Amanhã é o Dia dos Reis Magos que acreditaram e teriam seguido uma estrela brilhante que os levou ao palheiro onde Jesus -segundo os Evangelhos- tinha nascido.
Todos lembramos as dádivas, a homenagem àquela criança fora do vulgar, que iria escolher a pobreza, a integridade e iria escorraçar os ricos ambiciosos com os olhos fixos no lucro (onde é que eu já ouvi isto???), indiferentes ao que se passava ao lado deles. Quem o faz hoje?
Hoje quero deixar-vos um texto de Raul Brandão, da peça de teatro “O Gebo” ... E muitas interrogações para quem – como vocês - se preocupa com honestidade, dever, e com a desgraça do próximo.
Raul Brandão, um autor que nos fala do desespero, do protesto e da desilusão - aqui pela boca da jovem Sofia, personagem enternecedora que nos emociona, na sua pureza e no seu sofrimento:
“Espera...eu não posso (...), eu não sei exprimir o que sinto, mas compreendo que a vida não pode ser assim – não se pode ser pobre e desgraçado, pobre e humilhado. Neste mundo atroz, neste mundo onde não há a esperar piedade nem justiça, só os desgraçados é que têm de cumprir o seu dever.”
O velho Gebo responde:
“Saber qual é o seu dever, cumpri-lo sem hesitação, isto é que se chama “a linha do dever. Às vezes o dever é amargo, o dever é duro, mas o homem só se diferencia dos bichos por cumprir o seu dever.”
E, mais um pensamento terrível, em tempos de preocupação de lucros e ganhos:
"O dever não é uma coisa que se faça para saber quanto dá...”
Pois não...
De facto, o dever não é para se ver “quanto dá”...
De facto, o dever não é para se ver “quanto dá”...
De facto, “não se pode ser pobre e desgraçado, pobre e humilhado.”
De facto não é justo que neste mundo “só os desgraçados é que têm de cumprir o seu dever...”
Mas, de facto, vê-se isso tudo por aqui, neste "baixo mundo", como dizia o Poeta...
Mas amanhã vêm aí os Reis Magos! Vamos acreditar como eles acreditaram, na estrela?
Mas, de facto, vê-se isso tudo por aqui, neste "baixo mundo", como dizia o Poeta...
Raul Brandão, “O Gebo”, Edição da Renascença Portuguesa, Porto, 1928, página 94
Ilustrações:
1. Benozzo Gozzoli, A Adoração dos Magos
2. Os inconfundíveis Astérix e Obélix
3. Edouard Vuillard (o pintor que Proust amou), Menina com cachecol vermelho
4. Boltraffio, Giovanni Antonio, Madonna con bambino
5. Retrato de Raul Brandão
6. Benozzo Gozzoli, A Viagem dos Reis Magos
7. Vuillard, Interior
3. Edouard Vuillard (o pintor que Proust amou), Menina com cachecol vermelho
4. Boltraffio, Giovanni Antonio, Madonna con bambino
5. Retrato de Raul Brandão
6. Benozzo Gozzoli, A Viagem dos Reis Magos
7. Vuillard, Interior
Um Belíssimo post meu doce Falcão Lunar.
ResponderEliminarNão podemos deixar de acreditar na Estrela que nos guia.
Beijo