quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

E O RATINHO E O OURICINHO VOLTAM À CENA!




Andam-me a observar há dias. Mudanças por cá, uns chegam outros vão, a vida aqui por casa é um andar e voltar, ir e partir outra vez. Como borboletas...
O Ratinho perguntou-me ontem:
- Sentes-te bem? Estás contente?
- Estou, Ratinho.
Mas não estou. Por causa dessas idas e voltas. Quando o tempo começa a passar mais depressa (sentimos nós), quando se afastam pessoas que nos fazem falta, há sempre uma tristeza inevitável. Agarra-nos a nostalgia do passado!
Depois vem o ‘pensamento’ (o tal que cansa a vista!)  e explica que tem que ser assim. 
E começamos a fazer “mente locale”. Já gora explico que esta era a frase preferida do nosso professor de aeróbica, em Roma, e mais ou menos queria dizer isto: “desliguem de tudo.” De  facto, a Gui, minha colega dessas aulas, ainda hoje me diz: “Ah, MA, fai mente locale!” quando me vê preocupada.
Os amigos estão ali sentados na minha frente, a olharem para mim. A Gatinha japonesa anda mais faladora, parece mais aberta, menos retraída. Ontem, estava eu a tomar o meu café da tarde, chegou-se ao pé de mim com uns postais do Reuven Rubin, e espalhou-os no sofá. Perguntou-me, suavemente:

- Não achas que são encantadores? Quase como certas pinturas japonesas. Pelas cores, pela suavidade dos desenhos.
Sorri. Só ela diria encantadores.

- Sim. Também gosto muito do Rubin: mar azul, céus abertos, cores e até os perfumes ele nos faz sentir…
Os outros dois estavam de acordo. Passado um momento, veio o Ouricinho  da cozinha,  a gritar:
- Anda ver o que apareceu ao pé do tabuleiro da fruta!

Lá fui a correr. Eles estavam à espreita, sorrateiros, em cima do micro-ondas.
- É um rinoceronte, parece-me!, disse o Ratinho, de longe. Parece-me, não sei bem…
- Um rinoceronte mesmo? Da selva? E tão pequenito!, entusiasmava-se o Ouricinho com pequenos gritos de espanto.
- Não pode ser, disse a Gatinha.

- Sabem, não é um rinoceronte…disse eu, com pena de os desiludir.
- É um bocado de gengibre!, riu-se a Gatinha.
Além de sábia e culta, a Gatinha japonesa é observadora. Era de facto um pedaço de gengibre com um formato estranho que eu tinha trazido do mercado. Para disfarçar o seu engano, o Ratinho  perguntou: 
- Querem ver os tomatitos na varanda?
- Quero, claro!
- São três tomatitos que descobri, vermelhos e bem maduros.

- A sério?, perguntei.
- Sim, foi de repente! Eu acho que é mais uma prova do aquecimento climatérico, acrescentou o Ratinho. A verdade é que não costumava haver tomates maduros no Inverno. Muito menos ao pé do mar…
- Tens razão, não é costume. Tem cuidado, não caias, Ratinho!

Hoje, choveu bastante de manhã. Estiveram a espreitar pela janela do meu quarto, aborrecidos.

Voltámos à varanda e os tomatitos, os tais prematuros, tinham caído do ramo. O céu estava enevoado e o pavimento encharcado. Os ramos das buganvílias estavam sem folhas e o limoeiro despido -apenas com dois ou três limõezinhos minúsculos. 

- Está um tempo que ninguém entende, murmurou triste o Ouricinho. Ontem tão vivos e hoje caídos na terra!
O Ratinho dava a volta a tudo na varanda. Constatava os desastres do Inverno. Deste Inverno entre calor e chuvadas e tantas ventanias!

- E a oliveira, que pena. Tão deslavada, coitadinha! E as flores por onde andam? Nem uma flor…
- É o Inverno, Ratinho. Não parece, mas estamos no Inverno.
Mas o Ouricinho que é um  optimista descobriu umas flores.
- Olha, flores do Inverno na tua varanda!

- Obrigada, Ouricinho! Nunca desistas de procurar as coisas boas e a beleza! Traz sempre contigo a alegria. 

E, claro, vamos fazer “mente locale” - e até o Inverno há-de passar.

3 comentários:

  1. Fazer "mente locale" parece-me uma boa ideia!

    O Ratinho e o Ouricinho são sempre uns sábios!
    Gosto deles:)

    E gostei imenso do post:)

    Um beijinho e desejo-lhe um bom fim-de-semana:)

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  2. As partidas e as chegadas, fazem saudades, trazem alegrias, algumas tristezas mas o carinho está sempre presente, nota-se na escrita. Estes amiguinhos sabem transmitir o carinho e apreciar a varanda tão prometedora e frutuosa. Quem parte leva a saudade e aprecia a mulher que lhes dá alento, nestas pequenas (grandes) coisas.
    Beijinhos. :))

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  3. É sempre bom ter a que agarrar-se num dia cinzento de despedidas. A primavera já anda perto, e tudo voltará a florescer!
    Um bom dia, em boa companhia. Beijinho

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