wagahai wa neko de aru (Sou um Gato) que tem muito sucesso.
Dois anos mais tarde, deixa o ensino e
dedica-se apenas a escrever. É colaborador exclusivo no jornal Asahi Shimbun onde vai publicando os seus contos.
Em 1910, tem a primeira crise de úlcera, com hemorragias que o deixam num estado gravíssimo. De cujas complicações virá a morrer, em 1916.
Em 1910, tem a primeira crise de úlcera, com hemorragias que o deixam num estado gravíssimo. De cujas complicações virá a morrer, em 1916.
Devo referir a obra de novelística do autor. Soseki escreveu vários livros entre eles Kokoro (1914), Sanshiro, as Ervas no Caminho.
Kokoro significa literalmente “coração” mas a palavra contem nuances de sentido e pode ser traduzida mais completamente por “o coração das coisas” ou “sentimento”.
Deixou incompleta a última obra Ligh and Darkness, o romance que escreveu até poucos dias antes de morrer. A um aluno disse, numa carta, que a novela se alongava cada vez mais e que tinha receio de não ter tempo de a acabar.
Um ano mais tarde, Iwanami Shonen publica-a - tal como a deixou. Foi a mais longa novela que escreveu, com cerca de 200 páginas mais do que I Am a Cat e as outras.
Kokoro significa literalmente “coração” mas a palavra contem nuances de sentido e pode ser traduzida mais completamente por “o coração das coisas” ou “sentimento”.
Um ano mais tarde, Iwanami Shonen publica-a - tal como a deixou. Foi a mais longa novela que escreveu, com cerca de 200 páginas mais do que I Am a Cat e as outras.
O editor Akiyama Yutaka dirigiu a publicação das suas Obras Completas, em 28 volumes, no Japão, terminada em 1999.
(*) Kanshi- poema chinês, escrito por poetas japoneses.
ihttp://en.wikipedia.org/wiki/Natsume_S%C5%8Dseki
ihttp://en.wikipedia.org/wiki/Natsume_S%C5%8Dseki
Gostei muito de ler este post. Esse livro de que fala, com os desenhos, deve ser muito bonito.
ResponderEliminarEste tipo de poesia, haiku, só a descobri desde que ando pela blogosfera. Antes disso, posso ter lido alguma coisa, mas não a identificava como tal. Gosto.
Mais um post interessantíssimo!
Um beijinho e um bom domingo:)
Gosto muito de Haiku. Tenho alguns livros. Dois são de poetizas japonesas, o que também é raro.
ResponderEliminarO Ivo tem um livro de Haiku mas em Inglês.
Apreciei muito este registo. Estou cheia de trabalho, por isso apareço pouco.
Beijinho grato por esta partilha sublime. :))