Que
dizer dos meus amigos? Houve um tempo de confusão aqui por casa e eles, em
silêncio, acompanharam os meus movimentos um pouco desordenados.
Primeiro, viram
chegar à varanda algumas plantas novas. Outras , como os bambus, ficaram resguardadas dentro de
casa.
-
Estás nervosa? Triste? É por causa da Gui se ter ido embora?, perguntou o Ratinho. É verdade que também já lá está fora o Diogo...
-
Agora até temos um limoeiro, viste? Era dela - disse o Ouricinho. Dou-te este limão!
Sim, claro, triste estava. Tenho saudades dos dois, mas não queria ver estes tristes.
Depois disso tudo, veio a aventura da migração dos pombos para a varanda e tem sido
difícil a comunicação e a "logística". Assinámos um contrato: pombos na varanda e “nós” dentro
de casa! E assim temos conseguido coexistir com a família Pombal, Pigeon eu sei
lá como lhe hei-de chamar. Percebo uma certa impaciência no Ratinho e no Ouricinho. E
compreendo-os porque até certo ponto foi uma invasão do “nosso” espaço, sem
pedir licença.
Bem,
a culpa foi minha. A ver tantas migrações infelizes pelo mundo fora e tanta indiferença, tive um gesto de solidariedade animal! E convenci-me que era tudo simples e possível, mas não foi,
nem é.
Seja
como for, não me arrependo do meu gesto de acolher uma mãe “grávida” de dois
ovinhos. Só que não aceito uma segunda experiência do mesmo género. E já vi
movimentos de tropas "pombinas" (neologismo meu) "por aqui e por ali", como no blog da Isabel.
Os filhos andam excitados e dão às asas
assim que os pais chegam. O pai pombo, com grande fleuma, parece que os ouve, não responde e depois voa! A mãe esconde-se detrás dos vasos e hoje havia um grande monte
de gravetos, palhinhas tudo em forma de ninho. Quando eu entro na varanda, eles
fogem e os pombinhos desaparecem num canto.
Fui buscar a vassoura e a pá, pus uma máscara (sim!), calcei as luvas
da cozinha e varri tudo. Bem, e pus uns cabides de arame da tintoraria a fazer de preotecção à roda das flores.
Sinto-me
mal, confesso, mas a verdade é que aquilo era só uma tentativa-de-ninho e
prefiro que a pomba vá pôr os ovos noutro local, do que ter de deitar fora os
ovos. Estou drástica, e decidida, como vêem…
E
de manhã, resolvi ir ao mercado de Cascais comprar fruta e verduras! Para arejar
a cabeça e não pensar nos pombos? Também para isso!
Quando
voltámos a casa, esperavam-me os nossos amigos mais antigos, contentes porque eu
trazia um grande ramo de basílico e a fruta que eles adoram.
-
É o teu manjerico para o São Pedro?
E
o Ratinho pôs-se a cheirar, com um ar irónico, o perfumado molhinho de ervas
aromáticas. A gatinha japonesa sentou-se ao lado deles.
-
Pois é, acrescentou o Ouricinho, até te esqueceste de comprar um vaso de manjerico, no São João…
-
Que ainda por cima era o dia do teu onomástico!
E
o Ratinho abanava a cabeça, num ar de censura que queria significar, é claro: “com
esta história dos pombos, já não fazes a tua vida normal. Até te esqueceste do
dia de São João!”
-
É verdade, esqueci-me. Mas agora para o São Pedro não temos um manjerico mas
sim um manjericão!
-
Ora - disse o Ratinho, sempre lúcido- tenho a certeza de que vais fazer tanta “pasta
all’ italiana” que o basílico não
chega nem ao São Pedro!
Fingi
não entender. Sabia que ele tinha razão! Imaginava já um belo prato de massa italiana, com aquele manjericão todo...
-
Trouxe cerejas! Quem quer?
Correram
os três para a caixa das cerejas e foi uma brincadeira pegada.
“Cerejas
pretas, vermelhas
Perdidas
pelos caminhos
São
os brincos das orelhas
Das
filhas dos pobrezinhos”,
Cantou
o Ouricinho. E já trazia duas cerejas penduradas das orelhinhas. Como é que ele conhecia aqueles versos? O Ratinho esse, sempre instruído e mais intelectual, preferiu referir-se ao “tempo das cerejas”, a canção dos tempos revolucionários.
“Quand nous chanterons au temps des cerise
le gai rossignol et le merle moqueu
seront tous en fête…
Des
merles auront la folie en tête
et les amoureux le soleil au coeur.”
Melros, rouxinóis e apaixonados com o sol no coração. E acreditam, queridos leitores? Há bocadinho, vi um dos jovens pombos empoleirado sozinho no parapeito da varanda.
E, ao cair da noite, a pombinha pintalgada de negro estava a olhar a paisagem, tentando equilibrar-se nas patinhas frágeis. E esta manhã, õ surpresa!, estavam os quatro na varanda do prédio do lado!
Afinal já sabem voar! E agora?
E, ao cair da noite, a pombinha pintalgada de negro estava a olhar a paisagem, tentando equilibrar-se nas patinhas frágeis. E esta manhã, õ surpresa!, estavam os quatro na varanda do prédio do lado!
Afinal já sabem voar! E agora?
Ouvir os “Noir Désir” cantando Le temps des cerises, numa versão rock…
Parece que a calma vai regressar e tudo está no seu lugar!
ResponderEliminarOs pombos estão prontos para partir!
Realmente se lhes desse "corda" iam ser cada vez mais! Seria incomportável!
Esse prato de massa está apetitoso...adoro massas!
Os amiguinhos já estão mais animados e calmos, voltaram a ser o centro das atenções: é justo!!
O limoeiro que aí tem deu esse limão? Então deve ser bem grande...que giro:)
Mais um post encantador; adoro as histórias dos meus heróis...
Um beijinho grande e um bom domingo:)
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ResponderEliminar~~ Li com imenso prazer, MJ.
~~ Uma prosa deliciosa pela sua vivacidade e depuração...
~~~~~~ Beijinhos. ~~~~~
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