quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Os Reis Magos, a Crise e a Integridade (de alguns) e o Sofrimento de muitos...


As nuvens parecem acumular-se por cima das nossas cabeças... O que vem aí? Imagino até alguns nossos velhos conhecidos a olhar o horizonte e a investigar...


Amanhã é o Dia dos Reis Magos que acreditaram e teriam seguido uma estrela brilhante que os levou ao palheiro onde Jesus -segundo os Evangelhos-  tinha nascido.


Todos lembramos as dádivas, a homenagem àquela criança fora do vulgar, que iria escolher a pobreza, a integridade e iria escorraçar os ricos ambiciosos com os olhos fixos no lucro (onde é que eu já ouvi isto???), indiferentes ao que se passava ao lado deles. Quem o faz hoje?


Hoje quero deixar-vos um texto de Raul Brandão, da peça de teatro “O Gebo” ... E muitas interrogações para quem – como vocês - se preocupa com honestidade, dever, e com a desgraça do próximo.




Raul Brandão, um autor que nos fala do desespero, do protesto e da desilusão - aqui pela boca da jovem Sofia, personagem enternecedora  que nos emociona, na sua pureza e no seu sofrimento:

Espera...eu não posso (...), eu não sei exprimir o que sinto, mas compreendo que a vida não pode ser assim – não se pode ser pobre e desgraçado, pobre e humilhado. Neste mundo atroz, neste mundo onde não há a esperar piedade nem justiça, só os desgraçados é que têm de cumprir o seu dever.”

O velho Gebo responde:
Saber qual é o seu dever, cumpri-lo sem hesitação, isto é que se chama “a linha do dever. Às vezes o dever é amargo, o dever é duro, mas o homem só se diferencia dos bichos por cumprir o seu dever.”

E, mais um pensamento terrível, em tempos de preocupação de lucros e ganhos:

"O dever não é uma coisa que se faça para saber quanto dá...”

Pois não...


De facto, o dever não é para se ver “quanto dá”...
De facto, “não se pode ser pobre e desgraçado, pobre e humilhado.”
De facto não é justo que neste mundo “só os desgraçados é que têm de cumprir o seu dever...”
Mas, de facto, vê-se isso tudo por aqui, neste "baixo mundo", como dizia o Poeta...

Mas amanhã vêm aí os Reis Magos! Vamos acreditar como eles acreditaram, na estrela?

Raul Brandão, “O Gebo”, Edição da Renascença Portuguesa, Porto, 1928, página 94


Ilustrações:
1. Benozzo Gozzoli, A Adoração dos Magos
2. Os inconfundíveis Astérix e Obélix
3. Edouard Vuillard (o pintor que Proust amou), Menina com cachecol vermelho
4. Boltraffio, Giovanni Antonio, Madonna con bambino
5. Retrato de Raul Brandão
6. Benozzo Gozzoli, A Viagem dos Reis Magos
7. Vuillard, Interior

1 comentário:

  1. Um Belíssimo post meu doce Falcão Lunar.
    Não podemos deixar de acreditar na Estrela que nos guia.
    Beijo

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