quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Olhando para trás com raiva e esperança...

"Uma Primavera", de Karl Bodek e Kurt Konrad Loew


Em 27 de Janeiro de 1945,  Auschwitz é libertada pelos Exército Vermelho. Os soldados russos ficaram chocados, boquiabertos,  com o que viram:  e que era impossível de acreditar que viam! Impossível de imaginar que, naquele campo,  houvesse  homens e mulheres a morrer em pé, como se não dessem por isso. Outros, tinham sido fuzilados na noite anterior.
 Pavel Fantl

 No passado dia 25 de Janeiro, no Museu da História de Berlim, abriu a exposição “Arte do Holocausto”, com obras  desenhos e de pinturas realizados, às escondidas, por prisioneiros de campos de concentração.
Como as do médico checo, Pavel Fantl, deportado em 1942, com 36 anos. Ele, a mãe, a mulher e o filho vão parar ao campo de concentração nazi de Theresienstadt. 


pintura de Pavel Fantl

Nos anos seguintes, vai pintando as cenas do horror, do inferno que vivia e presenciava. Com a cumplicidade de alguns guardas, pôde mandar para o exterior alguns desenhos. 
Um dos quadros representa Hitler, na figura de um palhaço, com as mãos cheias de sangue.

Em 1944, o Dr. Pavel Fantl e a família são enviados para Auschwitz. A mulher e o filho foram mortos logo à chegada. Da mãe, não se sabe. Ele foi fuzilado, em 1945.
Pavel Fantl, Auto-retrato

Aos 80 anos, Nelly Troll, esteve presente na inauguração de "Arte e Holocausto". 

Disse ela a Angela Merkel: “Esta exposição é uma experiência maravilhosa e um modo de aprendizagem para as novas gerações. Esses quadros eram uma forma de terapia e permitiram-me sobreviver! Eu dizia que as aguarelas eram as minhas amigas e falava com elas”.

Lembra-se bem desse tempo, escondida, com a mãe, num quarto escuro da família polaca cristã que as protegeu. O pai e o irmão foram deportados e morreram. Ela salvou-se com a mãe e, no fim da guerra, foram para os Usa. 
Entretinha-se desenhando tudo o que imaginava lá fora, na rua e nos campos. Ou que recordava...

Fiz umas 60 pinturas, fechada naquele quarto, mas todas exprimiam felicidade. Tinha de ser..."  

Helga Weissová, Concerto no dormitório

Helga Weissová, entrevistada em 2013, conta que desenhou as cenas que “viveu”, sucessivamente, em três campos de concentração diferentes: Terezin, Auschwitz e Mauthasen. 
Mandada, em 1941, com doze anos, para o ghetto de Terezin, com os pais. Em 1944, é deportada com a mãe para Auschwitz. Tem 15 anos, mas diz que tem 18 para ter mais hipóteses de viver. E diz que a mãe é mais nova do que é realmente. Para sobreviverem! E vai observando e fixando o que vê.
Helga Weissová, Terezin

desenhos de Helga Weissová



A data da exposição não foi ao acaso, esta foi a data em que o oficial judeu ucraniano da Primeira Frente do Exército Vermelho, Anatoli Shapiro,  entrou no campo de Auschwitz:  em 27 de Janeiro de 1945. Deparou-se-lhe uma “visão dantesca” de que nunca mais conseguiu libertar-se. E ficará como o símbolo do Dia do Holocausto.
 Já falei muito disto tudo. Espero que não digam: esta mania de falar dos judeus... Não é mania quando, ainda hoje, há judeus que morrem assassinados apenas porque são judeus!
Não se deve esquecer, e eu só quero lembrar...

Elie Wiesel, que passou por Auschwitz, escreveu um dia: “o carrasco mata sempre duas vezes: a segunda vez quando se esquece o que ele fez…” O carrasco não pode ficar a rir!
Uma Primavera (1941)

"Oh Vida dás-me tudo
O que não me podes dar!...
Vens com mãos de poesia,
Vens com voz de embalar,
E a dor é alegria
A ponto de chorar!"
(Oh, Vida, de Cristovam Pavia)

http://casa-de-israel.blogspot.pt/

3 comentários:

  1. Por muito que se leia ou veja, impressiona sempre pensar como seres humanos são capazes de fazer tanto mal a outros. E outros Holocaustos continuam, de outra forma, mas com a mesma crueldade.

    É muito triste.

    Um beijinho grande:)

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  2. Vidros estilhaçados no outro lado dos espelhos

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  3. ~~~
    Subscrevo o comentário da Isabel.

    ~~~ Beijinhos, MJ.~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~

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