Capa do álbum de Miles Davis, "Bitches Brew" (1970)
Mati Klarwein foi o autor das capas de alguns long-play de Miles Davis e Santana...
Talvez se lembrem dele. Confesso que, eu, não...
Mas depois de ler um artigo no
Monde (12 de Maio, assinado por Jacques Denis), fiquei bem informada.
Falava-se dele, a propósito da futura publicação (em Setembro
próximo) de um livro bem interessante com certeza: “Mati & the Music: 52 record covers”.
Mati Klarwein nasceu em Hamburgo, em 9 de Abril de 1932, e
morreu nas Ilhas Baleares, em Déia, em 7 de Março de 2002.
A sua "arte" foi
divulgada sobretudo nos anos 70, quando os seus desenhos e pinturas ornavam
as capas dos long-plays dos grandes ícones do jazz e do rock: de Jimmie Hendrix
a Santana, passando por Miles Davis.
De si próprio dizia, com humor, que era “o mais célebre dos
pintores desconhecidos”.
Matti é filho de um pai, judeu, arquitecto da Escola Bauhaus
que se refugia com a família, durante a Guerra, na Palestina, região sob o Mandato Britânico
desde 1922. Ali, Mati vai viver a
infância e juventude.
"Académie Julian", pintura de Marie Bashkirtseff
No final da Guerra, vai para Paris estudar na Académie
Julian, famosa Academia de pintura.
“Frequenta o atelier de Fernand Léger e torna-se discípulo
íntimo de Dali. Integra-se no grupo Futurista. Mas no estilo de pintura aproxima-se
masi do pintor vienense Ernst Fuchs, usando a pintura a “têmpera”, amada pelos Flamengos”.
Fernand Léger, "Mulher de Azul"
Salvador dali, "O Enigma da Rosa"
Vive o Paris que "swinga". Pinta. Diverte-se com os amigos. Com Boris Vian corre a noite desse Paris e das boîtes nocturnas de Saint-Germain des Près.
Mati Klarwein, "Cruxifixão"
Mati Klarwein, "Primeiro encontro", 1989
Depois, é Nova Iorque, onde se fixa. Por lá, pinta e deambula
nas noites do Village, acabando sempre no Night- club “Max” de Kansas City,
onde convive com o jet-set dos post-beatniks."
Em vez de ser conhecido pela pintura, entra no mundo da
música, de jazz e rock, onde “descobrem” a sua Arte.
Diz Jacques Denis: “o que esta pintura sugere é eminentemente simbólico:
vêem-se dois dedos, um negro e outro branco, que se enlaçam –isto, no momento
da luta pelos direitos cívicos- e dois rostos para definir uma só face da
América.”
Isto passa-se em Abril. Em Setembro, aparece de novo na
actualidade “musical”: Carlos Santana usa uma das suas obras, “A Anunciação”
(de 1961) para ilustrar a capa do seu disco “Abraxas” – disco que o vai tornar
famoso. É uma Virgem negra a figura central escolhida.
capa do disco de Santana, "Abraxas"
Aproxima-se do mundo dos hippies e as suas obras “pintam os
paraísos artificiais ou os deliciosos infernos e as suas obras apontam para os
delírios oníricos de um Jeronimus Bosch.
capa do disco dos "Chambers Brothers" (1963-65)
Multidão de rostos em que se misturam Sócrates e Dali, Sartre e Marilyn, euras tântricas, cenas de teatro, toureiros e um clarinetista no meio.
É o toque surrealista que lhe ficou dos anos de Paris.
Era “l’air du temps”, como assinala Denis no seu artigo. Era a
revolução da geração dos hippies.
É, aliás, a pedido de Douglas que faz um retrato do guitarrista,
para ilustrar um álbum que devia registar com o pianista Gil Evans e que não
chega a sair porque Jimmie vai morrer nesse Verão. A capa figurará depois, num
disco póstumo.
Retrato de Jimi Hendrix
"Foi considerado o pintor psicadélico por excelência", diz
Alain Douglas. É em parte verdade, mas a sua pintura não se pode reduzir a
isso.”
Mati sentiu-se sempre um outsider, considerava-se um judeu
errante, um “new born pedestrian” como ele se definia, um “peregrino libertário”
- ele que conheceu e girou pelo mundo todo.
Em 1980, decide descansar da vida tumultuosa (“deixando Nova
Iorque aos seus yuppies!”) e vai viver nas Baleares, em Déia.
Mati Klarwein, "Soundlandscape"
Nesse sossego, receberá a visita de outros artistas - de Annie Lennox (dos “Eurythmics”), a
Donnovan, Sting e outros seus admiradores.
Mati Klarwein, fotografia de 1996
O livro que vai sair é escrito pelo seu velho amigo Serge
Bramly, romancista e amigo dos velhos tempos de Paris (RM Editorial, 184 pág.
38 euros, para os que estiverem interessados).
Frases de Klarwein :
"Wet Curve", 1981
"What you see it’s what you get." O que vês é o que tens (tradução livre? Certa?)...
Isso ninguém nos pode tirar, acrescento eu... O nosso olhar, a realidade vista pelos nossos olhos!
Curiosidades: o termo “psicadélico”
vem do grego “psiche” (mente, alma) e “delos” (manifesto): será, pois, “uma
manifestação da alma”...
O manifesto da alma - há por ventura algo mais sublime do que o grito silencioso dessas imagens?
ResponderEliminarbjs nossos,
espero teus versos e os de Mamê...http://cozinhadosvurdons.blogspot.com.br/2012/05/cozinha-convida-combata-o-crime-de-odio.html?showComment=1337046684502#c5544136190568625385
Gostei muito de ler este post e ver estas espectaculares imagens, às vezes parece mentira como ainda há gente capaz de ser tão original e genial. Só mudando completamente se pode superar o que já existe, não achas?
ResponderEliminarBeijinhos grandes
Ó Maria, eu acho que nem sempre chega mudar completamente, tem que haver -e tu sabes bem!- originalidade e verdade. Penso que só és genial se assim for...
EliminarBeijos
São complexas as pinturas.
ResponderEliminarGostei muito do "Anjo Negro" e também da de Fernand Léger, "Mulher Azul".
Há tanta coisa para descobrir.
Obrigada pelos seus post.
Um beijinho
Adorei a "Mulher Azul" do Leger!
ResponderEliminarSempre de olhos bem abertos, claro, tens toda a razão e tu és um exemplo disso...