terça-feira, 10 de julho de 2012

Lembrando São Francisco de Assis, o Homem que seguiu Jesus...


Giotto, morte de São Francisco, Basilica de Assis

Tanta coisa se aprende lendo o que disse São Francisco.

Leio uma biografia simples, que uma grande amiga me ofereceu: “Francisco de Assis, um louco por amor”. (1) A amiga a quem dedico este post.


Benozzo Gozzoli
Giotto, a renúncia dos bens


Francisco que tudo larga para seguir uma ideia hoje quase "perdida": o amor - de que falam os Evangelhos!
paisagem da Úmbria

Assis
Pintoricchio, "um rapaz"

Jovem de boa família, habituado a ter tudo, a viver a vida inconsciente em festas, bebendo e divertindo-se com outros jovens da sua cidade, extravagante e indisciplinado,  Francisco (que fora baptizado Giovanni por sua mãe), a dado momento pensa que a sua vida tem de ser diferente.

Perugia

Participa nas batalhas entre as senhorias (a luta entre Guelfos e Gibelinos) de Assis e de Perugia e, com 20 anos, é feito prisioneiro. 
Perugia


Adoece gravemente na prisão e é posto em liberdade, passado um ano. A doença é prolongada e condu-lo a decisões em que nunca pensara, antes.

Escolhe, então, um itinerário que o leva a aproximar-se dos Evangelhos e de Jesus, a sua bondade, a generosidade, o desprendimento dos bens materiais, a exigência que aquela figura simbolizava, e simboliza ainda hoje, mesmo para os que são ateus.

casa dos pais de São Francisco, em Assis

Na Praça de Assis, um dia, despe as roupas e liberta-se do peso das coisas e da sua riqueza. O que antes lhe parecia importante perde de repente valor e o que era amargura, torna-se em doçura e desejo de simplicidade.

O pai choca-se com esta decisão e prende-o em casa. A cidade de Assis choca-se com a sua atitude. 
A mãe liberta-o e ele foge de Assis.
Francisco é considerado louco.

Vai e funda o seu mosteiro e a sua “regra”: os franciscanos vão escolher a pobreza e a dádiva de si, a compreensão e a tolerância, o trabalho e as santas obras. Segue o que diz evangelho de São Mateus:"Vocês receberam gratuitamente, dai sem receber pagamento."

Pietro Lorenzetti, Basílica de Assis

No seu testamento dirá simplesmente: “Eis uma nova Regra: o meu testamento é uma exortação que eu, frei Francisco pequenino, vos faço”. E mais: “Comerás o fruto dos teus trabalhos; és feliz e estarás bem.”

No Cântico ao irmão Sol, dirá, reconhecendo o valor das pequenas e grandes coisas da Natureza:
...
Louvado sejas, meu Deus, com todas as tuas criaturas,
Sobretudo, ó Deus, com o irmão Sol
Que faz o dia e nos ilumina com a sua luz.
Ele é belo e radioso, com grande esplendor,
Espelhado, ó Altíssimo, o teu próprio ser.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e pelas Estrelas:
No céu as formaste luminosas, preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão Vento,
Pelo Ar e pelas Nuvens, pelo Sereno e por todo o tempo,
Através do qual às tuas criaturas dás o sustento.
Boticelli, o Vento e Cloris, pormenor de "Nascimento de Vénus"

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Água,
Tão útil, humilde, preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão Fogo,
Por ele iluminas a noite:
Também ele é belo, alegre, vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã e mãe Terra
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos, com flores coloridas e erva.
....
Boticelli, Zéfiro e Cloris, "Primavera"

Basta este cântico para entendermos o que Francisco de Assis admirava no mundo: as pessoas e os animais.
O Senhor criara as suas criaturas e com elas criara o colorido, a força, o sustento, mas também a humildade, a simplicidade e a diversidade.
É admirável, hoje em tempos de desumanidade, de esquecimento dos outros, e da sua dor, de racismo e alterofobias várias, é bom ouvir estas palavras!

A “irmã e mãe" Terra produz frutos diversos” e as flores com todas as cores, mas também a “erva”, a simples erva dos campos...

O “seu” Senhor criara a luz, mas também a alegria e o calor do Fogo, o sustento do Ar, do Vento, as Nuvens e o Sereno, nada é esquecido...
E a frescura e humildade da “casta” Água.

E com a Lua e as Estrelas criara a beleza: “as formaste luminosas, preciosas e belas.”
E com o Sol – aquém é dirigido o cântico... - “que faz o dia e nos ilumina (...) belo e radioso.”

Francisco estava em paz com o mundo e a "realidade", desde o homem às criaturas mais simples, porque estava em paz consigo.

Em paz, quando aconselha os seus frades a tratar todos com humanidade, desde os ladrões a quem dava comida pedindo-lhes que “não magoassem criatura nenhuma” às abelhas que ele amava porque eram trabalhadoras: “e se as deixarem em paz, elas também não picarão ninguém...”

Quando pacifica o lobo que assolava as serras de Gubbio, falando-lhe com ternura e chamando-o:
“Anda cá, Irmão Lobo...” 
São Francisco e o Lobo, Catedral de Gubbio

“Tu não farás mais mal e eu prometo que não terás fome, porque eu sei muito bem que foi ela que te levou a  fazer tanto mal...”

Quem voltou a perceber assim o sofrimento, a fome e o mal dos homens e das criaturas?

Pensava ele- os animais “percebem bem quando o homem se aproxima deles com (bons) sentimentos e, então, deixam de estar na defensiva”.

É frei Leão que conta muitas destas coisas. Outras foram contadas nas “Lendas” sobre a vida de São Francisco. 
Ou pelo seu primeiro biógrafo, Tommaso di Celena.

Frei Leão que tanto o amou! E conta como Francisco lhe fez compreender que a sua amizade era obsessiva, e  que só era mau para os dois:

Ele não barrou o meu caminho, nem o percorreu em meu lugar; pelo contrário, conduziu-me pela mão. (...) Se ele tivesse sido mais severo, eu ter-me-ia fechado em mim mesmo. Um sentimento obsessivo é, por si só, um sentimento doentio. E a obsessão é a antecâmara da morte de qualquer sentimento.”

Página a página, descobre-se um homem que diz coisas tão simples e tão essenciais! 
Identificando-se com os problemas dos seus semelhantes e tentando imitar a vida de Cristo, segundo o Evangelho de São Mateus, foi e continuará a ser um exemplo de vida.

Antes consolar que ser consolado
Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado...
Pois é dando que se recebe...”

Disse Dante que São Francisco “foi uma luz que brilhou sobre o mundo”...

(1) Felice Accrocca, edições Paulinas


9 comentários:

  1. Incrível, de facto. O meu Pai tinha grande devoção por São Francisco.
    (Mas é tão difícil ser santo...)

    Beijinhos

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    1. Muito difícil! deixemos esssas coisas para o São Francisco... beijinhos

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  2. A palavra de São Francisco de Assis, tão simples e essencial, ainda consegue ser densa, enriquecedora, cheia de significado no mundo de hoje.
    Beijinhos grandes

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  3. Obrigada ...pelo que escreveste e me deste...Comovi-me e tu sabes porquê. Madade

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  4. Muito bonito todo o post: as palavras, as pinturas e o sentido.
    Um beijinho

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  5. As coisas simples são as mais sublimes... O homem é que gosta de complicar!
    Beijos
    Raul

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  6. Uma maravilha de post e adorei a oração. Sempre tive grande simpatia por São Francisco de Assis.

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  7. Pouco sabia sobre S. Francisco de Assis. Mas com um post destes dá vontade de saber mais. Além de esclarecedor, abre o "apetite" para outras leituras sobre o tema.
    Gostei muito.
    Beijinhos

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