sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Viver a vida! Cantava Edith Piaf "Non, je ne regrette rien" (1961) e tinha razão...



VAMOS VIVER!

"Non, rien de rien...
Non, je ne regrette rien.
Ni le bien qu’on m’a fait
Ni le mal. Tout ça m’est bien égal…
C’est passé, oublié, balayé...
Je me fous du passé!”

Não  me arrependo de nada, dizia ela, nem do bem que me fizeram nem do mal –tudo me é indiferente. Passou, esqueceu, foi varrido e não quero saber do passado!

Pois é.
A vida dela foi superiormente dolorosa, dura, feliz e infeliz. O que foi, o que fez, o que  viveu, o que recusou.
Foi o mal que nos fizeram ou nós fizemos... E que importa? Recomecemos do zero!

MAS atenção!...

Há dias li no jornal The Guardian uma entrevista que me impressionou. O título era já de si significativo:  “Don’t regret, live!”

A entrevistada era uma enfermeira, Bronnie Ware, sobre o livro que escrevera The Top five Regrets of The Dying.
 Durante anos e anos tinha ajudado doentes nos cuidados paliativos, doentes em fim de vida, de três semanas até doze mesmo no limite da morte.

Primeiro criou um blog para poder falar da sua experiência. Profundamente impressionada com tudo o que ouvira, decidiu escrever esse livro.

E  não posso deixar de pensar no que me contou a minha amiga M., médica, que assiste doentes terminais no Hospital Pulido Valente.

Vejo os olhos dela perdidos no céu detrás das vidraças panorâmicas de um outro Hospital. Ouço a sua voz.

- Não imaginas o que é... O que eles esperam de ti. A impossibilidade que têm de aceitar o fim. A confiança que têm em nós. Em mim... E isso é um peso com o qual custa a viver. Porque nós não podemos nada. Eles vão morrer.
-  És só uma companhia...
- Sim, acompanho-os. No desespero. Os olhos deles, quando espreito pela porta, a chamarem-me. Eu a ter a presciência do desenlace próximo, sorria-lhes. A necessidade de “verem” os eu médico, de lhe tocarem na mão, falarem. O que eles gostam de uma festinha na testa, nas mãos.

E continuou, comovida:

 “Precisam de sentir a ternura que não tiveram, ou não souberam pedir. Talvez o último contacto com a vida seja a nossa mão.  Eu estou viva, eu vou continuar viva e eles sabem que já estão mortos e o mundo dos vivos não é deles. Não podem voltar para trás... É como os jovens suicidas que aparecem, arrependidos, quando já nada há a fazer e os órgãos estão irremediavelmente destruídos...”

Também Bronnie Ware revela o que, nesses momentos  finais, lhe disseram algumas pessoas. E reparou que havia cinco coisas de que se arrependiam sobretudo.

1. "Quem me dera ter tido a coragem de viver a minha vida real e não aquela vida que os outros me impuseram.”

2.  “ Queria ter revelado mais vezes os meus sentimentos.”

3. “ Gostava de ter dedicado mais tempo aos meus amigos".

4. “Trabalhei de mais."

5. “Quem me dera ter podido ser mais feliz.”

Sim. Arrependidos.

"Para que ouvi os outros? Devia ser eu a decidir... Onde estão os sonhos que sonhei? Por que não procurei os meus amigos de tantos anos e só me lembro deles agora que vou morrer? Feliz? Como? Por que odiei? Para quê os ressentimentos, as invejas – abafando dentro de nós os sentimentos puros- ou os egoísmos que só levam a vidas medíocres?  Trabalhar tantas horas para quê? Perdi  tempo, perdi tudo, não vi os meus filhos crescer...", lamentavam-se.

Ainda estamos a tempo! O melhor é vivermos, conforme o nosso sentimento, verdade e necessidade! Com os sentimentos. Cantar, gritar, chamar os outros!
"Estou aqui! Preciso de vocês!"
E sem esquecer o nosso sonho...
Deixo-vos a pensar nisto...

9 comentários:

  1. Uma realidade que nos perturba e inquieta. Capaz mesmo de nos tirar o sono... VIVER!
    E, não digo mais nada...
    Beijinhos

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    1. É isso: viver o dia a dia, procurar "viver" e não apenas "vegetar"...

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  2. Muito bonito este post.
    E deixa-nos a pensar.
    Talvez pela idade, talvez porque também já vi algum sofrimento em pessoas que me são próximas...tento cada vez mais viver para um dia não sentir esses cinco arrependimentos. Mas há coisas que às vezes não são fáceis...ou não dependem só de nós.
    Acredito profundamente que os sentimentos negativos só nos fazem mal a nós. Ódio, rancor, inveja...só nos fazem mal. Fujo deles.

    Um beijinho muito grande e um fim-de-semana cheio de alegria.
    Admiro-a

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    1. Não são fáceis, não dependem de nós tantas coisas horríveis, eu sei. Mas importa "escolher" naquilo que depende de nós e que nos podem envenenar a vida!
      Gostaste dos ursinhos? São amorosos...

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  3. MJ,
    O que dizer?
    Tudo foi exposto de forma mais contundente e bela.
    Um sorriso é só o que consigo manifestar neste momento.
    Beijinhos gratos!:)

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  4. Adorei os ursinhos!
    Um beijinho e bom sábado

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  5. Deixamos aqui "PACIENTES TERMINAIS E QUEM FICA". vOCÊ ACABOU DE DESCREVER UMA REALIDADE IMENSA.

    Viver a vida...todo o resto é passageiro.

    bjs grandes

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  6. E fiquei a pensar nisto.
    Como em muitos outros textos, gosto de passar por aqui, para aprender, ou me enternecer com o ratinho e o ouricinho, ou para ficar a pensar no que li, como agora.
    um beijinho
    Gábi

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