segunda-feira, 14 de maio de 2012

O pintor Mati Klarwein, no trilho dos anos 70, com os ícones do jazz e do rock dos anos 70...


Capa do álbum de Miles Davis, "Bitches Brew" (1970)

Mati Klarwein  foi o autor das capas de alguns long-play de Miles Davis e Santana... 

Talvez se lembrem dele. Confesso que, eu, não...  

Mas depois de ler um artigo no Monde (12 de Maio, assinado por Jacques Denis), fiquei bem informada.

Falava-se dele, a propósito da futura publicação (em Setembro próximo) de um livro bem interessante com certeza: “Mati  & the Music: 52 record covers”.

Mati Klarwein nasceu em Hamburgo, em 9 de Abril de 1932, e morreu nas Ilhas Baleares, em Déia, em 7 de Março de 2002.

A sua "arte" foi divulgada sobretudo nos anos 70, quando os seus desenhos e pinturas ornavam as capas dos long-plays dos grandes ícones do jazz e do rock: de Jimmie Hendrix a Santana, passando por Miles Davis.

De si próprio dizia, com humor, que era “o mais célebre dos pintores desconhecidos”.
Matti é filho de um pai, judeu, arquitecto da Escola Bauhaus que se refugia com a família, durante a Guerra, na Palestina, região sob o Mandato Britânico desde 1922. Ali, Mati vai viver  a infância e juventude. 

"Académie Julian", pintura de Marie Bashkirtseff

No final da Guerra, vai para Paris estudar na Académie Julian, famosa Academia de pintura.

“Frequenta o atelier de Fernand Léger e torna-se discípulo íntimo de Dali. Integra-se no grupo Futurista. Mas no estilo de pintura aproxima-se masi do pintor vienense Ernst Fuchs, usando a pintura a “têmpera”, amada pelos Flamengos”.

Fernand Léger, "Mulher de Azul"
Salvador dali, "O Enigma da Rosa"

Vive o Paris que "swinga". Pinta. Diverte-se com os amigos. Com Boris Vian corre a noite desse Paris e das boîtes nocturnas de Saint-Germain des Près.

Mati Klarwein, "Cruxifixão"

Mati Klarwein, "Primeiro encontro", 1989

Debaixo das cores caleidoscópicas, das personagens mitológicas e paisagens estratosféricas, o pintor apoia-se numa sólida cultura clássica. O que lhe permite todos os delírios alucinados, “sem drogas, como ele dizia, não  preciso de drogas para isto!”

Depois, é Nova Iorque, onde se fixa. Por lá, pinta e deambula nas noites do Village, acabando sempre no Night- club “Max” de Kansas City, onde convive com o jet-set dos post-beatniks."

Em vez de ser conhecido pela pintura, entra no mundo da música, de jazz e rock, onde “descobrem” a sua Arte.


De facto, em 1970, surge a “revelação”: Matti realiza a pintura que vai figurar na capa do “Bitches Brew”, (disco duplo que o trompetista lança nesse ano), e entra na legenda ao lado das superstars musicais.


Diz Jacques Denis: “o que esta  pintura sugere é eminentemente simbólico: vêem-se dois dedos, um negro e outro branco, que se enlaçam –isto, no momento da luta pelos direitos cívicos- e dois rostos para definir uma só face da América.

Isto passa-se em Abril. Em Setembro, aparece de novo na actualidade “musical”: Carlos Santana usa uma das suas obras, “A Anunciação” (de 1961) para ilustrar a capa do seu disco “Abraxas” – disco que o vai tornar famoso. É uma Virgem negra a figura central escolhida.
capa do disco de Santana, "Abraxas"


Aproxima-se do mundo dos hippies e as suas obras “pintam os paraísos artificiais ou os deliciosos infernos e as suas obras apontam para os delírios oníricos  de um Jeronimus Bosch.
capa do disco dos "Chambers Brothers" (1963-65)

No “Grain of Sand", usa um quadro em forma de mandala,  utilizado em parte noutra  capa do grupo dos "Chambers Brothers", o olhar descobre uma multidão colorida”.

Multidão de rostos em que se misturam Sócrates e Dali, Sartre e Marilyn, euras tântricas, cenas de teatro, toureiros e um clarinetista no meio.

É o toque surrealista que lhe ficou dos anos de Paris.

Era “l’air du temps”, como assinala Denis no seu artigo. Era a revolução da geração dos hippies.

Ele fazia parte do grupo”, diz Alain Douglas que trabalhou com Jimi Hendrix. 

É, aliás, a pedido de Douglas que faz um retrato do guitarrista, para ilustrar um álbum que devia registar com o pianista Gil Evans e que não chega a sair porque Jimmie vai morrer nesse Verão. A capa figurará depois, num disco póstumo.

Retrato de Jimi Hendrix

Ilustra, igualmente, uma recolha de textos de Malcolm X, o defensor dos direitos dos Negros, na América desses anos (By any Means Necessary).


capa do álbum dos Earth, Wind & Fire, "The last day of sand"

"Foi considerado o pintor psicadélico por excelência", diz Alain Douglas. É em parte verdade, mas a sua pintura não se pode reduzir a isso.”

Mati sentiu-se sempre um outsider, considerava-se um judeu errante, um “new born pedestrian” como ele se definia, um “peregrino libertário” - ele que conheceu e girou pelo mundo todo.
"Moisés e Aaron", 1981
"Anjo Negro", 1981

Em 1980, decide descansar da vida tumultuosa (“deixando Nova Iorque aos seus yuppies!”) e vai viver nas Baleares, em Déia.
Mati Klarwein, "Soundlandscape"


Nesse sossego, receberá a visita de outros artistas - de Annie Lennox (dos “Eurythmics”), a Donnovan, Sting e outros seus admiradores.
Mati Klarwein, fotografia de 1996

O livro que vai sair é escrito pelo seu velho amigo Serge Bramly, romancista e amigo dos velhos tempos de Paris (RM Editorial, 184 pág. 38 euros, para os que estiverem interessados). 




Frases de Klarwein :

"Wet Curve", 1981

A distância mais curta entre o teu coração e o meu é uma curva molhada”, (no livro “A Thousand Windows” (Max Publishing, Deiá de Mallorca, 1995)


"What you see it’s what you get." O que vês é o que tens (tradução livre? Certa?)...


Isso ninguém nos pode tirar, acrescento eu... O nosso olhar, a realidade vista pelos nossos olhos! 

Curiosidades: o termo  “psicadélico” vem do grego “psiche” (mente, alma) e “delos” (manifesto): será, pois, “uma manifestação da alma”...



5 comentários:

  1. O manifesto da alma - há por ventura algo mais sublime do que o grito silencioso dessas imagens?

    bjs nossos,

    espero teus versos e os de Mamê...http://cozinhadosvurdons.blogspot.com.br/2012/05/cozinha-convida-combata-o-crime-de-odio.html?showComment=1337046684502#c5544136190568625385

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  2. Gostei muito de ler este post e ver estas espectaculares imagens, às vezes parece mentira como ainda há gente capaz de ser tão original e genial. Só mudando completamente se pode superar o que já existe, não achas?
    Beijinhos grandes

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    1. Ó Maria, eu acho que nem sempre chega mudar completamente, tem que haver -e tu sabes bem!- originalidade e verdade. Penso que só és genial se assim for...
      Beijos

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  3. São complexas as pinturas.
    Gostei muito do "Anjo Negro" e também da de Fernand Léger, "Mulher Azul".
    Há tanta coisa para descobrir.
    Obrigada pelos seus post.
    Um beijinho

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  4. Adorei a "Mulher Azul" do Leger!
    Sempre de olhos bem abertos, claro, tens toda a razão e tu és um exemplo disso...

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