Andam-me
a observar há dias. Mudanças por cá, uns chegam outros vão, a vida aqui por
casa é um andar e voltar, ir e partir outra vez. Como borboletas...
O
Ratinho perguntou-me ontem:
-
Sentes-te bem? Estás contente?
-
Estou, Ratinho.
Mas
não estou. Por causa dessas idas e voltas. Quando o tempo começa a passar mais
depressa (sentimos nós), quando se afastam pessoas que nos fazem falta, há
sempre uma tristeza inevitável. Agarra-nos a nostalgia do passado!
Depois vem o ‘pensamento’ (o tal que cansa a
vista!) e explica que tem que ser assim.
E começamos a fazer “mente locale”. Já gora explico que esta era a frase
preferida do nosso professor de aeróbica, em Roma, e mais ou menos queria
dizer isto: “desliguem de tudo.” De
facto, a Gui, minha colega dessas aulas, ainda hoje me diz: “Ah, MA, fai
mente locale!” quando me vê preocupada.
Os
amigos estão ali sentados na minha frente, a olharem para mim. A Gatinha
japonesa anda mais faladora, parece mais aberta, menos retraída. Ontem, estava eu a tomar o meu café da tarde, chegou-se ao pé de mim com uns postais do Reuven Rubin, e espalhou-os no sofá. Perguntou-me, suavemente:
-
Não achas que são encantadores? Quase como certas pinturas japonesas. Pelas
cores, pela suavidade dos desenhos.
Sorri.
Só ela diria encantadores.
-
Sim. Também gosto muito do Rubin: mar azul, céus abertos, cores e até os perfumes
ele nos faz sentir…
Os outros dois estavam de acordo. Passado um momento, veio o Ouricinho da cozinha, a gritar:
-
Anda ver o que apareceu ao pé do tabuleiro da fruta!
Lá
fui a correr. Eles estavam à espreita, sorrateiros, em cima do micro-ondas.
-
É um rinoceronte, parece-me!, disse o Ratinho, de longe. Parece-me, não sei bem…
-
Um rinoceronte mesmo? Da selva? E tão pequenito!, entusiasmava-se o Ouricinho
com pequenos gritos de espanto.
- Não pode ser, disse a Gatinha.
-
Sabem, não é um rinoceronte…disse eu, com pena de os desiludir.
-
É um bocado de gengibre!, riu-se a Gatinha.
Além
de sábia e culta, a Gatinha japonesa é observadora. Era de facto um pedaço de
gengibre com um formato estranho que eu tinha trazido do mercado. Para
disfarçar o seu engano, o Ratinho perguntou:
-
Querem ver os tomatitos na varanda?
-
Quero, claro!
-
São três tomatitos que descobri, vermelhos e bem maduros.
-
A sério?, perguntei.
-
Sim, foi de repente! Eu acho que é mais uma prova do aquecimento climatérico,
acrescentou o Ratinho. A verdade é que não costumava haver tomates maduros no
Inverno. Muito menos ao pé do mar…
-
Tens razão, não é costume. Tem cuidado, não caias, Ratinho!
Hoje,
choveu bastante de manhã. Estiveram a espreitar pela janela do meu quarto, aborrecidos.
Voltámos à varanda e os tomatitos, os tais prematuros,
tinham caído do ramo. O céu estava enevoado e o pavimento encharcado. Os ramos das buganvílias estavam sem folhas e o limoeiro
despido -apenas com dois ou três limõezinhos minúsculos.
-
Está um tempo que ninguém entende, murmurou triste o Ouricinho. Ontem tão vivos
e hoje caídos na terra!
O
Ratinho dava a volta a tudo na varanda. Constatava os desastres do Inverno. Deste Inverno entre calor e chuvadas e tantas ventanias!
-
E a oliveira, que pena. Tão deslavada, coitadinha! E as flores por onde andam?
Nem uma flor…
-
É o Inverno, Ratinho. Não parece, mas estamos no Inverno.
Mas
o Ouricinho que é um optimista descobriu
umas flores.
-
Olha, flores do Inverno na tua varanda!
- Obrigada,
Ouricinho! Nunca desistas de procurar as coisas boas e a beleza! Traz sempre contigo a alegria.
E, claro, vamos fazer “mente locale” -
e até o Inverno há-de passar.
Fazer "mente locale" parece-me uma boa ideia!
ResponderEliminarO Ratinho e o Ouricinho são sempre uns sábios!
Gosto deles:)
E gostei imenso do post:)
Um beijinho e desejo-lhe um bom fim-de-semana:)
As partidas e as chegadas, fazem saudades, trazem alegrias, algumas tristezas mas o carinho está sempre presente, nota-se na escrita. Estes amiguinhos sabem transmitir o carinho e apreciar a varanda tão prometedora e frutuosa. Quem parte leva a saudade e aprecia a mulher que lhes dá alento, nestas pequenas (grandes) coisas.
ResponderEliminarBeijinhos. :))
É sempre bom ter a que agarrar-se num dia cinzento de despedidas. A primavera já anda perto, e tudo voltará a florescer!
ResponderEliminarUm bom dia, em boa companhia. Beijinho