quarta-feira, 10 de abril de 2013

Preocupante...



Ainda há dias lembrei aqui a “Shoah”, o Holocausto. E lembrei uma amiga que sobreviveu aos campos de concentração e se chamava Susie Heffez.

Sentimos no ar “tendências” e ouvimos palavras que assustam e, às vezes, dou por mim preocupada...

Culpa do problema económico, no fundo da questão financeira em que o neo-liberalismo selvagem, nos mergulhou e que tudo transformou  num quase-caos, numa confusão tal que nem mesmo os que pensavam perceber um pouco...não percebem nada.

O problema social, causado pela crise e pela austeridade forçada, aumenta as desigualdades, o desemprego e o desespero das gentes!

E pesa no quotidiano das vidas. Há quem sonhe com soluções drásticas.

Na desorientação, no descontentamento e no medo que é palpável nas pessoas ao ver as televisões, ler os jornais e ouvir as conversas, muitos se encostam - ou são empurrados- para a "esperança" fatalista de soluções de força que podem ser perigosas. 

Vêem-se crescer partidos que se intitulam "nacionalistas" e que não são apenas populistas, e que podem levar ao desenvolvimento rápido de uma extrema-direita perigosa e a “desvios” preocupantes.

Sobe a raiva nos mais fragilizados, acusa-se o imigrante, o estranho - o que não tem culpa- e exaspera-se o sentimento racista e xenófobo. Nós somos um povo que dizem brando para o bem e para o mal. Por cá, o racismo não impera, felizmente, ou, pelo menos, por agora ainda é ténue...

Mas noutros países, voltou a ideia xenófoba e anti-semita - porque o judeu está sempre "na baila"...

E assinalo o que aconteceu em Itália, com o “Partido 5 Estrelas”, um partido sem grande nexo, sem ideologia (partido “qualunquista”, diriam os italianos que já conheceram destes partidos no passado), populista e pseudo-contestatário, que engloba em si todo o descontentamento e a desconfiança nos partidos ditos clássicos.

Li afirmações do líder, o ex-cómico Beppe Grillo (a quem, aliás, nunca achei graça e vi os programas dele quando vivi em Itália),  do género: “Os judeus são como o Átila: por onde passam, os palestinos desaparecem”. Afirmações racistas e perigosas sempre - o que levou a comunidade judaica a protestar. 

(in Nouvel Observateur, 28 Março-3 de Abril)


Beppe Grillo e a frase infeliz...~

E uma professora ameaça uma aluna, dizendo: "Tu, em Auschwitz, devias estar atenta!" vejo no jornal  La Reppublica de hoje (*).

Depois, justificou-se dizendo que estava apenas a referir um lugar onde havia ordem, organização...


Na França, há muito que o Front National de Marine Le Pen (herdado do pai, Jean-Marie Le Pen) levantou a cabeça.

Na Alemanha, é o jovem realizador David Wnendt (nasceu em 1977 e estuda cinema em Berlim e Praga) que alerta para o problema do neo-nazismo, no seu filme “Guerreira”, saído em fins de Março, em França.


"Vidas medíocres, desemprego, vazio ideológico, bebedeiras pontuadas com "Heil Hitler!", misoginia e actos de barbaridades eis o quotidiano destes degenerados". Meios onde grassa o ódio ao estrangeiro. São os "gangues da suástica" e a velha "renovada" ideologia fascista- leio no Nouvel Observateur  (semana de 21-27 de Março). 

François Forestier, o articulista,  denuncia "um filme choque : os "novos nazis" e termina o artigo dizendo:

"Guerreira é um aviso, uma demonstração, um sinal. O filme tem um estilo directo e constata sem hesitações: é preciso eliminar esses crápulas."


Na Áustria, a imagem de Hitler aparece “normalizada” na publicidade, até nas garrafas de vinho, nas canecas para os turistas, etc,  e muitos (demasiados!) hoje consideram que ele “não foi assim tão mau”. (N.O. 21-27 Março).
Tornou-se banal Hitler e o mal?


Relentos de nazismo? Garrafas de vinho e Hitler



Na Grécia, com a crise galopante e o descrédito dos político e a ideia de que “já não temos nada a perder”, podem acontecer coisas perigosas, talvez irreversíveis. 

Para já, houve a subida do partido neo-nazi “Alba Dourada”, um partido que pensa no próprio futuro e “prepara a regeneração do espírito grego”, como diz a propaganda. 


E organizando manifestações junto de figuras "fortes" dos heróis da história da Grécia, como diante da estátua de Leónidas, nas Termópilas...


Leónidas, o herói- guerreiro de Esparta


elementos de "Alba dourada", frente à estátua de Leónidas

Criaram, de facto, cursos daquilo a que chamam o “despertar nacional”, dedicados a crianças de 6-10 anos, instrução ministrada por membros do partido que vão, igualmente, recrutar miúdos mais velhos, nos liceus.


manifestação de "Alba dourada"

 E apareceram grupos musicais de "culto" nazi, como por exemplo, o grupo rock-punk chamado “Pogrom” (* *) que canta uma a canção-farol “Auschwitz”, apelando para uma nova Auschwitz...

Deixo a letra que é bem explícita e que encontrei no Nouvel Observateur de 28/03-03/04 (p. 29).

"Fuck Wiesenthal
Fuck Anne Frank!
Fuck a tribo de Abraão!
Ó, Auschwitz, como eu te amo!”


Simon Wiesenthal


Anne Frank

Imagino o ar atónito da minha amiga Susie, adolescente de 12 anos, em Auschwitz, e a pergunta que, no seu espanto e dor, quase não conseguia articular  e lhe queima a alma sensível :

"Por que nos odeiam? Que mal fizemos nós”?



(*) http://www.repubblica.it/cronaca/2013/04/05/news/professoressa_antisemita-55970015/?ref=DRL-6 

(* *) Significado de "pogrom" (do russo): movimento organizado visando o extermínio de certas colectividades, em especial de judeus.

(* * *) Simon Wiesenthal (1908-2005) -judeu austríaco (do antigo Império Austro-Húngaro) sobrevivente dos campos de Janowska e Mauthausen que decidiu, no fim da guerra, procurar os criminosos nazis, impunes. Conhecido como "o caçador de nazis"...



campo de Mauthausen

(* * * *) http://www.filmdeculte.com/cinema/film/Guerriere-4615.html


5 comentários:

  1. É preocupante e assustador o caminho que as coisas podem levar quando as pessoas andam descontentes.
    Muito preocupante!

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    1. Temos que continuar a esperar! Não nos podem roubar tudo... beijinhos

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  2. Faço minhas as palavras da Isabel.

    É muito preocupante e assustador!!

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  3. Os totalitaristas sempre estiveram aí, dispostos a aproveitar as debilidades da democracia. Não podemos deixar-nos levar pelo catastrofismo, porque há muito mais que perder do que já perdemos: a liberdade, a dignidade, a paz, a vida! Temos que sair desta todos juntos e ser capazes de construir uma sociedade mais sã e transparente. Afinal os anos de progresso tinham pés de barro, era uma mentira e uma estafa que está a sair à luz graças a que as instituições ainda servem para alguma coisa. Vai custar muito arranjar isto, mas não podemos consentir que venham os de sempre a acabar de estragar tudo. Se no passado acabaram por perder, não vai ser no século XXI que vão ganhar a batalha à democracia, que está muito mais arreigada.
    Liberté, Egalité, Fraternité!!
    E um grande beijo,( é um bom post, apesar dos pesares).

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    1. Conquistas sem preço: liberdade, dignidade e paz que temos de defender hoje, tens razão. Com unhas e dentes!
      Liberté, Egalité, Fraternité...sempre!
      beijo!

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