O que dizer? É uma emoção enorme e difícil de
analisar: entre curiosidade e nostalgia, entre o medo de não encontrar o
que se viveu e agora parece só um sonho?
A angústia de não encontrar os
velhos sítios amados e as pessoas que os
enchiam com a sua magia: a da amizade, da compreensão e do saber viver “romano”? Saber que não somos os mesmos e que os anos correram sobre nós?
No táxi que nos levava de Fiumicino à Via della Chiesa Nuova
onde íamos ficar a convite de uma grande amiga (romana), o medo vai-se
desvanecendo.
"Roma é Roma!", pensava eu. Não podia mudar...
Fiumicino, à chegada
Os meus amigos romanos acrescentariam que estava: “uguale-identica ... punto e basta!”
E tinham razão, é assim mesmo Roma: imutável na sua
mutabilidade constante e na assimilação de tudo o que a invade.
O “tassinaro”, siciliano domiciliado em Roma desde a
infância, é completamente "romano" e vai filosofando sobre a vida, num tom entre o
divertido e o cínico, à procura do efeito teatral –próprio de todo o romano que
se preza.
- Ah!, dizia ele, o momento que se vive é o que conta! A vida
é breve e é só uma, não voltamos cá outra vez. É uma oportunidade que não se
repete nunca mais.
E vai falando, falando e lembra-me a célebre sentença da ode horaciana:
“Carpe Diem, quam minimum credula postero...”
("Não queiras saber o que os deuses te reservam (não podemos) a
ti, a mim. (...) Enquanto falas, o tempo, invejoso, já passou (fugerit
invida aetas...): aproveita o dia de hoje, sem grande fé no que há-de vir
amanhã...”)
- O momento da chegada, do aeroporto, ficou para trás e não
volta...
O táxi corre e olho em volta, à procura de indícios, de pontos de referência. Perco-me em meditações... Com
elas, chegam as lembranças escondidas bem lá no fundo da alma.
A paisagem corre e eu descubro na minha imaginação o que quisera esquecer:
nós, os miúdos, os “Orti della Sibilla” – onde ficava a nossa casa da Via Cassia,
o Zac acabadinho de chegar da Giustiniana onde o Diogo o encontrara
abandonado, de pelo todo espetado e olhos cheios de doçura...
Os pinhais da EUR, a interminável avenida Cristoforo Colombo e, depressa, os Fori
Romani, a Basílica de Masenzio onde se faziam os concertos e se ouvia ópera, no Verão e até havia cinema!
A seguir (ou antes?), a Porta de Tito, tudo corre à minha
frente, sem tempo de fixar na memória.
De repente, a Piazza Venezia e o monumento a Vittorio Emanuele II.
Rio-me, claro, a pensar nos inúmeros nomes que lhe ouvi chamar: “máquina de
escrever”, “bolo de noiva”, etc...
imagem retirada da internet
rua de Roma
Via del Governo Vecchio, ao entardecer
pormenor da Via del Governo Vecchio
Lá ao fundo deve estar o rio, e o seu passeio à beira-rio, o Lungotevere, com os plátanos e olmos de folhas douradas, na bela tarde outonal.
Sim, o Outono e Roma e os dias de sol de Outubro, as célebres “ottobrate
romane”.
O táxi gira na Piazza
della Chiesa Nuova. Chegámos...
Ali muito perto está a Via del Governo Vecchio, a Via del Corallo,
a Piazza del Fico, a Via della Pace com a sua igreja, e,
andando andando, encontrarei a Piazza Navona...
Via del Governo Vecchio
Piazza Santa Maria della Pace, imagem retirada da internet
Mas, para já, espera-me a tarefa de desfazer as malas – as odiadas
malas, a coisa mais horrível das viagens!
Voltarei em breve, para contar
mais coisas!
(*) Horácio -Quintus Horatius Flaccus- nasceu em Venusia, na Apúlia, em 65 ªC, e morreu 8 anos antes de Cristo nascer.
Emocionei-me com esta sua descrição do regresso a "outra pátria".
ResponderEliminarAdorei ver o Ratinho e o Ouricinho perfeitamente deslumbrados.
As fotos são lindas!
Um beijinho
Emocionante, como escreveu a Isabel...
ResponderEliminarQuantas recordações e emoções em catadupa!!
Será que era mesmo verdade, que não se tratava de um sonho?!
Não, estava mesmo em Roma!!
Agora somos nós (os leitores), quem viaja...
Um beijinho grande.