terça-feira, 9 de outubro de 2012

DANIEL COHN-BENDIT E OS "ROMS": UMA QUESTÃO CULTURAL E DE JUSTIÇA...


O tempo da justiça...

Há uns tempos li um artigo no Nouvel Observateur que me encheu as medidas.

Daniel Cohn-Bendit aconselhava Manuel  Valls - o novo Ministro francês do Interior-, pessoa séria, dura e justa, imigrante que veio da Catalunha, da sua Barcelona natal, criança,  e se integrou perfeitamente em França.


Barcelona, Basilica de la Mercè


Aconselhava-o ele a  ouvir –no que diz respeito às medidas a tomar com os Roms (ciganos, gitanos, tziganes, gypsies e etc) a “valsar” com a música de Django.

Artigo inteligente, educado, respeituoso, em que Cohn-Bendit – judeu, cuja família fugiu aos massacres nazis e foi viver para o Sul de França, na Ocitânia, em Montauban - terra de sol e de ciganos.


Montauban, na margem do rio Tar

Daniel Conh-Bendit, Paris, Maio de 68

Ele homem livre, “verde” e um dos “actores/autores” do Mai 68 francês defende as origens e a cultura tzigane.

Dançar ao som do jazz de Django...Achei bem!

Django Reinhardt, fotografia de Gottlieb

Escreve Cohn-Bendit:

“Ao som de Django Reinhardt, filho de “manouches” que se tornou um dos pais do "jazz" e que durante anos instalou a sua roulotte nos quartiers de Paris.


Django Reinhardt, desenho de Jean Cocteau




Nesse tempo –continua ele- os Roms participavam plenamente do desenvolvimento cultural europeu e eram vistos como os vectores de uma certa sociabilidade, pois a Boémia e os Circos vinham ao encontro dos bairros populares e até das regiões mais recuadas. 

Blog Cozinha dos vurdóns

O que não os impedia de serem, já, estigmatizados.

Os Estados-Nações nunca amaram as populações nómadas. Especialmente os regimes autoritários ou dictatoriais, da Alemanha à China contemporânea.

crianças ciganas em bidonvilles

Blog Cozinha dos Vurdóns

(...) Mas verifica-se também nas democracias. É certo que as populações que se recusam a se enraizarem num território definido não são fáceis de controlar. São até certo ponto um desafio aos valores de autoridade e propriedade. E por isso esse povo indispõem muita  gente, mesmo quando se sedentarizam e continuam a sofrer as consequências de séculos de ostracismo...”

E de incompreensão. 

As tribos nómadas foram sempre vistas com maus olhos pelos sedentários. Chegavam, partiam, traziam, levavam e os outros que sempre estavam por ali parados “desconfiavam” dessa liberdade absoluta. Que invejavam com certeza...


O jovem guitarrista cigano Antoine Boyer

E que continuaram, malgré tout, a afirmar-se, a tocar a sua música, a criar festivais de música "manouche", a comer as suas comidas dos vurdóns e a pôr em questão todos os lugares-comuns que sobre eles se escreveram e se escrevem ainda hoje.
roulotte no Facebook de Pierre Le Fur



Apenas necessitam de "possibilidades", de apoio e de educação.

Se querem saber mais, leiam o blog "Cozinha dos Vurdóns" criado por  mulheres ciganas brasileiras (que tive a sorte de conhecer) que, nas suas actividades de professoras de dança, homeopatas, arquitectas, professoras, ou apenas cozinheiras, não esquecem nunca as raízes...

Na sua "cozinha" falam todos os dias de inclusão/exclusão, diferença, racismo/anti-racismo e se oferecem todos os dias - para ajudar! E criam debates, propõem soluções...

Blog que, aplicadamente leio - para estar a par das dificuldades imensas e das lutas que se ganham, pedra a pedra, passo a passo.

Muito obrigada, Cohn-Bendit! É bom ouvir pessoas inteligentes a falar com lucidez e humanidade dos assuntos.

Até é um modo de dar apoio, aconselhando-o,  a Valls, com certeza um político sério que “herdou” uma série de problemas e decisões criticáveis do governo anterior...
Manuel Valls

A sua justificação, para o fecho de certos acampamentos ilegais, é compreensível e talvez justa: "Como permitir estes bidonvilles urbanos e insalubres?!”, indigna-se ele.

Dou-lhe toda a razão! De facto, como é possível?
Mas tem de encontrar outra solução “válida”... E não pode perder tempo.

 O futuro “julga-nos” todos os dias...

Para terminar deixo um poema de Pedro Homem de Mello, de que gostei muito: 

Ciganos


"A vossa vida não pertence ao rei

Não mutilastes estradas verdadeiras
Quem ama a liberdade odeia a lei
Que deu à terra a foice das fronteiras!
E, enquanto o aroma e a brisa e até as almas
Ficam irmãs de pérolas roubadas,
As mãos dos homens que vos  são negadas
Tremem quando passais. Mas batem palmas.”

Pedro Homem de Mello, (“Miserere”, 1ª ed. 1948), in Poesias Escolhidas, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, Lisboa, 1983



4 comentários:

  1. Viu? só amigos de verdade podem e fazem a onda crescer. Só vocês, minha amiga e meu querido escritor, são capazes de enxergar o simples, e sabe porque? Porque amam.

    amo vocês, amamos vocês
    é sempre bom ver estampado nos blogs, pensamentos de ajuda e lucidez.

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    1. Queridas, vocês trouxeram-nos uma mensagem que nós "adivinhávamos", mas só assim, na vossa conversa, se tornou clara!
      E a a onda continua!
      beijinhos

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  2. Tenho andado numa corrida (mas ontem também fui ao cinema!) e nem tenho vindo aqui as vezes que gosto. Faz-me falta.
    Vim aqui dar uma espreitadela e gostei muito dest post.
    Um beijinho grande para si e outro para as amigas da Cozinha.

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  3. No blog Cozinha das Vurdóns há inteligência, madurez, sensibilidade e espírito combativo. Quando todos os ciganos se pareçam a essas mulheres maravilhosas não precisarão que ninguém os defenda, saberão fazê-lo eles próprios.
    São lindos os versos.
    Beijinhos

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