“A juventude de todos nós é um sonho, uma forma de folia química”, escrevia Fitzgerald, eterno jovem, criança que morreu mas nunca chegou a velho.
Morreu à procura do sonho, afogando-se em álcool talvez para não esquecer o sonho. O sonho, essa 'loucura química' como lhe chamava, acontece mas dura pouco se não estivermos atentos a mantê-lo vivo.
A não deixarmos que os outros destruam o nosso sonho. Esse sonho se o esquecemos - para poder viver com os outros - é irrecuperável. Desilusões, desistências, desespero depressa matam o sonho. E crescemos inexoravelmente. Um dia chegará um inverno para nós.
Poderemos alguma vez
voltar para trás? Ou o nosso momento cósmico de "sombras que passam" não se repete?
Depende
de cada um? Depende do que conservarmos do Sonho, da tal loucura química que não
se pode deixar adulterar com a passagem do tempo? E os outros o que fazem nisto tudo? Por que estão tão longe, pensava. Ele queria-os no seu Sonho.
Nós quem somos? ponho-me a pensar e sinto medo de nunca ter sido completamente entendida pelos
outros.
Saberemos
nós alguma vez quem somos, essencialmente? Eu sou eu, afirmo, eu sei quem sou para mim,
na essência.
E
logo hesito: Ou
sou o que os outros pensam que eu sou?
Há
uma barreira sem limites entre estas duas realidades. Creio que só se pode manter
o sonho, o tal momento de folia química, se nunca se esquecer que “eu
sou eu, tal como sou – ou julgo ser.
Francis
Scott Fitzgerald morreu com 41 anos. Nasceu em 24 de Setembro de 1896, em Saint Paul, Minnesota e morreu em Hollywood
em 21 de Dezembro de 1940.
Tivera um sucesso enorme com os primeiros
livros. Foi adolescente na sua loucura até ao fim, guardando um pedacinho do sonho despedaçado entre riquezas perdidas, diamantes oferecidos, champagne a rodos. Porque não era capaz de guardar nada nas mãos - dava tudo, todos eram seus convidados da vida.
Começou a sua carreira literária muito cedo ao publicar o romance que fala dos anos loucos intitulado “This side of
Paradise” (“Este lado do Paraíso”) que escreve em 1920 - tinha 24 anos.
Poeta,
romancista, guionista, contista extraordinário, é considerado um dos grandes
escritores americanos dos primeiros anos do século XX -dos anos 20 - que
reflectiam um estado de espírito de liberdade e da tal “folia química” de que fala - que eram os da época do
Jazz.
Fazia parte da chamada “geração perdida”. Dela faziam parte com ele Ernest
Hemingway, Sherwood Anderson (considerado um dos maiores escritores da sua época), John Dos Passos, T. S. Elliot e Ezra Pound cujo destino foi trágico.
Scott fica
milionário com o sucesso do livro "This side of paradise". Quisera ser muito e era; quisera ter tudo e quase tivera: chegou às nuvens
mais altas com as suas asas de diamante, feitas de loucura e de sonho.
Depois do sucesso do primeiro livro decide ir viver em Paris, onde já era conhecido por viagens que fizera quando ficou rico!.
Encontra Zelda, uma bela jovem e casam. Têm uma filhinha, Scottie, que adora o pai e que mais tarde escreverá sobre ele. O fim de Zelda vai ser triste e o dele também.
Os diamantes que foram seus ("Um diamante do tamanho do Ritz" é um dos seus contos melhores - e dos mais famosos) estavam na riqueza das histórias que soube contar como nenhum outro, na sua humanidade, nas conquistas enormes e nas perdas enormes também.
Escreve "The Great Gatsby" em 1925. Nesse romance que retrata a alta sociedade nova-iorquina rica do anos 20, Jay Gatsby, a personagem principal, apercebe-se da corrupção que o rodeia.
As festas
dispendiosas, o encanto dos bailes ao som do Jazz, num universo irreal e brilhante
.
O
“sonho americano”? A verdade é que descreve a alta sociedade - da qual começara
a fazer parte - com uma visão crítica áspera, anotando os defeitos, a
fatuidade, a superficialidade.
Silvia apresentou-o ao escritores franceses e àqueles que estavam de passagem, como James Joyce - por quem Scott Fitzgerald tinha grande admiração.
Encontra Ernest Hemingway que não se porta lá muito bem com ele como se pode ver em "Paris est une fête", de Hemingway.
Continuava jovem dentro. Lutou, quis voltar atrás - a esse “eu” essencial. Começa então a escrever o que seria o último romance, uma obra-prima segundo dizem hoje, mas que será publicado em 1941 depois da sua morte.
Hemingway e Scott Fitzgerald
Em
1934, em Paris ainda, publica “Tender is the night” (Terna é a noite). Um
romance triste, nostálgico que o autor gostava de dizer que era o seu
preferido e que considerava a sua “melhor obra”.
Sente porém que tudo desabara no seu mundo. Talvez quando a bebida passou a ser a companheira da vida.
Há uma história extraordinária, "A década perdida". Fala de alguém que durante dez anos vive bêbedo, alheio a tudo. Um dia para de beber e percebe que estivera "ausente" de tudo. Resolve apanhar um táxi e pede ao chauffeur que o leve pela sua cidade a ver o que mudara. Quase tudo mudara e ele não se lembrava de como tinha sido.
Talvez um dia tivesse perdido nalgum bar a "química" do seu Sonho, porque aceitara viver a vida que os outros lhe impunham viver. Deixou-se levar por eles, parecia tão simples. Parou a inspiração do sonho. Perdeu-se na multidão dos que o arrastavam e bajulavam.
Volta
para Hollywood muito doente. Diziam ser tuberculose mas segundo muitos Scott transformara-se num alcoólico e encontrava-se debilitado física e
moralmente.Continuava jovem dentro. Lutou, quis voltar atrás - a esse “eu” essencial. Começa então a escrever o que seria o último romance, uma obra-prima segundo dizem hoje, mas que será publicado em 1941 depois da sua morte.
“The love of the last Tycoon” é o título em
inglês; na tradução portuguesa é "O grande magnate"- na editora Relógio d' Água.
Uma manhã levantou-se, preparava-se para ir escrever - deu de repente uma volta sobre si mesmo e caiu
morto no chão. O coração tinha parado. Não aguentava mais.
Penso que li O Retrato do Artista Quando Jovem...
ResponderEliminarA história do seu alcoolismo é impressionante, sem querer julgar, a verdade é que saiu de uma «folia química», para entrar entrar noutra... Porém, a segunda nada saudável...
Gostei de ler e saber, o que agradeço.
Beijinho, MJ
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Obrigada pelos comentários. Tenho andada um pouco arredada do blog. Devem ser estes tempos de nova "peste"...Até vou voltar a ler La Peste de Camus, livro que me impressionou muito.
EliminarBoas férias amigas!
Gostei de ficar a saber mais sobre o escritor. Tenho presente o Great Gatsby, gostei muito do livro apesar de ser triste
ResponderEliminarum beijinho