Gosto de o lembrar quando um novo Prémio Nobel foi escolhido no passado dia 11.
Ilha de Utoya
Queixa-se o escritor da preocupação que têm hoje certos políticos
e alguns falsos filósofos com o “multiculturalismo”. Que pode levar à confusão de valores e que, para ele, essa questão é já
caduca.
Há, sim, um "interculturalismo" uma vez que não há "culturas" superiores e inferiores: há, apenas, "culturas". Bem gostaria de o ouvir Claude Lévi-Strauss que sempre defendeu essa teoria...
Edward Hopper
Indonésia
Há, sim, um "interculturalismo" uma vez que não há "culturas" superiores e inferiores: há, apenas, "culturas". Bem gostaria de o ouvir Claude Lévi-Strauss que sempre defendeu essa teoria...
Museu do "Quai de Branly", alfinete dos indios Bororo (Brasil)-colecção Lévi-Strauss
“Vivemos num mundo de encontros, de misturas, de
interrogações. As misturas, o e os fluxos migratórios existiram desde sempre,
estão mesmo na origem da raça humana (a única raça). O "multiculturalismo" cultural - tal como hoje se fala- já não é suficiente.
Fabrica “ghettos”, isola
culturas e favoriza os radicalismos. A única esperança que nos resta não é a
nostalgia de não se percebe bem que pureza original – completamente ilusória se
pensarmos na mestiçagem que criou a França ou a Noruega (acrescento eu: e o
resto da Europa...) - mas sim na abertura para o inter-cultural.
A literatura é
um dos meios desta troca e é um caldeirão onde se fundem as correntes que vêm dos quatro cantos da história. Sonhar com uma identidade nacional fixa é um engano. No encontro das culturas e das civilizações cada achega tem a sua
importância e não podemos pedir a ninguém que renuncie à mais ínfima parte da
sua herança."
Tuareg, Argélia
Os que largam a sua terra, seja ela qual for, e partem - venham eles de onde vierem, procuram sempre um mundo onde possam viver melhor. Uma realidade (utópica?) que os defenda da fome, da miséria, da falta de liberdade, das condições de trabalho, da "ausência" de trabalho!
concerto em Paris, dos "Homens azuis"
A raça é a "raça humana", a única raça - dos "nómadas da vida" que somos todos nós, em busca do absoluto seja ele qual for, com os olhos a brilhar...
Como ele escreve, no livro "Deserto" (Dom Quixote, 2010):
“Levavam com eles a
fome, a sede, que faz sangrar os lábios, o silêncio onde luze o sol, as noites
frias, o clarão da Via Láctea, a Lua: com eles viajava a sua sombra gigante ao
pôr-do-sol, acompanhavam-nos as ondas de areia virgem, tocadas pelos dedos,
afastadas dos seus pés. Tinham sobretudo a luz do olhar (...)”
Latcho Drom, filme do cigano Tony Gatliff
brinco dos Índios Tupi, colecção Lévi-Strauss
Roda cigana
Tem toda a razão Le Clézio. E não devemos cansar de o repetir!
sem perdão...
A saber: o assassino "nazi" que, no ano passado em Julho, assassinou 72 pessoas - perseguindo a tiro e matando um grupo de jovens, ligados ao Partido Trabalhista da Noruega - que se tinham reunido em Utoya parta falar de “imigração” e de integração.
Isto, depois de ter feito explodir um carro, frente ao Gabinete do Primeiro Ministro norueguês, socialista.
Para Le Clézio, elogiar o "estilo" de um assassino é um exercício mental lúgubre.
É-o, é evidente!
http://livres.krinein.com/biographie-j-m-g-clezio-15966.html
Simberg
Sim, lúgubre e aberrante!É-o, é evidente!
http://livres.krinein.com/biographie-j-m-g-clezio-15966.html
Também tenho vindo a acompanhar o assunto no "Obs.", com particular atenção. E gostei muito do artigo de Le Clézio, um intelectual "à antiga" - interventivo. Coisa que, por cá (Portugal), é uma espécie de lince ibérico...
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