terça-feira, 15 de abril de 2014

Os adolescentes e a escola



Todas as coisas da adolescência giram à volta - entre outras muitas, claro- da escola. Por isso, pensar no problema é sempre útil, por vezes mesmo urgente.
cena de "Divergente"

Como professora que fui, trago atrás de mim a necessidade de me interrogar e de ver como os outros se interrogam sobre a educação e sobre os alunos.

A escola era melhor antes do 25 de Abril, ouvi para aí alguém dizer, hipocritamente. É, apenas, querer ignorar a causa da “dificuldade” da escola de hoje. É hipocrisia fingir que essa escola antiga era boa. 

Boa - para quê, antes do mais? Para aprender de memória uma data de informações muitas vezes incompletas? O que ficámos nós a saber da história verdadeira, se não foram as batalhas, os cognomes dos Reis e quando foram as cruzadas para dilatar a Fé? Tudo “empinado”, sem relacionamento no tempo ou no espaço, sem sermos estimulados a mais do que isso?
 Com excepções, como é evidente!

A verdade é que ser professor nos nossos dias da velocidade informativa, do "tecnológico", implica "ensinar" muito mais: ter um saber mais “enciclopédico”? não sei, mas um saber relacionado com o momento em que vivemos isso sim. 

Há muito mau professor - e sempre houve. Há muito bom professor - e sempre houve. Partindo daí, pela minha experiência vejo que muito se tenta fazer. Os professores são “agentes” de tudo: de comunicação, de educação quase lhes exigindo que sejam “actores”. 

Nunca me esqueci de um novo programa que apareceu para a disciplina de Português e a coordenadora dizer, perante as nossas dúvidas: “Ora, vão e improvisem!”

Os alunos são (deveriam ser) levados a pensar sozinhos, a tirar ilacções, a escrever com correcção, a ler, a entender o que lêem porque só isso (o entendimento do que se leu) é que é ler! Levados a diferenciar os modos de escrita e da fala, as diferentes funções -  e isso eu sei que se tem feito nas  nossas escolas. 

O problema fulcral é (não) tirarem ao professor o tempo necessário e fundamental para se informar, preparar, ter conhecimentos pedagógicos sérios (e didácticos, claro), em vez de lhes encherem os dias com reuniões, fichas para tudo, relatórios e presença física na escola, para fingir que estão.

Sim, trata-se de improvisar muitas vezes - e cada um o faz como pode, porque depende das turmas que se têm, da idade dos alunos, do tipo de aprendizagem, etc.
Fico por aqui, neste campo.

Vinha falar dum artigo que li sobre a adolescência, a escola e a competição! O artigo é de Fabrice Plishkin (Nouvel Observateur, 11 de Abril) e vem a propósito de dois filmes recentemente saídos em França (e, provavelmente, cá).

Trata-se de “Divergente”, do americano Neil Burger, e “Suneung” (tradução à letra: teste de aptidão aos estudos), da sul-coreana Shin Su-won (uma jovem, nascida em 1967, ex-professora).

 Shin Su-won

No primeiro, o realizador descreve uma sociedade de ficção científica (e  metafórica?), numa escola numa Chicago dividida em castas: os Eruditos, os Sinceros, os Fraternos, os Audaciosos e os Altruístas.
Isto passa-se no futuro dentro de 100 anos!

Neil Burger

Ali se propõem uma série de “testes de aptidão” que estes alunos devem fazer para poderem participar. Uma espécie de “concurso” para escolher a vida? Um exame de “aptidão” à vida?

A verdade é que os alunos que chumbam nos testes tremendamente difíceis, alguns mesmo violentos, mortíferos e irrealizáveis - são afastados da Humanidade.
São Divergentes. Divergentes, sem futuro, inadaptados para todo o sempre.

O filme coreano "Suneung" fala de outra realidade comum, mesmo por cá - sem chegarmos a tanto, felizmente: os exageros da sociedade coreana, uma das mais rigorosas no campo da educação, num sistema educativo de histeria: o excesso de competição entre os alunos, o egoísmo desenvolvido para “ser melhor do que o outro”, ficar à frente, “liderar”, ter melhores notas, vencer, entrar para a Universidade sem pensar em mais nada! 

O Suneung é o teste de entrada na Universidade, chamado "Teste Escolar de Habilidades" que se realiza todo os anos na segunda quinta-feira de Novembro! De extremo rigor e organização (exige polícia especial para o trânsito!) é um momento traumático para muitos jovens estudantes.

De facto, a Coreia do Sul regista o maior número de suicídios de adolescentes  no mundo.

https://storify.com/kim9171/suneung-life-or-death-exam-for-korean-students

Diz Plishkin: “Na hora em que as nações e as empresas só falam na palavra sagrada competição, (ser competitivo o que é afinal? “matar o outro”?), os dois filmes auscultam uma juventude monstruosa, desumanizada pelos imperativos da concorrência.”

E eu penso apenas: hoje, nesta sociedade “selvagem” de capitalismo financeiro desmedido (em que nos meteram), onde os licenciados vão logo para o desemprego, sem esperança de algum dia exercerem a profissão que escolheram, vamos olhar para o que é positivo!


E mais: num tempo em que não há emprego para ninguém, ao menos que os nossos adolescentes e jovens escolham o curso, ou a profissão manual, técnica, que lhes apetecer, que seja mesmo uma “vocação”, um desejo sincero, sem pensar no “emprego” que há ou não há. 

Já não há os cursos “com mais saídas”, os tais que seriam mais bem pagos no futuro… Então, talvez seja bom voltar às humanidades que tanta falta fazem. 

5 comentários:

  1. Tantas verdades diz!
    É preciso que as mentalidades mudem...

    Gostava de ter oportunidade de ver esses filmes de que fala.

    Um beijinho grande :)

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  2. O mundo está numa enorme encruzilhada, em que ninguém se pode alhear do que está a acontecer.
    Como professor, subscrevo por inteiro a sua opinião.
    Tenha uma boa semana.

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  3. Angustiante o que nos diz. E tão verdade!

    Beijinhos

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  4. Assino por baixo... Completamente de acordo com tudo o que disseste,prima... Beijo grande

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  5. Já tinha lido mas só hoje é que deixo cá o meu agradecimento por estes pensamentos com os quais concordo.
    Ontem não consegui dizer nada.
    Beijinho.:))

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