quarta-feira, 9 de maio de 2012

Livros, escritores e mais livros: as Irmãs Brontë...


Charlotte Brontë e as suas irmãs...

Charlotte nasce em  21 de Abril  de 1816 em Thornton, no Yorkshire, e  morreu em  31 de Março de 1855.

Há pouco tempo foi vendido em leilão um dos livrinhos minúsculos manuscritos (do tamanho de uma caixa de fósforos) que as irmãs Brontë mais o irmão, Brandwell, escreviam, nas tardes passadas no presbitério, para se entreterem.
Foi o Musée de Lettres et de manuscrits” de França que comprou a preciosidade.
Podem-se ver, no Museu, desde Janeiro de 2012.
o presbitério, hoje Museu Brontë

Para grande tristeza do Director do “Brontë Parsonage Museum of Haworth” – a terra das três irmãs escritoras-  que bem gostaria de ter o mini-volume no seu Museu.
Haworth, nos nossos dias, é um local que vive apenas do turismo das “irmãs Brontë”...
Charlotte, escritora e poetisa inglesa, é a 3ª filha de seis irmãos e a mais velha das três irmãs que todas elas se vão dedicar à literatura.
Charlotte, Emily e Anne.
o pai

Estranho destino o das filhas do reverendo (da igreja irlandesa-anglicana), Patrick Brontë, vigário em Haworth. 

Foram personalidades fora do seu tempo, cheias de ambições, de vontade de ser outra coisa. 


Apesar dessa quase reclusão no Presbitério, a imaginação, a sensibilidade, a força criativa das três conseguiu que fossem ainda hoje consideradas das mais importantes escritoras ( e por que não, escritores?) da Literatura Inglesa!
Infância difícil, pouco feliz.
A mãe, Maria Branwell, morre, muito cedo, de cancro (1821), deixando cinco filhas e um rapaz atrás de si.
É a tia, Elizabeth, sua irmã, quem vem tomar conta das crianças, para o presbitério.
Nos altos de Haworth, viveram as três irmãs escritoras. E sonharam.  E sofreram.

Com oito anos de idade, Charlotte (1824) é mandada com três das outras irmãs, para o Lancashire, estudar no orfanato Clergy Daughters’s School, em Cowan Bridge.
Duas delas, Maria (nascida em 1814) e Elisabeth (1815), morrem de tuberculose em 1825.
Pouco depois, devido a problemas monetários, o pai tira-as da Escola.
Charlotte Brontë

No entanto, entre 1831 e 1832, Charlotte, a mais velha, continuou a sua educação em Roe Head, Mirfield.
Onde vai conhecer as duas amigas com quem se escreverá o resto da vida: Ellen Nussey e Mary Taylor
Em 1842, Charlotte e Emily  vão trabalhar para Bruxelas num colégio (Internato) dirigido por Constantin Heger e pela mulher, Claire Zo Heger.
Charlotte ensinava inglês e Emily, música.
Emily Brontë, retrato retocado

Tudo isto acaba também, quando a tia morre com uma oclusão intestinal, em Outubro de 1842.
Charlotte fica ainda em Bruxelas e volta um ano mais tarde, em 1843. Regressa a Haworth, em 1844.

Sente saudades de casa, é certo,  mas percebe que se prendera demasiado a Constantin Heger.
Ele vai ser a figura em que se inspiram os seus livros: “O Professor” e “ Villette”.
Que está “presente” evidentemente também na figura masculina de “Jane Eyre” (**)


Constantin Heger


Em Maio de 1846, Charlotte, Emily e Anne publicam em conjunto uma antologia de poesia, assinando com os nomes de  Currer, Ellis e Acton Bell.
Charlotte Brontë, pintura não identificada (net)

Dizem elas: “contrárias à publicidade pessoal decidimos esconder os nossos verdadeiros nomes. Uma escolha ambígua que evita recorrer a nomes claramente masculinos, não querendo declarar que éramos mulheres (...)”
E, ainda: “Pensávamos que as “autoras” são sempre olhadas com preconceitos, sendo as críticas sempre mais agressivas insistindo na “personalidade feminina” quando isso não vem a propósito.”
O sucesso é mitigado... Apesar de terem vendido apenas dois exemplares, continuam a escrever para publicar e iniciam a escrita dos primeiros romances.  Apesar de terem vendido apenas dois exemplares, continuam a escrever para publicar e iniciam a escrita dos primeiros romances.
Charlotte é a figura que mais se distingue, hoje mais conhecida, até porque viveu mais anos.
Mas sabe-se lá o que teria sido, como escritora madura, a Emily do “Monte dos Vendavais”? Quem sabe o que haveria ainda de tumultuoso e profundo dentro dela, para contar?
Anne Brontë, desenho

Capa da edição inglesa de "O Monte dos Vendavais"

Em 1847, sai o romance de Emily Brontë, “The Wuthering Heights (O Monte dos Vendavais ou o Monte dos Ventos  Uivantes, em português).




Em 1847 sai "Jane Eyre", com certeza o livro mais famoso de Charlotte.

Fala do difícil momento da passagem da infância à adolescência, depois  à maturidade, falando nas emoções mais tocantes e dolorosas, nos pequenos nadas que fazem sofrer, nessa passagem para a idade adulta.


A par da análise psicológica, revela uma crítica social a, e apoia-se num enorme sentido da moral, do chamado "imperativo ético".


Há quem se refira a este  romance falando de Byronismo e de Romance Gótico (*), por uma certa duplicidade de alguns "caracteres". 

A primeira edição americana (editor Harper & Brothers, de New York) saiu no ano seguinte.



Em Portugal, devemos lembrar que a mais antiga tradução é a de João Gaspar Simões, para a Editora Inquérito, Lisboa, 1941, intitulada “A Paixão de Jane Eyre”, edição pela qual li o livro pela primeira vez!


Surge, em 1965, a tradução de Leyguarda Ferreira na saudosa e utilíssima Edição Romano Torres.
Em 2004, na Colecção Inesquecível, é aproveitada a tradução de Gaspar Simões (Difel, 2004)

Em 1848, é publicado o 1º romance de Anne Brontë,  "The tenant of Wildfell Hall" ( A Inquilina de Wildfell Hall). 


O romance  "Agnès Grey" sairá já depois da sua morte.


Emily morre em Dezembro de 1848, com 30 anos de idade, e um ano depois morre Anne, com 29 anos. Ambas tuberculosas.


Charlotte vai morrer em 1855, igualmente tuberculosa. Triste destino o das três irmãs!
capa do DVD do inesquecível filme, com Orson Welles e Joan Fontaine!

(*) Em literatura, o termo Gothic Double (Gothic fiction)  refere-se a uma dualidade na essência de um dado carácter, e na presunção de que essa dualidade procede de uma bipolaridade de “bem” e “mal”.

 (*) "JANE EYRE”

Foi publicado em Londres em 1847 - pelos Editores Smith, Elder & Co. - com o título de “Jane Eyre. An  Autobiography”,  com o nome que já usara  de Currer Bell.
A edição da “Penguin Books” descreve o romance como um “texto de influência feminina” devido à sua profundidade na exploração dos sentimentos de uma personagem feminina”.

8 comentários:

  1. Adorei ler este post.
    Muito obrigado Falcão ;)

    ResponderEliminar
  2. Magnífico post, muito elucidativo.
    Parabéns e beijinhos

    ResponderEliminar
  3. O Monte dos Ventos Uivantes é um dos meus livros preferidos de sempre.
    Quando era criança vi uma série baseada na obra Jane Eyre, mais tarde li o livro e da Anne, li também um romance, que penso se chamava o Professor. Li um artigo no qual se referia que a Charlote terá passado para a Jane Eyre o que passou no colégio com a morte de uma das irmãs (pensava que tinha sido só uma a morrer em criança ou adolescente e não duas e imaginei o que também poderia ter escrito se não tivesse morrido).

    ResponderEliminar
  4. Gostei muito de ler.
    Os retratos que aqui colocou são todos bonitos, mas o desenho da Anne Brontë acho-o particularmente bonito.

    Aprendi.

    Um beijinho

    ResponderEliminar
  5. MJ,
    Muito interessante esta postagem. Só li Jane Eyre.
    Beijinho. :)

    ResponderEliminar
  6. Maravilhosas, as irmãs Brontë.
    Como estás? Um grande beijo

    ResponderEliminar
  7. Continuando a leitura nesta postagem, excelente! Obrigado!

    ResponderEliminar