- Achas que as pessoas famosas podem ser infelizes?, perguntou.
O ouricinho estava encostado a ele, a ouvir, como sempre.
O ouricinho estava encostado a ele, a ouvir, como sempre.
- Era tão bonita,disse, numa voz suave.
- Quem?
A princípio não estava certa a quem o ratinho se referia.
- Frágil?, perguntou, surpreendido. Ela?
- Penso que sim. As pessoas famosas podem ser frágeis, sofrer como as outras...
- Por quê?
- Talvez porque estão mais expostas...
- Olha o Truman Capote...
- O quê?!, espantei-me.
- O escritor. Tu conheces.
- Eu sei. E o que foi que ele fez?
Perguntei só pela curiosidade de o ouvir responder.
Perguntei só pela curiosidade de o ouvir responder.
- Foi infeliz. Era frágil também...
- Ah!
Reflectiu e acrescentou:
- Sim, tens razão, podem estar mais expostos...
- Claro que sim, disse o ouricinho Danny. É a fama, a popularidade, não é?
Virava-se para mim, para eu confirmar. O ratinho voltara a olhar para a caixa. Parecia fascinado com aquela imagem.
- Sim. É o olhar dos outros, impúdico. A câmara que filma, a máquina fotográfica que entra pela vida deles dentro...
- Pode ser...Achas?
- Esse olhar, esse espiolhar da vida não os deixa respirar à vontade.
- Mas ela também sofreu com isso? Parecia tão forte, tão alegre. Tão cheia de vida!
O ouricinho interrompeu-o:
O ouricinho interrompeu-o:
Gostava de os ouvir falar.
- Que pena... E tinha uma voz tão bonita!
O ratinho estava agora sentado na tampa, para ver com mais atenção.
- Matou-se, não foi?, acrescentou o ouricinho, inseguro.
E encostou-se mais a ele.
E encostou-se mais a ele.
- Oh! –disse o ratinho Poeta- esse é um mistério ainda a desvendar! Não se sabe tudo...
E continuou, com ar preocupado:
-Pode-se ter suicidado... Pode ter sido assassinada...
Tinham razão os dois. Mas onde teriam ido descobrir tantas coisas? Surpreendiam-me e enterneciam-me aqueles dois!
- Como é que sabem?, perguntei, a rir-me.
- Li umas coisas na internet... Ouvi também na televisão...
Eu tinha calculado. Agora tinham a mania da internet e estavam sempre a discutir por causa de um computador micro com malinha que o ouricinho tinha arranjado...
- Tenho pena dela, sabes?, repetiu o Ratinho.
Eu tinha calculado. Agora tinham a mania da internet e estavam sempre a discutir por causa de um computador micro com malinha que o ouricinho tinha arranjado...
- Tenho pena dela, sabes?, repetiu o Ratinho.
- Eu cá também, disse o ouricinho, compungido.
- Bela e famosa... Julgamos que isso chega para dar a felicidade, não é?
E o Ratinho tinha o ar de um filósofo que muito pensara já no assunto.
- Claro, ratinho, acrescentei, não chega...
Franziu os bigodes, sério:
Franziu os bigodes, sério:
- Pois é... Eu sei. E a solidão?
- É verdade! E a solidão?, perguntou o ouricinho. Eu sei o que isso é! vivi sozinho...
- Nós sabemos! Mas agora não estás sozinho!, disse eu. Tens amigos.
- Nós sabemos! Mas agora não estás sozinho!, disse eu. Tens amigos.
O ratinho ainda acrescentou, deixando-me espantada:
- Quando se está sozinho, para que servem as outras coisas?...
Como é que ele pensava assim?
- Mas os amigos sim, esses contam!, terminou o ratinho.
Como é que ele pensava assim?
- Mas os amigos sim, esses contam!, terminou o ratinho.
O ouricinho que estava quase deitado na tampa da caixa, disse ainda mais uma vez:
- Que pena, que pena...
Suspirou.
Suspirou.
Ó Maria João
ResponderEliminarfartei-me de rir com estes filósofos, não com o que eles disseram, que é certo ( a exposição mediática e o querer ser perfeito, como a princesa Diana, não traz felicidade, e fragiliza), mas com as posições que eles adoptam para reflectir e conversar.
A fotografia nº9, de perna cruzada, a nº12 de pernas para o ar, mas sobretudo a nº10, com o "micro computador com malinha"...Bem...fico extasiada!
Adoro! Adoro! Estes simpáticos! Anda por aí outro amiguito...
Posso roubar aqui para o blogue a foto do micro computador!POSSO? POSSO?...
Beijinhos
Ó, Isabel! Ainda bem que gostaste. Não estava muito inspirada...mas eles "salvam" sempre a situação... Podes tirar todas as fotos que quiseres!
ResponderEliminarBom domingo e beijinhos
Há pessoas que tendo vidas complicadíssimas têm sempre uma atitude positiva, e outras que tendo quase tudo a favor não conseguem ser felizes. É um mistério, uma forma de estar na vida. Marilyn teve uma infância dolorosa, mas isso não justifica tudo, talvez o facto de ser tão sexy sempre atraísse a homens incapazes de amá-la, também não se sabe, ou talvez fosse ela que era incapaz de amar e tirar partido à vida.
ResponderEliminarÀs vezes nem as próprias pessoas se conhecem, quanto mais os outros...
Tem cuidado com o ouricinho, que tem saídas muito perspicazes, e como viveu sózinho, teve muito tempo para pensar!
Beijos
Eles "salvam" a situação, porque a Maria João os deixa.
ResponderEliminarOs seus textos são sempre inspirados.
OBRIGADA, vou já roubá-la!
Bom Domingo também. Está aqui mais um lindo dia se sol.
O ouricinho e o ratinho são mais filósofos que muitos que escrevem livros! O que eu me divirto com eles. Quanto às pessoas sensíveis, acho que sofrem sempre (de)mais...
ResponderEliminarBeijinhos
As pessoas sensíveis são...sensíveis, Luísa, sofrem... Mas as que não são sensíveis? essas têm pele de rinoceronte...não sofrem. Mas nós não queremos ser rinocerontes...
ResponderEliminarAS pessoas de sucesso -que aparentemente teriam tudo- sofrem, tens razão Maria. E vá-se lá saber por quê? estas filosofias dos meus amigos são "caseiras", mas pensadas a sério! Ou não fossem os doois filósofos! tens razão, o ouricinho está sempre a ouvir...e a pensar!Foi a solidão, coitadinho!
beijos
Gosto muito destes posts com o ratinho e com o ouricinho e este está muito especial pelo tema e pela ternura (achei o máximo o micro computador que o ouricinho arranjou)
ResponderEliminarum beijinho
Gábi